Processos de subjetivação e participação social de mulheres-enfermeiras: implicações para o cuidado de enfermagem
Subjectivation processes and social participation of women nurses: implications for nursing care

Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais to obtain the academic title of Doutor. Leader: Silva, Kênia Lara

Adoto como objeto de estudo a subjetivação de mulheres-enfermeiras envolvidas em movimentos sociais e as implicações para o cuidado e profissão de Enfermagem. Tal escolha se dá diante do contexto de desigualdades de gênero na sociedade e na profissão. Buscosustentação em referenciais que embasam entendimentos acerca da importância dos movimentos de mulheres na redução das desigualdades de gênero e como impulsionadores da (re)existência de corpos e vidas mais críticas e criativas e referenciais do cuidado de Enfermagem, em uma perspectiva política e social. Defendo a tese de que os movimentos sociais se caracterizam como dispositivos para mulheres-enfermeiras, de modo que tanto potencializam modos de subjetivação, são disparadores de técnicas e práticas de si, como podem ser capturados por jogos de verdade, locais de disciplinamento, travestidos de práticas de liberdade. Em consequência, a participação em movimentos sociais tem implicações na produção do cuidado de Enfermagem, uma extensão do ser, no modo saber-fazer.

Adoto as seguintes questões norteadoras:

Como ocorre a participação de enfermeiras nos movimentos sociais de mulheres e movimentos feministas? Como se conforma a subjetivação delas nesses espaços? Quais implicações para o cuidado são produzidas nessa/ por essa participação? O objetivo do estudo foi analisar os modos de subjetivação de mulheres-enfermeiras envolvidas em movimentos sociais de mulheres e feministas e as implicações para o cuidado de Enfermagem. Trata-se de pesquisa-interferência, de abordagem qualitativa, ancorada na perspectiva pós-estruturalista e com enfoque narrativo. Na caixa de ferramentas foram incluídos referenciais e instrumentos de observação-participante e de entrevistas narrativas.

A produção dos dados foi orientada por dois momentos interligados:

Mapeamento da participação e envolvimento de enfermeiras em movimentos sociais de mulheres, coletivos femininos e espaços de participação social; e Analítica da subjetivação de mulheres-enfermeiras envolvidas com o ativismo político e social e implicações para o cuidado de Enfermagem. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e todas as etapas estão em consonância com os princípios éticos que envolvem pesquisas com seres humanos. O conjunto de dados obtidos resulta da observação de 17 eventos ocorridos na Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG e seis entrevistas narrativas com enfermeiras inseridas em movimentos sociais e com representação política, no período de novembro de 2018 a abril de 2021. Os textos de campo foram convertidos em três cenas vividas e (re)criadas de encontro com mulheres nos movimentos sociais, sobre o ponto de vista do cuidado de Enfermagem. As entrevistas foram submetidas à analítica do discurso, tendo como base conceitual Michel Foucault, sendo apresentadas em dois modos: narrativa coletiva em formato de História em Quadrinhos; e uma perspectiva transversal de análise dos discursos em trechos.

Os resultados são discutidos em três categorias:

Contextos e enredos dos encontros; Ser mulher-enfermeira e o envolvimento em movimentos sociais; e O envolvimento sociopolítico e o saber-fazer-cuidado de mulheres-enfermeiras.

Os dados produzidos confirmam a tese de doutorado:

os movimentos sociais de mulheres se apresentam como dispositivos de subjetivação e, em uma balança provisória entre discursos permanentes e emergentes, se destaca o potencial destes últimos para acionar e afetar corpos, politizar e criar vínculos e redes e acionar e desenvolver saberes sociopolíticos-emancipatórios com implicações na produção do cuidado de Enfermagem. Evidenciou-se a necessidade de promover mudanças na forma de cuidado comumente ofertada. O estudo contribui para aproximações com a temática da participação social e feminismo em saúde, com possíveis retornos em termos de redução das desigualdades de gênero na vida de cada uma, na profissão e para a sociedade. Novas perguntas e reflexões são disparadas no sentido de continuidade da evolução na relação entre feminismo e enfermagem, passagem ainda que gradual de um estado de estranhamento para inclusão nos currículos, fazeres cotidianos e lógicas de pensamento.
I adopt as object of study the subjectivation of women-nurses involved in social movements and the implications for care and the nursing profession. Such choice is given the context of gender inequalities in society and in the profession. I seek support in references that support understandings about the importance of women's movements in reducing gender inequalities and as drivers of the (re)existence of more critical and creative bodies and lives and references of Nursing care, from a political and social perspective. I defend the thesis that social movements are characterized as devices for women-nurses, in such a way that they both potentiate modes of subjectivation, are triggers of techniques and practices of the self, and may also be captured by games of truth, places of disciplining, disguised as practices of freedom. Consequently, the participation in social movements has implications in the production of Nursing care, an extension of being, in the way of knowing how to do.

I adopted the following guiding questions:

How does the participation of nurses in social movements of women and feminist movements occur? How is their subjectivation shaped in these spaces? What implications for care are produced in/by this participation? The objective of the study was to analyze the modes of subjectivation of women-nurses involved in women's social and feminist movements and the implications for Nursing care. This is a qualitative interference research, anchored in the post-structuralist perspective and with a narrative approach. The toolbox included references and instruments of participant observation and narrative interviews.

Data production was guided by two interconnected moments:

Mapping of the participation and involvement of nurses in women's social movements, women's collectives and spaces for social participation; and Analytic of the subjectivation of women-nurses involved in political and social activism and implications for Nursing care. The project was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Minas Gerais and all steps are in line with the ethical principles involving research with human beings. The data set obtained results from the observation of 17 events that occurred in the Metropolitan Region of Belo Horizonte-MG and six narrative interviews with nurses inserted in social movements and with political representation, in the period from November 2018 to April 2021. The field texts were converted into three scenes experienced and (re)created of encounters with women in social movements, from the point of view of Nursing care. The interviews were submitted to discourse analytics, having Michel Foucault as conceptual base, being presented in two modes: collective narrative in Comic Book format; and a transversal perspective of discourse analysis in excerpts.

The findings are discussed in three categories:

Contexts and storylines of the encounters; Being a woman-nurse and the involvement in social movements; and The sociopolitical involvement and the know-how care of women nurses.

The data producedconfirm the doctoral thesis:

women's social movements present themselves as subjectivation devices and, in a provisional balance between permanent and emerging discourses, the potential of the latter to trigger and affect bodies, politicize and create bonds and networks and trigger and develop sociopolitical emancipatory knowledge with implications for the production of nursing care stands out. The need to promote changes in the form of care commonly offered was evident. The study contributes to approximations with the theme of social participation and feminism in health, with possible returns in terms of reducing gender inequalities in the life of each one, in the profession, and for society. New questions and reflections are triggered in the sense of continuing the evolution of the relationship between feminism and nursing, even if gradually moving from a state of estrangement to inclusion in the curricula, daily actions and logic of thought.

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