Processamento fonológico em adolescentes e fatores associados
Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas to obtain the academic title of Doutor. Leader: Martins-Reis, Vanessa de Oliveira
A capacidade de processar a linguagem, tanto oral quanto a escrita, a partir de informações sonoras da língua caracteriza o processamento fonológico. A literatura mostra que esse é forte preditor do desenvolvimento da linguagem escrita, uma vez que a leitura e a escrita demandam o processamento das estruturas sonoras da língua, a retenção das informações e o acesso rápido e preciso a elas e a relação entre os símbolos gráficos e os elementos sonoros. Alguns estudos sugerem a relação de reciprocidade entre o desenvolvimento da linguagem escrita e o desenvolvimento das habilidades do processamento fonológico. Dessa forma, a leitura e a escrita também contribuem para o aprimoramento do processamento fonológico, cujos componentes são: consciência fonológica, memória operacional e acesso lexical rápido. A tarefa de executar a nomeação automática rápida é uma forma de avaliar o acesso ao léxico. Nessa tarefa são registrados o tempo de nomeação e os erros presentes. O processo de nomeação está sujeito a falhas, mas é controlado pelo sistema de monitoramento cognitivo, que permite o reparo necessário. Para que o indivíduo perceba e corrija os erros na fala ou escrita, é necessário o envolvimento de recursos cognitivos e linguísticos diversos, que também estão envolvidos no processo de nomeação de figuras. Dessa forma, entende-se que o teste de nomeação automática rápida possibilita investigar o desempenho de tais recursos por meio da autocorreção.
OBJETIVOS:
Caracterizar o desempenho de adolescentes em tarefas envolvendo a memória operacional, a nomeação automática rápida e a consciência fonológica, bem como verificar os fatores que influenciam o desempenho em tais habilidades; e verificar a autocorreção entre os adolescentes e a associação com funções cognitivas e com o vocabulário.METODOLOGIA:
O estudo transversal observacional analítico foi realizado com amostra não probabilística, composta por 83 adolescentes de ambos os sexos, situados na faixa etária de 11 a 16 anos, matriculados entre o 6º e o 9º ano escolar, sem queixas de dificuldade de aprendizagem.Foram aplicados:
Teste de Consciência Fonológica da Bateria de Avaliação da Linguagem Escrita e seus Distúrbios, Prova de Velocidade de Nomeação Automática Rápida, Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve, Teste de Leitura e Compreensão Textual, Teste de Nomeação de Boston e Questionário de Anamnese. Durante a nomeação rápida, registraram-se o tempo de nomeação, os erros e as autocorreções. A coleta de dados foi realizada em duas escolas públicas localizadas em Belo Horizonte. Os dados foram inseridos em planilhas do Excel®, para a análise estatística. As variáveis qualitativas foram analisadas quanto às frequências, absoluta e relativa. Para as variáveis quantitativas, foram utilizadas medidas de posição, tendência central e dispersão. A investigação da autocorreção foi realizada tendo como base a variação do número de erros.A amostra foi categorizada em:
“Não realiza substituição”, “Realiza substituição e não realiza autocorreção” e “Realiza substituição e autocorreção”. Os testes de Wilcoxon e Friedman foram utilizados para verificar a mediana de erros; os testes Exato de Fisher e Mann-Whitney, para verificar a associação com a escolaridade; e o teste de Kruskal Wallis, para verificar a associação da autocorreção com funções cognitivas e linguística. Para a análise do processamento fonológico, utilizaram-se a regressão linear com erros padrões robustos, para a matriz de covariância dos coeficientes estimados; e o estimador HC. O método de Stepwise e a estatística VIF (Variance Inflation Factor) foram utilizados para a seleção das variáveis. Adotou-se o nível de significância de 5%.RESULTADOS:
A amostra foi assim composta: 33,7% adolescentes do 6º ano, 26,5% do 7º ano, 24,1% do 8º ano e 15,7% do 9º ano. Quanto à idade de ingresso escolar, 36,2% ingressaram aos 3 anos de idade; 21,3%, antes dos 12 meses ou após os 4 anos, e 10,6% com 1 ou 2 anos. No que diz respeito ao desempenho no processamento fonológico, o tempo médio de nomeação de objetos foi de 48,20s e o de letras foi de 21,24s. A média de acertos em consciência fonológica foi de 28,86 e a de memória operacional foi de 25,52. Sobre o desempenho cognitivo e linguístico, 82,7% (n = 62) apresentaram desempenho de memória operacional classificado como adequada e 17,3% (n = 13), inadequado. Apresentaram atenção classificada como adequada 87,8% (n = 65) e inadequada 12,2% (n = 9). Para 65,3% (n = 49), o desempenho da memória verbal episódico-semântica estava adequado e para 34,7% (n = 26) inadequado. Dos adolescentes avaliados, 85,3% (n = 64) apresentaram desempenho adequado nas tarefas de linguagem oral e 14,7% (n = 11) inadequado. Em relação aos erros no teste de nomeação rápida, 75,9% dos adolescentes da amostra realizaram substituições. Quanto ao tipo de estímulo visual do teste de nomeação rápida, verificou-se maior frequência de autocorreção entre os estímulos não alfanuméricos. A ocorrência de autocorreção foi elevada em todos os anos escolares analisados. No entanto, ao comparar os adolescentes que cursavam os anos iniciais e finais no ensino fundamental II, constatou-se que a amostra se diferenciou na tarefa de executar a nomeação rápida de letras. Os adolescentes que não cometeram substituições durante a nomeação apresentaram melhor desempenho cognitivo e linguístico do que aqueles que apresentaram erros e os que realizaram a autocorreção foram melhores na atenção do que aqueles que erraram e não corrigiram. Apesar da relevância da autocorreção, contabilizá-la durante o teste ocasiona duplo registro, pois indiretamente ela é contabilizada no registro do tempo. No entanto, é necessário que o examinador observe a prática de autocorreção durante a tarefa de nomeação. Quanto ao processamento fonológico, a memória operacional mostrou-se significativa para o tempo de nomeação de objetos, o desempenho em consciência fonológica e fluência de leitura determinaram o tempo de nomeação de letras. Os tempos de nomeação de objetos e letras apresentaram relação recíproca. O desempenho da memória operacional foi influenciado pelo tempo de nomeação de objetos, pela memória verbal episódico-semântica, pelas funções executivas e pela atenção. O tempo elevado de nomeação de objetos contribuiu para a classificação da memória operacional como inadequada. A consciência fonológica apresentou associação com o tempo de nomeação de letras, com as funções executivas e com a atenção. Assim, de acordo com a amostra avaliada observou-se que é importante que o terapeuta observe o desempenho cognitivo e linguístico dos adolescentes ao investigar o processamento fonológico.CONCLUSÃO:
A prática da autocorreção no teste de nomeação automática rápida apresentou associação com o desempenho cognitivo dos adolescentes da amostra. Da mesma forma, o processamento fonológico foi influenciado pelas funções cognitivas, tais como memória verbal episódico-semântica, atenção e funções executivas, e linguísticas, como a fluência leitora e a compreensão textual. Verificouse relação entre o desempenho dos componentes do processamento fonológico.
The ability to process language, both oral and written, based on sound information of language, it characterizes phonological processing. Literature shows that it is a strong predictor of the development of written language, since reading and writing demand the processing of sound structures of language, retention, besides it, speedy and accurated access to information and relationship between graphic symbols and sound elements. Some studies suggested relationship of reciprocity between development of written language and development of phonological processing skills. In this way, reading and writing also contribute to the improvement of phonological processing, whose components are: phonological awareness, operational memory and rapid lexical access. Naming task automatic and fast is one way to assess lexical access. In this task, time of nomination and its current mistakes are registered. Nomination process could fail, but it is controlled by monitoring cognitive system that allows the necessary repairment. So that an individual perceives and corrects the errors in his/her speech or writing, it is necessary to involve several cognitive and linguistic resources, that also are involved in the process of nomination of figures. Thus, it is understood that rapid automatic naming test makes it possible to investigate the performance of such resources through self-correction.