Atualmente existe uma lacuna de conhecimento referente à doação e ao transplante do tecido ósseo, já que muitas publicações concentram-se, principalmente, na temática 'doação e transplante de órgãos sólidos'. O objetivo deste estudo foi compreender os aspectos intervenientes na efetivação da doação do tecido ósseo durante o acolhimento e a entrevista familiar, realizada pelos profissionais da Organização de Procura de Órgãos, na ótica do profissional e do familiar do potencial doador.

Método:

Este estudo de abordagem qualitativa, apoiado em conceitos do interacionismo simbólico, constituiu-se de familiares de doadores de órgãos e tecidos que autorizaram a doação do tecido ósseo no período de janeiro a dezembro de 2016, iniciando-se a partir de pesquisa nos prontuários da Organização de Procura de Órgãos localizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/SP. Selecionaram-se todos os prontuários dos doadores de tecido ósseo, totalizando doze doadores Ainda, foram convidados a participar do estudo os quatro enfermeiros responsáveis pelo acolhimento e entrevista para solicitação dos órgãos e tecidos pertencentes à Organização de Procura dos Órgãos citada, por meio de uma entrevista gravada e realizada em seu contexto de trabalho. Foram entrevistados nove familiares e quatro enfermeiros mediante roteiro de entrevista contendo dados sociodemográficos e questões sobre a vivência de todo o processo de doação do tecido ósseo.

O material foi transcrito e submetido a análise de conteúdo indutiva em três categorias temáticas:

contexto onde se dá o processo de solicitação da doação, fatores que facilitaram a decisão pela doação do tecido ósseo e o resultado do processo de doação para o familiar. Observamos que os familiares, ao refletirem sobre o momento de decisão pela doação do tecido ósseo, revelaram que, apesar do desconhecimento desse tipo de doação, os aspectos que contribuíram para o consentimento foram a satisfação com o atendimento hospitalar humanizado, bem como o profissionalismo dos enfermeiros da Organização de Procura de Órgãos ao explicarem quais ossos seriam retirados e como seria reconstituído o corpo do doador; o conhecimento prévio da vontade do ente querido em ser um doador e o pensamento de estar "fazendo o bem". Observamos ainda que os enfermeiros, ao refletirem sobre seu papel na entrevista para solicitação da doação do tecido ósseo, revelaram que, inicialmente, o desconhecimento dos familiares quanto à possibilidade de doação do tecido ósseo, faz com que os mesmos reajam negativamente devido ao medo da deformidade do corpo. Objetivando superar esse momento difícil, os enfermeiros explicam todo o processo de captação do tecido ósseo, até a forma como seria entregue o corpo do familiar para o velório. Sugerem-se capacitações futuras à equipe de enfermeiros contribuindo para a otimização de todo o processo de doação do tecido ósseo para transplante. Acreditamos ser evidente a necessidade de educação voltada à população por meio de ações governamentais, em que futuras campanhas na divulgação da existência da doação do tecido ósseo possam promover um maior entendimento, resultando em uma reação menos traumática das pessoas no momento da solicitação do tecido ósseo