Estigma relacionado ao peso corporal: da compreensão teórica à mudança no cuidado em saúde
Weight stigma: from theoretical comprehension to the change in health care

Publication year: 2021
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Professor Livre Docente. Leader: Slater Villar, Betzabeth

Introdução - O estigma relacionado ao peso corporal é a discriminação moral que as pessoas com sobrepeso e obesidade vivenciam por causa das mensagens sociais negativas associadas aos seus corpos, como preguiça, gula, descontrole, falta de força de vontade, de motivação, de disciplina, de competência, de inteligência e de compromisso, entre outras. A literatura científica, especialmente do Norte Global, apontou que este estigma é crescente e altamente presente entre profissionais de saúde. Todavia, pesquisas nesse campo podem avançar em termos teóricos e em aplicações práticas, investigando tal fenômeno para além do Norte Global e propondo meios para a diminuição da estigmatização no cuidado em saúde. Objetivos - 1) Revisar sistematicamente o estigma sentido relacionado ao peso corporal ("felt weight stigma") por pessoas com sobrepeso e obesidade na América Latina, África e Ásia; 2) Revisar os protocolos de oficinas educativas do estudo "Apoio e análise para a implementação das ações na atenção básica da linha de cuidado para sobrepeso e obesidade nos municípios do Grande ABC paulista", para eliminar a presença de atitudes potencialmente estigmatizantes nos mesmos e acrescentar práticas e informações que possam contribuir para a diminuição do estigma relacionado ao peso corporal por parte dos/as profissionais de saúde. Percursos metodológicos - Para atender o primeiro objetivo, realizamos uma revisão sistemática da literatura seguindo diretrizes consolidadas, com etapas de busca, seleção dos estudos, extração dos dados e avaliação da qualidade. Os estudos foram incluídos se investigaram o estigma sentido relacionado ao peso corporal de crianças, adolescentes, adultos e idosos com sobrepeso ou obesidade, e que viviam na América Latina, África ou Ásia. Para atender o segundo objetivo, construímos uma lista de características dos serviços de saúde e práticas de profissionais de saúde da atenção básica que diminuem a estigmatização de pessoas com obesidade e a mesma foi avaliada por especialistas e pessoas leigas com obesidade, por meio do método Delphi. Tendo esta lista como nosso referencial, os protocolos foram revistos, com exclusão de excertos potencialmente estigmatizantes e inclusão de trechos que pudessem reduzir o estigma relacionado ao peso corporal. Resultados - Quarenta estudos foram incluídos na revisão sistemática.

Eles se focaram em três eixos:

sentindo-se estigmatizado/a; consequências do estigma sentido; apoio às pessoas que vivenciam o estigma sentido, sendo que o último não foi encontrado em estudos africanos. A experiência de estigma sentido pareceu ser comum, e sofrida, entre as três regiões. Atendendo ao segundo objetivo, a lista supracitada compreendeu vinte e cinco itens e foi finalizada com duas rodadas do método Delphi. Foram feitas sessenta e nove revisões nos protocolos visando antecipar situações futuras de estigmatização e preveni-las; e inserindo trechos para combater a estigmatização na prática profissional.

Conclusões:

Constatamos a existência do estigma sentido, em relação ao peso corporal, em diferentes populações que viviam na América Latina, África e Ásia, lugares com muitas diferenças e que normalmente não são foco de pesquisas desta área. Construímos também um caminho metodológico para diminuir o potencial estigmatizante que poderá ser utilizado por diversos protocolos voltados para o cuidado da pessoa com sobrepeso e obesidade.
Introduction - Weight stigma is the moral discrimination that people with overweight and obesity experience because of the negative social messages associated with their bodies, such as laziness, gluttony, lack of control, of willpower, of motivation, of discipline, of competence, of intelligence and of commitment, among others. The scientific literature, especially from the Global North, pointed out that this stigma is growing and highly present among health professionals. However, research in this field could advance in theoretical terms and in practical applications, investigating this phenomenon beyond the Global North and proposing ways to reduce stigmatization in health care. Objectives - 1) To systematically review the felt weight stigma by people with overweight and obesity in Latin America, Africa and Asia; 2) To review the protocols of educational workshops in the study "Support and analysis for the implementation of actions in the basic care line for overweight and obesity in the cities of the Greater ABC Paulista", to eliminate the presence of potentially stigmatizing attitudes in them and to add practices and information that could contribute to the reduction of weight stigma on the part of health professionals. Methodological paths - To meet the first objective, we carried out a systematic literature review following consolidated guidelines, with stages of search, study selection, data extraction and quality assessment. Studies were included if they investigated the felt weight stigma of children, adolescents, adults and elderly with overweight and obesity, living in Latin America, Africa or Asia. To meet the second aim, we built a list of characteristics of health services and practices of health professionals in primary care that reduce the stigmatization of people with obesity and it was evaluated by experts and lay people with obesity, through the Delphi method. Using this list as our reference, the protocols were revised, excluding potentially stigmatizing excerpts and including excerpts that could reduce the stigma related to body weight. Results - Forty studies were included in the systematic review.

They focused on three axes:

feeling stigmatized; consequences of felt stigma; support for people who experience felt stigma, with the latter not being found in African studies. The experience of felt stigma appeared to be common, and painful, across the three regions. Meeting the second objective, the aforementioned list comprised twenty-five items and was completed with two rounds of the Delphi method. Sixty-nine revisions were made to the protocols in order to anticipate future stigmatization situations and prevent them; and inserting excerpts to combat stigmatization in professional practice. Conclusions - We found the existence of felt weight stigma, in different populations living in Latin America, Africa and Asia, places with many differences and which are not normally the focus of research in this area. We also built a methodological path to reduce the stigmatizing potential that could be used by various protocols that aim the health care of people with overweight and obesity.

More related