Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Instituto de Saúde to obtain the academic title of Doutor. Leader: Rosa, Tereza Etsuko da Costa
Introdução:
O Diabetes Mellitus é uma doença crônica, endêmica e potencialmente mutilante, além de constituir-se fator de risco para a principal causa de morte no Brasil e no mundo – a doença cardiovascular. Suas bases fisiopatológicas incluem influências genéticas e ambientais. O tratamento proposto é complexo e divide-se em tratamento medicamentoso e tratamento não-medicamentoso. Como parte integrante do tratamento não medicamentoso temos as chamadas “mudanças do estilo de vida” e “educação em diabetes”. Os protocolos e diretrizes que embasam a atuação clínica de médicos endocrinologistas valorizam o autocuidado e a autonomia, porém em uma perspectiva behaviorista, utilizando-se de um modelo tecnicista de educação. Em contrapartida, propostas educativas baseadas na pedagogia crítica comprometem-se com a democracia, o respeito aos diferentes saberes e a busca pelo fim das iniquidades sociais. Objetivos:
Criar coletivamente um programa educativo em diabetes através da Pedagogia Crítica no município de Itanhaém. Método:
Estudo qualitativo do tipo pesquisa-ação. Em uma Unidade Básica de Saúde realizamos encontros entre profissionais de saúde e pessoas com Diabetes Mellitus ou seus familiares para desenvolver ações educativas em diabetes utilizando-se da Pedagogia Crítica, com o referencial teórico de Paulo Freire. Seguimos o modelo de Círculos de Cultura, objetivando a transição da curiosidade ingênua para a curiosidade epistemológica, a identificação das situações-limite e o vislumbramento do inédito viável, em um ambiente democrático. Resultados e discussão:
No primeiro encontro realizamos o levantamento das temáticas significativas e as reuniões seguintes pautaram-se nesses temas e em outros que surgiram no decorrer do período. As reuniões ocorreram quinzenalmente (salvo exceções), duraram cerca de 90 minutos e contaram com a participação conjunta de profissionais de saúde, pessoas com diabetes e/ou seus familiares. Para cada encontro utilizamos codificações diferentes (reportagens, teatro, manipulação de objetos, etc.) a fim de provocar o interesse e estimular a participação. As reuniões partiram de problemas reais e cotidianos e se desenvolveram no sentido de, além de encontrar soluções práticas às demandas colocadas, buscar as bases estruturantes das adversidades e as possiblidades de
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enfrentamento destas estruturas. A restrição alimentar mostrou-se a principal fonte de preocupação e sofrimento. A partir deste mote discutimos alimentação saudável, craving, determinantes sociais de saúde, políticas públicas, sistemas de produção e comercialização dos alimentos, legislações, reformas tributária e agrária. As outras temáticas desenvolvidas foram:
sofrimento na doença crônica, estigmas do DM, conceito de normal e patológico, paternalismo, patriarcado, biopoder e neoliberalismo. Conclusão:
A pedagogia crítica oportunizou vivências de atividades educativas em diabetes que responderam à expectativa da população de resolver questões de natureza cotidiana, mas que, não se limitando a elas, também promoveram reflexões de ordem político-estrutural, que podem dar origem à ampliação da participação popular e, consequentemente, contribuir para o aperfeiçoamento do SUS.