Avalição dos fatores de risco para delirium em pacientes críticos com câncer: uma análise retrospectiva
Assessment of risk factors for delirium in critically ill cancer patients

Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Antônio Prudente to obtain the academic title of Doutor. Leader: Caruso, Pedro

Delirium é uma complexa desordem neurocognitiva caracterizada pela diminuição da atenção, consciência, compromisso visual-espacial e função executiva, podendo afetar a memória, a cognição, a linguagem, orientação e percepção. Em unidades de cuidados intensivos o delirium tem uma incidência que pode variar entre 5% a 92% e sua incidência está associada ao aumento do tempo de internação e aumento da mortalidade. Em pacientes com câncer, essa incidência pode chegar a 80% em estágios mais avançados da doença. No entanto, é frequentemente subnotificado e não reconhecido da mesma forma que outras disfunções de órgãos (GOUVEIA et al., 2019; NEEFJES et al., 2019). Tratou-se de um estudo retrospectivo observacional baseado em registros de prontuários de pacientes internados com câncer em unidade de terapia intensiva do A.C. Camargo Cancer Center com o objetivo de avaliar os fatores de risco para delirium em pacientes críticos com câncer. O estudo teve como base os dados das unidades de terapia intensiva do A. C. Camargo Cancer Center de pacientes que deram entrada na UTI de 2009 até 2019. Para encontrar a capacidade de classificar delirium e não delirium, utilizamos testes de sensibilidade e especificidade para diferentes valores do SAPS 3, idade e dias de internação construindo-se curva ROC. Para avaliar a associação entre variáveis qualitativas, foi utilizado o teste quiquadrado ou o teste exato de Fisher. Foram realizadas análises de regressão logística simples, para avaliação dos valores prognósticos de cada variável para delirium e regressão logística múltipla para predição da razão de chances dos fatores de risco para delirium. A amostra contou com 19.599 admissões após análises dos critérios de inclusão e exclusão. A incidência de delirium foi de 15% nessa amostra de pacientes críticos com câncer. A ocorrência de delirium foi associada a maior tempo de permanência (8,6 vs 2,7; p<0,01) e mortalidade na UTI. Idade superior a 64 anos, internação não planejada, usuário do sistema único de saúde (SUS), internação em UTI aberta com múltiplos leitos, presença de tumor hematológico ou sólido metastático, infecção, sepse e maior gravidade clínica (SPAS3) na internação na UTI foram associados a maior incidência de delirium. Durante a permanência na UTI, internações superiores a quatro dias, uso de sedativos (benzopiazepínicos ou não), analgésicos (opioides ou não opioides), porcentagem de dias em uso de ventilação mecânica e drogas vasoativas também foram associados a maior incidência de delirium. Considerando que o delirium tem um grande impacto nos desfechos clínicos e qualidade de vida dos pacientes, sobretudo com câncer, a identificação dos fatores de risco para delirium pode ser a forma mais eficaz de prevenir, monitorar e tratar.
Delirium is a complex neurocognitive disorder characterized by decreased attention, awareness, visual-spatial impairment and executive function, which can affect memory, cognition, language, orientation and perception. In intensive care units, delirium has an incidence that can vary between 5% and 92% and its incidence is associated with increased length of stay and increased mortality. In cancer patients, this incidence can reach 80% in more advanced stages of the disease. However, it is often underreported and unrecognized in the same way as other organ dysfunctions (GOUVEIA et al., 2019; NEEFJES et al., 2019). This was a retrospective observational study based on medical records of patients hospitalized with cancer in the intensive care unit of A.C. Camargo Cancer Center with the aim of assessing risk factors for delirium in critically ill cancer patients. The study was based on data from the intensive care units of the A. C. Camargo Cancer Center of patients admitted to the ICU from 2009 to 2019. To find the ability to classify delirium and non-delirium, we used sensitivity and specificity tests for different values of the SAPS 3, age and days of hospitalization building ROC curve. To assess the association between qualitative variables, the chi-square test or Fisher's exact test were used. Simple logistic regression analyzes were performed to assess the prognostic values of each variable for delirium and multiple logistic regression to predict the odds ratio of risk factors for delirium. The sample had 19,599 admissions after analysis of the inclusion and exclusion criteria. The incidence of delirium was 15% in this sample of critically ill cancer patients. The occurrence of delirium was associated with longer length of stay (8.6 vs 2.7; p<0.01) and ICU mortality. Age over 64 years, unplanned hospitalization, user of the unified health system (SUS), hospitalization in an open ICU with multiple beds, presence of hematological tumor or metastatic solid, infection, sepsis and greater clinical severity (SPAS3) at ICU admission were associated with a higher incidence of delirium. During ICU stay, hospitalizations longer than four days, use of sedatives (benzopiazepines or not), analgesics (opioids or non-opioids), percentage of days on mechanical ventilation and vasoactive drugs were also associated with a higher incidence of delirium. Considering that delirium has a great impact on clinical outcomes and quality of life of patients, especially with cancer, identifying risk factors for delirium may be the most effective way to prevent, monitor and treat it.

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