A formação desponta-se como espaço propício para constituição da identidade profissional, porque nela são oportunizadas as condições para que o sujeito aproprie-se de produções culturais acerca do que consiste ser e agir como enfermeiro numa dada formação social. À vista disso, este estudo possui como objetivo geral analisar a construção da identidade profissional de enfermeiros pelos alunos de graduação no percurso de sua formação. Como objetivos específicos, propõe-se analisar: os elementos do contexto socio-histórico que influenciam na construção da identidade profissional de enfermeiro, pelo aluno em formação; os elementos da formação inicial que participam da construção da identidade profissional; a participação do professor enfermeiro na construção da identidade profissional pelo aluno de graduação em enfermagem. Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa, analítica, fundamentada nos pressupostos do referencial histórico-cultural, com 23 participantes, acadêmicos vinculados ao oitavo e ao nono períodos de um curso de graduação em enfermagem, modalidade bacharelado. Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais orientadas por roteiro semi-estruturado, gravadas em áudio e transcritas em editor de texto. Para organização e análise dos dados, utilizou-se a Análise Temática.

O trabalho interpretativo resultou em quatro temas:

"O sujeito em movimento de tornar-se enfermeiro: das experiências prévias ao ingresso no curso"; "O professor enfermeiro na construção da identidade profissional do graduando: dois sentidos do mesmo espelho", com os subtemas "Professor: espelho do enfermeiro que se quer ser" e "Professor: espelho do enfermeiro que não se quer ser"; "Relação pedagógica: instrumento para construção da identidade profissional do aluno", com dois subtemas, "Relações que levam ao reconhecimento do professor como modelo" e "Relações que levam ao sofrimento e à crise"; "Condições histórico-culturais: espaço de construção da identidade profissional do aluno" com os subtemas: "Condições do exercício profissional da enfermagem" e "Condições da formação superior em enfermagem". A construção da identidade profissional dos alunos parece percorrer um caminho que traduz a apropriação para o âmbito intrapsíquico de elementos que se dão, primeiramente, no espaço interpsicológico e depreendem-se particularmente do processo de formação. Contudo, este processo circunscreve-se às condições materiais da existência de cada sujeito historicamente formado. De igual maneira, as interações entre professor enfermeiro e alunos despontaram-se como fundamentais para a construção identitária, pois a depender do modo como se estabelecem as relações e dos significados atribuídos pelos estudantes, o mesmo professor enfermeiro pode se constituir em espelho paradoxal, tomado ora para imitação, ora para modelo a não ser seguido. Exercem também influência as condições histórica e culturalmente situadas, nem sempre favoráveis, que materializam as possibilidades do exercício profissional do enfermeiro - e mesmo a configuração da própria formação superior. Espera-se contribuir para a análise crítica dos saberes e práticas que circunstanciam o processo de ensinar e aprender a constituir-se enfermeiro no particular momento histórico