Internações hospitalares de crianças por condições sensíveis à Atenção Primária em região de fronteira

Toninato, Ana Paula Contiero

Objetivo:

Analisar a prevalência e os fatores associados às internações por condições sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) de crianças menores de cinco anos de idade em um município de região de fronteira.

Métodos:

Estudo transversal, quantitativo, com a participação de 249 cuidadores de crianças menores de cinco anos, hospitalizadas por condição sensível em Foz do Iguaçu-PR, na fronteira com o Paraguai e Argentina, entre maio de 2017 e abril de 2018. Aplicou-se um questionário com questões sociodemográficas, de cuidado à criança, morbidade prévia e uso dos serviços de saúde e o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária (PCATool-Brasil) versão criança. Para se verificar a associação das ICSAP com as variáveis independentes, procedeu-se as análises univariadas, estimando-se as razões de prevalência bruta, e, para as análises multivariadas, utilizou-se o modelo de regressão log-binomial. Na avaliação da qualidade dos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), considerou-se adequado pontuação acima de 6.6 na somatória dos escores dos seus atributos, sendo realizado o teste de Kruskall Wallis, seguido do pós-Teste de Dunn para se avaliar as diferenças entre os serviços de saúde utilizados pelas crianças. As análises foram feitas pelo programas SAS, versão 9.4, e Programa R, versão 3.5.3. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.

Resultados:

A prevalência de ICSAP foi de 45,1%, e as doenças respiratórias responderam por 62,3% dos casos de internação. Como principais diagnósticos identificaram-se bronquite; pneumonia; gastroenterites; infecção urinária e epilepsia. Nas análises univariadas, as variáveis sexo masculino, ausência de companheiro materno, baixo peso ao nascer e histórico de hospitalização anterior apresentaram associação estatística com as ICSAP de causa respiratória, no entanto não permaneceram no modelo final multivariado. A qualidade dos serviços de APS foi avaliada com fraca presença e extensão dos seus atributos, com pontuação nos escores essencial e geral abaixo de 6.6, e diferindo significativamente de acordo com o modelo de Atenção à Saúde, sendo a Estratégia Saúde da Família melhor avaliada que as Unidades Básicas de Saúde e as Unidades de Pronto Atendimento. Os serviços privados receberam melhor avaliação em alguns atributos, mas de maneira geral não diferiram substancialmente do serviço público.

Conclusão:

A prevalência das ICSAP foi elevada, e, embora não tenham sido encontradas associações estatísticas com esse desfecho, este estudo permitiu descrever o perfil das crianças com ICSAP. Os serviços de APS apresentaram fragilidades, especialmente no componente acesso. Entende-se que o fortalecimento da APS para atender à criança pode evitar complicações na saúde desta e tem potencial para minimizar os custos em saúde, quando da necessidade de hospitalização. Isso posto, investir em ações conjuntas em município de fronteira, como Foz do Iguaçu, que atende à população infantil, muitas vezes de outros países, deve se constituir prioridade nas agendas públicas de atenção à saúde dessa população

Objective:

To analyze the prevalence and factors associated with hospitalizations for Primary Care Sensitive Conditions (HPCSC) of children under five years of age in a municipality in the border region.

Methods:

A cross-sectional, quantitative study with the participation of 249 caregivers of children under five years of age hospitalized for a sensitive condition in Foz do Iguaçu-PR, on the border with Paraguay and Argentina, between May 2017 and April 2018. A questionnaire was applied with socio-demographic, child care, prior morbidity and use of health services and the Primary Care Evaluation Instrument (PCATool-Brazil) children version issues. In order to verify the association of HPCSC with the independent variables, univariate analyzes were performed, estimating gross prevalence ratios, and for the multivariate analyses, the log-binomial regression model was used. In the evaluation of the quality of the Primary Health Care (PHC) services, a score above 6.6 was considered adequate, in the sum of the scores of its attributes, and the Kruskall Wallis test was performed, followed by the Dunn test post for assess the differences between health services used by children. The analyses were made by SAS programs version 9.4 and Program R, version 3.5.3. This study was approved by the Research and Ethics Committee of the Ribeirão Preto Nursing School.

Results:

The prevalence of HPCSC was 45.1%, and respiratory diseases accounting for 62.3% of hospitalization cases. As main diagnoses, bronchitis was identified; pneumonia; gastroenteritis; urinary tract infection and epilepsy. In the univariate analyses, the variables male sex; absence of maternal partner; low birth weight and history of previous hospitalization presented a statistical association with HPCSC of respiratory cause; however, did not remain in the final multivariate model. The quality of PHC services were evaluated with poor presence and extension of their attributes, with scores in the essential and general scores below 6.6, and differing significantly according to the health care model, with the Family Health Strategy being better evaluated than the Basic Health Units and the Emergency Care Units. Private services received better evaluation on some attributes, but generally did not differ substantially from the public service.

Conclusion:

The prevalence of HPCSC was high, and although no statistical association was found with this outcome, this study allowed us to describe the profile of children with HPCSC. PHC services presented weaknesses, especially in the Access component. It is understood that the strengthening of PHC to care for the child can avoid complications in their health and has the potential to minimize health costs when there is need for hospitalization. That said, investing in joint actions in a border municipality, such as Foz do Iguaçu, which serves the child population, often from other countries, should be a priority in the public health care agendas for this population