Condições de saúde e violência autorrelatadas por solicitantes de refúgio atendidos na Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro
Health conditions and self-reported violence by asylun seeker assisted at Cáritas Arquidiocesana in Rio de Janeiro
Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro to obtain the academic title of Doutor. Leader: Faerstein, Eduardo
O objetivo desta tese é analisar as condições de saúde e violências autorrelatadas por solicitantes de refúgio atendidos pela Cáritas-RJ no período de 2010 a 2017. Foi realizado um estudo transversal com dados secundários, relativos a 1.546 indivíduos que haviam preenchido os formulários de solicitação de refúgio do Comitê Nacional para Refugiados de 2010 a 2017 e que tinham respondido à entrevista social na Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro. Dados sobre características sociodemográficas, motivos da saída do país de nascimento e trajetória de viagem foram extraídos do Formulário de Solicitação de Refúgio; dados sobre as condições de saúde e violências foram extraídos dos registros da entrevista social. Foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis incluídas na análise e prevalências e seus respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%) das categorias de condições de saúde e violências. Foram estimadas odds ratio (OR) e IC95% para a ocorrência relatada de condições de saúde e violências em um modelo exploratório de regressão logística simples, de acordo com o status de refúgio, sexo, faixa etária, escolaridade, estado civil, meios de transporte, status de documentação e país de nascimento. Quase metade (44%) dos indivíduos chegaram ao Brasil em 2015 ou 2016. A população era predominantemente masculina (65%), solteira (65%), 71% tinham entre 25 e 44 anos, 77% concluíram o ensino médio ou superior e 46% preencheram o formulário de solicitação de refúgio em francês. Os países de nascimento com maior número de solicitantes de refúgio foram República Democrática do Congo (36%), Angola (17%), Colômbia (8%) e Venezuela (6%). O meio de transporte mais utilizado para chegar ao Brasil foi o aéreo (79%) e 7% eram indocumentados ou chegaram com documentos falsos ou emprestados. Um terço (33%, IC95%=30-35) da população informou que sofreu violência antes de chegar ao Brasil. O tipo mais frequente de violência foi a física (10%, IC95%=8-11) e tortura (10%, IC95%=9-12), seguida pela ameaça (7%, IC95%=6-8) e abuso psicológico (6%, IC95%=5-7). As chances de violência foram maiores na faixa etária 45-59 anos (OR=1,6, IC95=1,0-2,6), que vivem/viveram maritalmente (OR=1,8 e 2,2, IC95%=1,4-2,2 e 1,4-3,7, respectivamente), e nascidos no Paquistão (OR=46,4, IC95%=11,1-323,5), Congo (OR=40,5, IC95%=10,6-269,2), Colômbia (OR=37,1, IC95%=10,9-232,4), República Democrática do Congo (OR=28,5, IC95%=8,8-175,0) e Guiné (OR=18,5, IC95%=4,4-175,0) (Guine Bissau OR= 1,0 – referência). Na chegada ao Brasil, 41% (IC95%=38-43) dos solicitantes de refúgio relataram ter, uma ou mais condições adversas de saúde. As chances de apresentar problemas de saúde foi maior em mulheres (OR= 2,1, IC95%=1,8-2,7), com idade 45 anos (OR=1,8, IC95%=1,1-2,8), que vivem/viveram maritalmente (OR=1,8 e 2,5, IC95%=1,4-2,2 e 1,5-4,3, respectivamente), com ensino fundamental (OR=1,9, IC95%=1,4-2,6), nos indocumentados (OR=4,4, IC95%=2,8-7,1), e naquelas oriundas do Congo (OR=18,7, IC95%=6,3-63,7) e República Democrática do Congo (OR=9,5, IC95%=4,2-25,3). Foram relatadas 877 condições de saúde na população, e mais da metade informou sentir dores (52%). Os refugiados que chegam ao Brasil são uma população vulnerável que necessita de acesso aos cuidados em saúde para suprir as diversas demandas de sua saúde física e mental, advindas do processo migratório ou do país de nascimento.
The objective of this thesis is to analyze the health conditions and violence self-reported by asylum seekers assisted by Cáritas-RJ from 2010 to 2017. A cross-sectional study was carried out with secondary data, relating to 1,546 individuals who had completed the asylum application forms of the National Committee for Refugees from 2010 to 2017 and who had responded to the social interview at Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro. Data on sociodemographic characteristics, reasons for leaving the country of origin and travel trajectory were extracted from the Asylum Application Form; data on health conditions and violence were extracted from the social interview records. The absolute and relative frequencies of the variables included in the analysis and prevalence and their respective 95% confidence intervals (95%CI) of the categories of health conditions and violence were calculated. Odds ratios (OR) and 95%CI were estimated for the reported occurrence of health conditions and violence in an exploratory simple logistic regression model, according to refugee status, sex, age group, education, marital status, means of transport, documentation status and country of birth. Almost half (44%) of the individuals arrived in Brazil in 2015 or 2016. The population was predominantly male (65%), single (65%), 71% were between 25 and 44 years old, 77% had completed high school or higher, and 46% completed the asylum application form in French. The countries of origin with the highest number of asylum seekers were the Democratic Republic of Congo (36%), Angola (17%), Colombia (8%) and Venezuela (6%). The most used means of transport to arrive in Brazil was air (79%) and 7% were undocumented or arrived with false or borrowed documents. One third (33%, 95%CI=30-35) of the population reported that they had suffered violence before arriving in Brazil. The most frequent type of violence was physical (10%, 95%CI=8-11) and torture (10%,95%CI=9-12), followed by threats (7%, 95%CI=6-8) and psychological (6%, 95%CI=5-7). The chances of violence were higher in the 45-59 age group (OR=1.6, 95%CI=1.0-2.6), who lived/lived in a marital relationship (OR=1.8 and 2.2, 95%CI= 1.4-2.2 and 1.4-3.7, respectively), and those from Pakistan (OR=46.4, 95%CI=11.1-323.5), Congo (OR=40.5, 95%CI=10.6-269.2), Colombia (OR=37.1, 95%CI=10.9-232.4), Democratic Republic of Congo (OR=28.5, 95%CI=8.8 -175.0) and Guinea (OR=18.5, 95%CI=4.4-175.0) (Guinea Bissau OR= 1,0 - refereence). Upon arrival in Brazil, 41% (95%CI=38-43) of asylum seekers reported having one or more health conditions. The chances of having health problems were higher in women (OR= 2.1, 95%CI=1.8-2.7), aged 45 years (OR=1.8, 95%CI=1.1-2 .8), who live/lived together (OR=1.8 and 2.5, 95%CI=1.4-2.2 and 1.5-4.3, respectively), with elementary education (OR=1, 9, 95%CI=1.4-2.6), in the undocumented (OR=4.4, 95%CI=2.8-7.1), and in those from Congo (OR=18.7, 95%CI= 6.3-63.7) and the Democratic Republic of Congo (OR=9.5, 95%CI=4.2-25.3). 877 health conditions were reported in the population, and more than half reported feeling pain (52 %). Refugees arriving in Brazil are a vulnerable population that needs access to health care to meet the various demands of their physical and mental health, arising from the migratory process or from the country of origin.