Determinantes das práticas de aleitamento materno nos primeiros dois anos de vida na coorte MINA-Brasil
Determinants of breastfeeding practices in the first two years of life in the MINA-Brazil cohort

Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Doutor. Leader: Cardoso, Marly Augusto

Introdução:

As práticas de alimentação no início da vida podem afetar diretamente o desenvolvimento, crescimento e a sobrevivência infantil. Entre os indicadores de saúde infantil propostos pela Organização Mundial da Saúde, a frequência e a duração das práticas de aleitamento materno (AM) até os dois anos de vida, e os fatores relacionados, são fundamentais para o monitoramento das ações para promoção, proteção e apoio à amamentação.

Objetivos:

a) Identificar as evidências disponíveis em estudos longitudinais sobre a frequência do aleitamento materno exclusivo (AME) aos 30 dias de vida (artigo 1); b) Investigar a associação entre ganho de peso gestacional (GPG) e desfechos perinatais em gestantes Amazônicas (artigo 2); c) Examinar o papel do GPG excessivo e das práticas de amamentação no índice de massa corporal (IMC) aos 2 anos de idade na primeira coorte de nascimentos de base populacional na Amazônia brasileira (artigo 3); e d) Identificar os preditores da interrupção do AME antes dos seis meses de vida e do AM antes dos dois anos de idade em crianças Amazônicas (artigo 4).

Métodos:

Trata-se de revisão integrativa da literatura (artigo1) e análises de dados do estudo de coorte de nascimentos MINA-Brasil: Materno-INfantil no Acre (artigos 2, 3 e 4). Mães e seus bebês nascidos entre julho de 2015 e de junho de 2016 na única maternidade do município de Cruzeiro do Sul foram convidados a participar do estudo. As participantes foram entrevistadas logo após o parto e em avaliações de seguimento aos 30-45 dias, 6 meses, 1 e 2 anos sobre dados socioeconômicos, demográficos, práticas alimentares e condições de saúde e morbidade materno-infantil. Regressão de Poisson com estimativas robustas, regressão linear (artigo 2 e 3), e modelos de regressão de Cox estendido (artigo 4) foram utilizados para investigar as associações de interesse. As análises foram realizadas em Stata 15.0, ao nível de significância de p<0,05.

Resultados:

No artigo 1, foram selecionados 17 estudos originais. Apesar das diferenças metodológicas entre eles, em relação ao tipo e tamanho de amostra, a definição do AME e método de mensuração, os resultados indicam alta taxa de início da amamentação (≥86%) e ampla variação da ocorrência de AME aos 30 dias de vida (4,5%- 86%), com declínio substancial (<60%) em 63% dos locais investigados. No artigo 2, seguindo as recomendações do Instituto de Medicina (IOM, n = 1305), a frequência de GPG insuficiente e excessivo foram semelhantes (32%). O GPG excessivo foi associado a maior escore-z de peso ao nascer (PN); maior risco de macrossomia, grande para a idade gestacional (GIG) e cesariana; e menor risco de baixo peso ao nascer (BPN) e ser pequeno para a idade gestacional (PIG). O GWG insuficiente foi associado a escore-z de PN mais baixo. Entre as mulheres com IMC pré-gestacional normal (n = 658), o GPG inapropriado foi elevado segundo o IOM (66%) e o Intergrowth-21st (42%). Ambos os métodos indicaram que os recém-nascidos de mulheres com GPG excessivo apresentaram maiores escore-z de PN, e maior risco de macrossomia e GIG. Mulheres com GPG abaixo dos padrões intergrowth-21st tiveram maior probabilidade de dar à luz um bebê PIG e com escores-z de PN mais baixos. No artigo 3 (n = 743), o GPG excessivo e o AM<1 ano foram associados a maior escore-z de IMC aos 2 anos de idade após ajuste por covariáveis. No artigo 4 (n = 1145), a probabilidade de AME até 6 meses foi 11,8% e a de AM até 2 anos 34,5%. Entre crianças nascidas a termo, os preditores da interrupção precoce do AME foram a mãe ser primípara, alimentar o bebê com pré-lácteos, o uso de chupeta no período perinatal e a ocorrência de diarreia nas duas primeiras semanas de vida. Os preditores da interrupção precoce do AM foram a criança ser do sexo masculino, o uso de chupeta no período perinatal e o AME menor a 3 meses.

Conclusão:

Entre crianças amazônicas brasileiras a duração das práticas de aleitamento materno foi consideravelmente menor do que as recomendações internacionais. Os preditores para a interrupção precoce da amamentação identificados nesta coorte de nascimentos devem ser considerados para avaliar estratégias locais e desenvolver intervenções para alcançar um comportamento ideal de amamentação.

Introduction:

Early life feeding practices can directly affect infant development, growth, and survival. Among the indicators for child health proposed by the World Health Organization, the frequency and duration of breastfeeding (BF) practices up to two years of life, and related factors, are fundamental for monitoring actions for the promotion, protection, and support of breastfeeding.

Objectives:

a) To identify the evidence available in longitudinal studies on the frequency of exclusive breastfeeding (EBF) at 30 days of life (article 1); b) To investigate the association between gestational weight gain (GWG) and perinatal outcomes in Amazonian pregnant women (article 2); c) To examine the role of excessive GWG and breastfeeding practices on body mass index (BMI) at 2 years of age in the first population-based birth cohort in the Brazilian Amazon (article 3); and d) To identify the predictors of EBF interruption before six months of life and BF before two years of age in Amazonian children (Article 4).

Methods:

We performed an integrative literature review (article 1) and analysis of data from the MINA- Brazil birth cohort study: Maternal and Child in Acre (articles 2, 3 and 4). Mothers and their babies born between July 2015 and June 2016 in the only maternity hospital in the municipality of Cruzeiro do Sul were invited to participate in the study. Participants were assessed shortly after delivery and at follow-up visits at 30-45 days, 6 months, 1 and 2 years of childs age about socioeconomic and demographic data, dietary practices, health conditions, and maternal and child morbidity. Poisson regression with robust estimates, linear regression (article 2 and 3), and extended Cox regressions analyses (article 4) were run to investigate the associations of interest. Analyses were performed in Stata 15.0, at a significance level of p<0.05.

Results:

In article 1, 17 original studies were selected. Despite the methodological differences between them, regarding type and size of the sample, the definition of EBF, and the method of measurement, the results indicate a high rate of initiation of breastfeeding (≥86%) and a wide variation in the occurrence of EBF at 30 days of life (4.5%-86%), with substantial decline (<60%) in 63% of the investigated sites. In article 2, following the Institute of Medicine (IOM) recommendations (n = 1305), the frequencies of insufficient and excessive GWG were similar (32%). Excessive GWG was associated with higher new-born birthweight (BW) z-scores; increased risk of macrosomia, large for gestational age (LGA), and cesarean delivery; and lower risk of low birth weight (LBW) and being small for gestational age (SGA). Insufficient GWG was associated with lower new-born BW z-scores. Among women with normal pre- pregnancy BMI (n = 658), inappropriate GWG was high according to the IOM (66%) and the Intergrowth-21st (42%). Both methods indicated that new-born of women with excessive GWG had higher BW z-scores, and a higher risk of macrosomia and LGA. Women with GWG below intergrowth-21st standards were more likely to give birth to an SGA baby and with lower BW z-scores. In article 3 (n = 743), excessive GWG and BF <1 year were associated with higher BMI z-score at 2 years of age after adjustment for covariates. In article 4 (n = 1145), the probability of EBF up to 6 months and BF up to 2 years were 11.8% and 34.5%, respectively. Among children born at term, the predictors of early EBF interruption were the mother being primiparous, feeding the baby with prelacteal food, use of a pacifier in the perinatal period, and occurrence of diarrhea in the first two weeks of life. The predictors of early BF interruption were a male child, use of pacifier in the perinatal period, and EBF for less than 3 months.

Conclusion:

Among Brazilian Amazonian children, the duration of breastfeeding practices was considerably shorter than the international recommendations. Predictors for early cessation of breastfeeding identified in this birth cohort should be considered to assess local strategies and develop interventions to achieve optimal breastfeeding behavior.

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