Cárie na primeira infância, má oclusão, fatores psicossociais e qualidade de vida relacionada à saúde bucal de crianças e suas famílias
Early childhood caries, malocclusion, psychosocial factors and oral health-related quality of life in children and their families
Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Bendo, Cristiane Baccin
Cárie na primeira infância (CPI) e má oclusão podem afetar a qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) de crianças e suas famílias. Fatores psicossociais relacionados às crianças, suas famílias e comunidade na qual estão inseridas devem ser estudados. Diante disso, os objetivos desta tese foram: 1) verificar a associação entre fatores psicossociais associados à CPI e à QVRSB em pré-escolares e suas famílias (Artigo 1); 2) avaliar o impacto da mordida aberta anterior (MAA) e da mordida profunda (MP) na QVRSB de préescolares, e verificar o papel da resiliência parental como um fator moderador nessa associação (Artigo 2). Foi realizado um estudo transversal representativo com pré-escolares de 4-6 anos de idade e seus pais/responsáveis em Ribeirão das Neves, MG, Brasil. Os pais/responsáveis responderam às versões brasileiras do Early Childhood Oral Health Impact Scale (ECOHIS) e Escala de Resiliência, e um questionário com dados
socioeconômicos e de comportamento de saúde bucal da criança. Os pré-escolares foram
examinados por duas dentistas treinadas e calibradas para o diagnóstico de CPI e
consequências pulpares de lesões cariosas não tratadas (Kappa>0,95), utilizando-se a
versão epidemiológica do International Caries Detection and Assessment System
(ICDASepi) combinado com o índice pufa e, assim categorizados: sem cárie, estágio inicial
(opacidade notável/pigmentação retida em fundo de fóssulas e fissuras), estágio moderado
(cavitação em esmalte/sombreamento em dentina subjacente), estágio extenso sem
consequências pulpares (cavitação com exposição dentinária) e estágio extenso com
consequências pulpares (cavitação com exposição dentinária, com envolvimento pulpar
e/ou presença de fístulas/abscessos). A presença de MAA e MP foi avaliada através do
índice de Foster e Hamilton. Os dados foram analisados por meio da modelagem por
equações estruturais, utilizando-se o software Mplus, versão 8.6 (Artigo 1) e por meio da
análise de moderação, utilizando-se o PROCESS (PROCESS for SPSS, version 3.4) (Artigo 2). Os resultados do artigo 1 demonstraram que menor status socioeconômico (β =-0,250; p<0,001) e maior frequência de consumo de açúcares livres (β=0,122; p=0,033) foram associados diretamente com estágio extenso de cárie com consequência pulpar, enquanto menor resiliência dos pais impactou indiretamente estágios mais avançados da CPI, por meio da variável frequência de consumo de açúcares livres (β =-0,089; p=0,048). Além disso, CPI foi associada com piores escores tanto da QVRSB da criança (b=0,587; p<0,001) quanto da família (β =0,506; p<0,001). Os resultados do artigo 2 demonstraram que préescolares filhos de pais com baixa resiliência, e que possuíam MAA apresentaram impacto negativo na QVRSB (β:3,95;p=0,025) em comparação àqueles que apresentaram oclusão normal. A resiliência parental não atuou como fator moderador na associação entre MP e QVRSB (p>0,05). Conclui-se que quanto maior a gravidade da CPI, maior o impacto
negativo na QVRSB de pré-escolares e suas famílias. Os principais fatores associados à
CPI mais grave foram menor nível socioeconômico, maior frequência de consumo de açúcar livre e menor resiliência parental (Artigo 1). MAA interferiu negativamente na QVRSB dos pré-escolares, sendo essa associação mais forte quando a resiliência parental era baixa. Portanto, a resiliência dos pais atuou como fator moderador na relação entre MAA e QVRSB (Artigo 2).
Early childhood caries (ECC) and malocclusion can affect the oral health-related
quality of life (OHRQoL) of children and families. Psychosocial factors related to
children, their families and the community in which they are inserted must be studied.
Therefore, the objectives of this thesis were: 1) to verify the association between
psychosocial factors with ECC and OHRQoL in preschoolers and their families
(Manuscript #1); 2) to evaluate the impact of anterior open bite (AOB) and deep bite
(DB) on the OHRQoL of preschool children and the role of parental resilience as a
moderating factor in such association (Manuscript #2). A representative crosssectional study was carried out with 4-to-6-year-old preschoolers and their
parents/caregivers from Ribeirão das Neves, MG, Brazil. Parents/caregivers selfadministered the Brazilian versions of the Early Childhood Oral Health Impact Scale
(ECOHIS) and the Resilience Scale, as well as a questionnaire about socioeconomic
and child's oral health behavior data. Preschoolers were examined by two trained and
calibrated dentists for the diagnosis of ECC and pulpal consequences of untreated
carious lesions (Kappa>0.95), using the epidemiological version of the International
Caries Detection and Assessment System (ICDASepi) index combined with the pufa
index: no caries, early stage (notable opacity/retained pigmentation in the background
of pits and fissures), moderate stage (cavitation in enamel/shading in underlying
dentin), extensive stage without pulpal consequences (cavitation with dentin exposure)
and extensive stage with pulpal consequences (cavitation with dentin exposure, and
pulp involvement and/or fistulas/abscesses). The presence of AOB and DB were
evaluated using the Foster and Hamilton index. Data were analysed through Structural
Equation Model (SEM), using the Mplus software, version 8.6 (Manuscript #1) and
through moderation analysis, using PROCESS (PROCESS for SPSS, version 3.4)
(Manuscript #2). The results of the Manuscript #1 demonstrated that lower
socioeconomic status (b=-0.250; p<0.001) and higher frequency of consumption of
free sugars (β=0.122; p=0.033) were directly associated with an extensive stage of
caries with pulpal consequences, while lower parental resilience indirectly impacted
more advanced stages of ECC, through the variable frequency of consumption of free
sugars (b=-0.089; p=0.048). In addition, ECC was associated with worse scores in both
the child's (β=0.587; p<0.001) and the family's (β=0.506; p<0.001) OHRQoL. The
results of the Manuscript #2 demonstrated that preschoolers whose parents presented
low resilience, and preschoolers who presented OAB, had a negative impact on
OHRQoL (β:3.95; p=0.025) compared to those who had normal occlusion. Parental
resilience did not act as a moderating factor in the association between DB and
OHRQoL (p>0.005). It is concluded that the severity of ECC negatively impacted the
OHRQoL of preschoolers and their families, and the main factors associated with the
severity of ECC were lower socioeconomic status, higher frequency of free sugar
consumption and lower parental resilience (Manuscript #1). OAB negatively interfered
with the OHRQoL of preschoolers, with this association being stronger when parental
resilience was low. Therefore, parental resilience acted as a moderating factor in the
relationship between OAB and OHRQoL (Manuscript # 2).