A saúde dos médicos do Brasil
The health of doctors in Brazil
Publication year: 2007
Os médicos clamam por atenção e respeito. Há mais de uma
década, o Conselho Federal de Medicina vem alertando para este
aspecto, que pode, em si, comprometer a saúde da população. Inicialmente, apontaram-se as precárias condições de trabalho, com
jornadas extenuantes, multiplicidade de atividades, desgaste profi ssional e redução dos salários (MACHADO, 1996). Em pesquisa mais
recente – publicada com o título O Médico e seu Trabalho (CARNEIRO
e GOUVEIA, 2004) –, este Conselho foi ainda mais enfático, respaldado por evidências empíricas sobre a realidade laboral dos médicos que exercem o seu ofício no Brasil. Foram realçados os aspectos
negativos anteriormente listados, agravando-se sua situação com o
estreitamento desenfreado do mercado de trabalho que, brevemente, poderá colapsar com a criação, sem precedentes, de escolas médicas por todo o país. A qualidade do ensino é discutível, com muitas Faculdades funcionando sem oferecer condições adequadas de
aprendizado e treinamento profi ssional, como as viabilizadas pelas
Residências Médicas.
Os médicos padecem de estigmas e expectativas sociais. Se por
um lado podem ser objeto de adoração e reconhecimento por aqueles
que gozam imediatamente de seus benefícios, são cobrados a nunca
errar e sempre fazer viver mais ou não deixar morrer ninguém, como
se estivesse ao alcance deles o próprio dom da vida. Tratado outrora
quase como um membro da família, ascendentes e descendentes sabiam a quem recorrer em momentos difíceis, quando se mesclavam
funções diversas, hoje realizadas por especialistas. Em caso de dor
de barriga do neonato, acudia-se ao doutor da família; mas também
quando não se conseguia dormir, quando o rapazinho quebrava o
braço, se o pai cortasse o dedo ou a mãe deixasse de menstruar