Amamentação no ambiente prisional: A experiência de detentas em penitenciárias do Estado de São Paulo
Breastfeeding in prison environment: The experience of inmates in penitentiaries in the state of São Paulo

Publication year: 2016
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Doutor. Leader: Silva, Isilia Aparecida

Este estudo buscou compreender a experiência e os significados da amamentação para mães que amamentam seus filhos durante o cumprimento de pena. A pesquisa foi realizada em seis penitenciárias femininas do estado de São Paulo, de Fevereiro de 2014 à Maio de 2016.

Objetivos:

Caracterizar a prática de aleitamento materno realizada por mulheres reclusas em estabelecimentos prisionais femininos; Compreender o significado consciente da experiência de amamentar atribuído por mulheres privadas de liberdade e Compreender como os significados atribuídos pelas mulheres presas se manifestam nas ações em relação ao seu processo de amamentar.

Metodologia:

Essa pesquisa adotou o Interacionismo Simbólico e o modelo "Pesando Riscos e Benefícios" como referenciais teóricos e a Teoria Fundamentada nos Dados como referencial metodológico. Primeiramente, para o alcance do primeiro objetivo, foram entrevistadas 85 mulheres, sendo que dessas, 30 participaram da fase de obtenção de dados qualitativos.

Resultados:

As mulheres tinham entre 18 e 38 anos, a maioria era solteira (48,2%) e 82,3% com mais de um filho. As 82 (100%) crianças que conviviam com suas mães nas penitenciárias tinham entre 0 e 11 meses; 41( 50%) estavam entre 0 e 3 meses e entre essas, 65,9% estavam em aleitamento materno exclusivo; 28 (34,1%) crianças tinham entre três e seis meses de idade, sendo que 10 (35,7%) eram amamentadas exclusivamente. O uso de chupeta foi observado em 39 (47,5%) crianças.

Dos dados qualitativos foram identificados três temas:

BUSCANDO A REMISSÃO PELA MATERNIDADE, VIVENDO MAIS UMA CONDENAÇÃO e RECONHECENDO QUE HOUVE PERDAS, MAS QUE VALEU A PENA, os quais revelaram que, no conjunto das interações dessa mulher, no contexto prisional, a amamentação desempenha um papel relevante no desenvolvimento do vínculo entre mãe e filho e na promoção do bem estar materno. A nutriz encontra, nessa prática, uma fonte de proteção emocional. Nessa perspectiva, a sua vida deixa de ter a condição penal como foco da existência, projetando na criança o centro de suas atenções e nessa interação, a fonte de uma experiência plena e prazerosa, que possibilita mudanças de visão de mundo. Compreendeu-se que, para a mãe presa, a visão de que o cárcere é um lugar seguro, onde ela pode conviver e cuidar do filho perde-se por completo com a certeza da separação de seu filho. Nesse processo, a mãe vivencia a experiência de construção de vínculo com o seu filho, tendo como horizonte, uma futura ruptura, a certeza da separação que virá com o cumprimento do limite de permanência da criança no presídio. Os resultados desta investigação, fornecem subsídios aos profissionais do sistema penitenciário, para a necessária revisão ou construção de medidas e ambientes com fundamentos, sociais, jurídicos, que promovam não só a oportunidade de guarda do filho da presa, mas a continuidade de vínculos sociais familiares e segurança do exercício da maternidade, intra e extra muros prisional, incrementando as ações de acolhimento sensível, que permita às mulheres presas encontrarem caminhos para também reconstruir as relações com seus meios sociais.
This study aimed to understand the experience and meaning of breastfeeding for mothers who breastfed their children, while serving a custodial sentence. The study was conducted in six female penitentiaries in the state of São Paulo, between February 2014 and May 2016.

Objectives:

To describe the breastfeeding practices of female prisoners; To understand the meaning that breastfeeding had for women deprived of their freedom and to understand how it influenced their behavior.

Methodology:

This study adopted Symbolic Interactionism and the model "Risks and Benefits" as the theoretical underpinnings of the study and Grounded Theory as the methodological framework. To achieve the first objective, we collected quantitative data from 85 women, and of these, 30 participated in the second phase of the study to achieve the other objectives.

Results:

The women were between 18 and 38 years of age, most were single (48.2%) and 82.3% had more than one child. The 82 (100%) infants living with their mothers in prison were between 1 day and 11 months; 41 (50%) were between one day and 3 months and of these, 65.9% were breastfeeding exclusively; 28 (34.1%) infants were between three and six months, and 10 (35.7%) were exclusively breastfed. Pacifiers were used by 39 (47.5%) of the infants.

Three themes were identified in the qualitative data:

SEEKING REFUGE THROUGH MOTHERHOOD, SERVING TWO CONCURRENT SENTENCES and COMPROMISED BUT SATISFYING MOTHERING. For woman in the prison context, breastfeeding played a very important role in the development of the bond between mothers and infants and promoted the welfare of the woman. Breastfeeding was a source of emotional protection. From this perspective, the mothers´ lives ceased to have a criminal status as its focus, because the infant became the center of their attention. For them, this interaction became a fulfilling and enjoyable experience that enabled them to change their whole outlook on life to one of positivity. The ultimate separation from their infants made women change their view of prison as not a safe place to live and care for the infant. Their experience of bonding with the infant enabled women to realize that they had a positive future. The results of this study have the potential to be used to inform and ultimately change public policy in relation to how these women are dealt within the penitentiary system. It can increase the sensitivity of health care professions working within the penitentiary system to become much more sensitive to the needs of mothers and their infants thus enabling women to re-evaluate their lives, increase hope for a better future and change direction. The findings strongly support the idea of treating women with dignity and respect in the knowledge that this gives them hope and is the basis for changing their lives for the better.

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