A tragédia do alcoolismo: causas, consequências e prevenção
The tragedy of alcoholism: causes, consequences and prevention

Publication year: 2019

O álcool é uma causa evitável de adoecimento, incapacidade e morte. O consumo dessa substância é o principal fator causal, desencadeante ou agravante de mais de duzentas condições e complicações clínicas. Dentre estas, as patologias mais comuns incluem câncer, diabetes, doenças infecciosas, neurológicas, cardiovasculares, do fígado, do pâncreas e do trato gastrointestinal, além de lesões não intencionais e intencionais. O álcool também pode gerar danos sociais, aumentando o custo total associado ao seu consumo. O uso crônico do álcool é responsável, em grande parte, pela violência doméstica e urbana, incluindo traumas provocados por acidentes de trânsito, mortes violentas, suicídios e incapacidades físicas e mentais, com ferimentos, dores e anos de vida perdidos. A partir de evidências científicas acumuladas ao longo das últimas décadas sobre os riscos de desenvolver doenças relacionadas ao álcool, foi possível à Organização Mundial da Saúde (OMS) propor aos países um conjunto de diretrizes, incluindo testes (como o Audit), para avaliar o consumo de baixo risco, o uso nocivo e a dependência química ao álcool. Em 2018, foram lançadas duas importantes publicações sobre o álcool. A OMS apresentou o Relatório global sobre álcool e saúde, alertando quanto aos riscos do consumo da substância, enquanto a prestigiosa Lancet publicou revisão sistemática sobre álcool e carga de doença para 195 países e territórios, cobrindo o intervalo entre 1990 e 2016. 8 Segundo dados do relatório da OMS, em 2016, o álcool era consumido por 2,3 bilhões de pessoas, com 15 anos ou mais de idade, sendo 43% bebedores frequentes. O uso nocivo do álcool resultou em 3 milhões de mortes em todo o mundo e quase 133 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade (DALY). O Conselho Federal de Medicina, por meio de sua Comissão de Drogas Lícitas e Ilícitas, pretende instrumentalizar o debate entre médicos e sociedade em geral sobre os riscos do uso de álcool para a saúde. Isso porque acredita que todos os esforços devem ser envidados na adoção de políticas públicas para prevenir a iniciação do alcoolismo entre jovens, a fração da população mais vulnerável aos efeitos do marketing e da propaganda de bebidas. O consumo de álcool, especialmente quando se trata de uso problemático ou crônico e abusivo, deve ser objeto de atenção não só de médicos e outros profissionais de saúde, mas de diferentes segmentos da sociedade, dentre eles, educadores, legisladores, gestores e magistrados.

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