Sífilis congênita: série histórica de uma década dos casos registrados em hospital de referência para gestação de risco, no Estado do Pará
Congenital syphilis: historical series of a decade of cases registered in a reference hospital for high-risk pregnancies, in the State of Pará
Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Evandro Chagas to obtain the academic title of Mestre. Leader: Ventura, Ana Maria Revorêdo da Silva
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum, caracterizada por infecção sistêmica que, se presente na gestante pode determinar a sífilis congênita e, consequentemente, comprometer gravemente o concepto; este estudo objetiva conhecer os aspectos clínicos, laboratoriais e epidemiológicos da sífilis congênita no período de 2008 a 2017, em uma maternidade de referência para gestação de risco no Estado do Pará. Estudo epidemiológico, descritivo, transversal, documental e retrospectivo com dados obtidos em prontuários de recém-nascidos diagnosticados com sífilis congênita na última década (2008 a 2017), com análise de variáveis relacionadas ao binômio mãe-filho. Dos 1004 prontuários analisados, houve predomínio da faixa etária de 15 a 20 anos (36,9%), seguida da idade entre 21 a 25 anos (29,7%) e nove casos de mães menores de 15 anos; 66,7% apresentavam ensino fundamental incompleto. Cerca de 1/3 (37,5%) eram solteiras; 74,2% eram donas de casa. A maioria (79,9%) realizou pré-natal; e em mais da metade (63,6%), o número de consultas foi inferior a seis. O diagnóstico de sífilis na gestação, em 66,1% dos casos, ocorreu somente no momento do parto. O tratamento, durante o período gestacional, em 95,9% foi realizado com penicilina G benzatina, com doses entre 2.400.000UI a 7.200.000UI. Dentre os recém-nascidos, a maioria (72,4%) apresentou VDRL reagente no sangue, e somente, cerca de 1/3 (35,3%) realizou a pesquisa de VDRL no LCR; destes, apenas 2 (0,6%) apresentaram VDRL reagente no LCR. O exame radiológico foi realizado em 551 (54,9%) crianças; destas 62 (11,3%) apresentaram alterações. Mais de 90% eram assintomáticos; dentre os que apresentaram sintomatologia, a icterícia ocorreu em 47 (61,0%) casos. O tratamento em 63,6% dos recém-nascidos foi realizado com vários esquemas de penicilina; destes 607 (95,1%) foram tratados com penicilina G cristalina por 10 ou mais dias. No período estudado a taxa de incidência de sífilis congênita na maternidade reduziu 34,4%, mas o número absoluto aumentou de 66 casos em 2008 para 83 no ano de 2017. O coeficiente de mortalidade por sífilis congênita variou ao longo dos anos, com maior coeficiente observado no ano de 2009, de 0,8/1000 nascidos vivos. Apesar das mulheres terem tido boa adesão ao pré-natal, parece que este não teve adequada qualidade, a julgar pelo inferior número de consultas realizadas em oposição ao preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil, o que pode ter dificultado o rastreamento (VDRL) para sífilis nas consultas durante a gestação. Variáveis epidemiológicas com ausência de informações (sub-registros) constituíram limitações na interpretação dos dados para sífilis materna. O aumento do número de casos de sífilis congênita sugere a necessidade de direcionamento das estratégias de abordagem para esse problema de saúde pública nos cuidados dispensados durante o pré-natal
Syphilis is determined by Treponema pallidum, bacteria that is responsible for systemic infection and if it is present in the pregnant woman may lead to congenital syphilis and, consequently, severely compromise the conceptus; This study aims to know the clinical, laboratory and epidemiological aspects of congenital syphilis in the last decade (2008 – 2017) in a reference maternity for risk pregnancy in the State of Pará. Epidemiological, descriptive, cross-sectional, documentary and retrospective study with data obtained in medical records of newborns diagnosed with congenital syphilis from 2008 to 2017, with descriptive analysis of variables related to the mother-child binomial. Of the 1004 records analyzed, there was a predominance of the age group from 15 to 20 years (36.9%), followed by age between 21 to 25 years (29.7%) and nine cases of mothers under 15 years of age; 66.7% had incomplete primary education. About 1/3 (37.5%) were single; 74.2% were housewives. Most (79.9%) performed prenatal care; and in more than half (63.6%) the number of appointments was less than six. Diagnosis of syphilis in pregnancy, in 66.1% of the cases, occurred only at the time of delivery. Treatment during the gestational period in 95.9% was performed with benzathine penicillin G, with doses from 2,400,000 IU to 7,200,000 IU. Among the newborns, the majority (72.4%) showed reagent VDRL in the blood and about 1/3 (35.3%) performed VDRL in cerebral spinal fluid (CSF); of these, only 2 (0,6%) were reagent. Radiological examination was performed on 551 (54.9%) children; of these 62 (11.3%) presented alterations. More than 90% were asymptomatic; among those with symptoms, jaundice occurred in 47 (61.0%) cases. Treatment in 63.6% of newborns was performed with various penicillin regimens; of these 607 (95.1%) were treated with crystalline penicillin G for ten or more days. During the study period the incidence rate of congenital syphilis in the maternity ward decreased 34.4%, though the absolute number increased from 66 cases in 2008 to 83 in 2017. The mortality rate from congenital syphilis varied over the years, with the highest coefficient observed in the year 2009, 0.8/1000 live births. Despite women had good adherence to pre-natal care, it may have not been of good quality of them, considering the low number of appointments in opposition to what is determined by the Health Ministry of Brazil during pregnancy, which may cause difficulty to syphilis screening (VDRL) during gestational appointments. Epidemiological variables with absence of information (subregistration) limited the interpretation of maternal syphilis data. The increase in the number of congenital syphilis cases suggests improvement on the strategies necessary to approach this public health problem during the pre-natal care