Focar aqui dentro, (não) esquecer lá fora: afetos e formas de habitar o cotidiano em uma unidade socioeducativa de internação no Rio de Janeiro
Be inside, (don't) forget outside: affects and means to inhabit the ordinary inside a deprivation of liberty unit for young offenders
Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro to obtain the academic title of Mestre. Leader: Lowenkron, Laura
Esta etnografia é sobre como jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação criam formas de habitar o cotidiano da privação da liberdade. Nesse sentido, explora as diferentes modalidades de agência desses atores tecidas em meio ao medo e a desconfiança, tomando os afetos como fio condutor da narrativa. Este trabalho foi realizado por meio de 10 oficinas com dois grupos de jovens no Centro de Socioeducação Dom Bosco, unidade de internação masculina no município do Rio de Janeiro. Partindo dos debates contemporâneos sobre os espaços de confinamento que não os tomam como instituições totais, mas como tecnologia de regulação de fluxos, gerindo a circulação de pessoas, objetos e artefatos através de seus muros, o objetivo do trabalho é explorar como nessas conexões e circulações os jovens criam formas de habitar a internação. Assim, o trabalho apresenta inicialmente a atmosfera do medo e os afetos hostis que fazem o cotidiano da privação de liberdade, acompanhando a seguir os modos pelos quais os jovens tecem possibilidades de existência ao se apropriarem de determinadas categorias e normativas institucionais, bem como pelos modos como constroem um nóis é coletivo e produzem a sua própria circulação pelo espaço institucional. Nesses circuitos também fazem entrar, agenciando alguns atores institucionais como vasos comunicantes entre o dentro e o fora, alguns objetos e mediadores que os transportam para suas vidas fora da internação. Desse modo, recriam fragmentos dessa vida no interior do cárcere, produzindo uma rede de infraestrutura em um cenário de precariedade; ao mesmo tempo em que se transportam para fora sem sair da instituição. Acompanhamos, portanto, os modos como os jovens agem com o medo, a partir dele e contra ele de modo a fazer a vida vivível na internação, servindo de inspiração também para que esse texto seja uma forma de escrita contra o medo (AU)
The current ethnography traverses the means by which young people foster ways of dwelling in the daily life of deprivation of liberty when within a socio-educational regime of custody. In this regard, it explores the different fashions of agency of these actors fabricated amidst fear and mistrust, taking the affects as the guiding thread of the narrative. This work was carried out through a series of 10 workshops with two groups of youngsters held in Don Bosco Socio-educational Center, a young male confinment unit in Rio de Janeiro. Unfolding from the contemporary debates on detention spaces, which rather than plain institutions, will consider those as flux regulation technologies, policing the traffic of people, objects and artifacts in and out of it’s walls, the goal of this work is to explore how, within these connections and interchanges, the youngsters come up with ways of actually inhabiting the institution. Thus, it first presents the atmosphere of fear and the hostile affects that constitute their everyday life in deprivation of liberty, followed by the ways of which they develop possibilities of existence by securing specific institutional normatives and categories, as well as the ways they set up a “Nóis é coletivo” and produce their own paths inside the institutional space. Inside these circuits they also make entry, assembling some institutional actors as communicating vessels between inside and outside, some objects and mediators that transport them to their lives outside the facility. This way, they recreate fragments of that life inside the institute, producing an infrastructure network in a precarious scenario; simultaneously transporting themselves outside without actually leaving the institution. We accompany the ways in which young people cope with the fear, in favor of and against it, in order to make life livable in confinement, serving as inspiration for this text to be a form of writing against fear (AU)