Influência do ambiente alimentar comunitário no entorno da residência no consumo de ultraprocessados entre escolares

Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem. Pós-Graduação em Nutrição e Saúde to obtain the academic title of Doutor. Leader: Luana Caroline dos Santos

O ambiente alimentar pode influenciar as escolhas de crianças e adolescentes com potencial impacto no consumo alimentar. No entorno residencial, o acesso e o tipo de comércio de alimentos pode ser um dos fatores associados a hábitos alimentares não saudáveis nesse público.

Objetivo:

Avaliar a associação entre o ambiente alimentar comunitário residencial e o consumo de ultraprocessados entre escolares de uma metrópole brasileira.

Métodos:

Foi conduzida uma revisão sistemática com busca de artigos publicados entre 2008 e 2018 nas bases de dados PubMed, Scopus e BVS. Adicionalmente, realizou-se um estudo transversal com estudantes (n=708) de 9 a 10 anos das escolas municipais de Belo Horizonte/MG. Informações socioeconômicas foram obtidas via telefone por meio de um questionário com os pais. Com as crianças foram aplicados dois recordatórios 24h, sendo o consumo de ultraprocessados considerado excessivo quando ≥ percentil 80 da distribuição. As medidas objetivas do ambiente comunitário foram densidade e proximidade de estabelecimentos de venda predominante de alimentos in natura ou minimamente processados (MP), de venda predominante de ultraprocessados (UP) e mistos. Adicionalmente, foi avaliado o índice de estabelecimentos de venda predominante de UP e MP. A unidade geográfica elegida foi o buffer euclidiano de 1000 metros no entorno residencial da criança.

Resultados:

Na revisão foram identificados 17 estudos sendo a maioria (94%) realizada em países desenvolvidos e publicados entre 2011 e 2018 (86%). Mais de 80% dos estudos apresentaram de duas a três falhas indicando limitada qualidade metodológica. O sistema de informação geográfica foi o método predominante para caracterizar o ambiente (94%) e quase a totalidade das publicações utilizou dados secundários do ambiente (n=16). A maior parte dos estudos (86,4%) obteve associações nulas entre o ambiente alimentar e consumo e alguns encontraram associações inversas ao esperado. Índices que avaliaram de maneira conjunta os estabelecimentos de venda de alimentos e consumo alimentar apresentaram resultados mais consistentes do que medidas isoladas. No estudo transversal, verificou-se que crianças que residiam em locais com predominância de estabelecimentos de venda de ultraprocessados apresentaram maiores chances de consumo desses alimentos (OR: 2,16; IC 95%: 1.21-3.86), principalmente entre aqueles que não estudavam integralmente (OR: 3.10; IC 95%: 1.37-7.02) e os de menor rendimento econômico (OR: 3.09; IC 95%: 1.34-7.16).

Conclusão:

Foram identificadas evidências inconsistentes entre a associação do ambiente alimentar e consumo na revisão conduzida, provavelmente pela limitada qualidade metodológica dos estudos, denotando a necessidade de avaliações mais robustas. No estudo transversal, houve maior chance de consumo de ultraprocessados entre os escolares residentes em locais com predominância de estabelecimentos de venda desses alimentos. Não estudar em tempo integral e pertencer as famílias de menor rendimento econômico aumentou a associação ambiente e consumo alimentar. Assim, são necessárias intervenções e políticas públicas para ampliar o acesso a estabelecimentos de venda de alimentos saudáveis em detrimento a locais de comércio de ultraprocessados, sobretudo em regiões mais vulneráveis, além da valorização do turno escolar estendido.
The food environment can influence the choices of children and adolescents with a potential impact on food consumption. In the residential environment, the access and type of the food outlets might be one of the factors associated with unhealthy eating habits in this public.

Objective:

To evaluate the association between the residential community food environment and the consumption of ultra-processed foods among students in a Brazilian metropolis.

Methods:

A systematic review was conducted with the search for articles published between 2008 and 2018 in the PubMed, Scopus and BVS databases. Additionally, a cross- sectional study was carried out with students (n = 708) aged 9 to 10 years from municipal schools in Belo Horizonte / MG. Socioeconomic information was obtained via telephone through a questionnaire with parents. Two 24-hour recalls were applied to the children and the consumption of ultra-processed foods was considered excessive when ≥ 80th percentile of the distribution. The objective measures of the community environment were density and proximity to food outlets that sells predominantly fresh or minimally processed (MP) food, predominantly selling ultra-processed (UP) and mixed foods. Additionally, the index of predominant UP and MP sales outlets was assessed. The geographical unit chosen was the Euclidean buffer of 1000 meters in the child's residential surroundings.

Results:

In the review, 17 studies were identified, the majority (94%) carried out in developed countries and published between 2011 and 2018 (86%). More than 80% of the studies showed two to three failures indicating limited methodological quality. The geographic information system was the predominant method to characterize the environment (94%) and almost all publications used secondary data from the environment (n = 16). Most studies (86.4%) found zero associations between the food environment and consumption and some found associations that were inverse to what was expected. Indexes that jointly assessed food outlets and food consumption showed more consistent results than isolated measures. In the cross-sectional study, it was found that children who lived in places with a predominance of ultra-processed selling establishments had a higher chance of consuming these foods (OR: 2.16; 95% CI: 1.21- 3.86), especially among those who did not study full time (OR: 3.10; 95% CI: 1.37-7.02) and those with lower economic income (OR: 3.09; 95% CI: 1.34-7.16).

Conclusion:

Inconsistent evidence was identified between the association of the food environment and consumption in the review conducted, probably due to the limited methodological quality of the studies, denoting the need for more robust assessments. In the cross-sectional study, there was a greater chance of consuming ultra-processed foods among schoolchildren living in places with a predominance of establishments selling these foods. Not studying full-time and belonging to low-income families increased the association between environment and food consumption. Thus, public policies and interventions are needed to expand access to establishments selling healthy food to the detriment of ultra-processed retail locations, especially in the most vulnerable regions, besides the appreciation of the school shift.

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