Relações entre bullying na adolescência e interações familiares: do singular ao plural
Relationship between bullying during adolescence and family interactions: from the individual to the collective
Publication year: 2017
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto to obtain the academic title of Doutor. Leader: Silva, Marta Angélica Iossi
Os objetos de investigação desse estudo foram o bullying escolar e as interações familiares. O bullying é um tipo de violência considerado problema de saúde pública e as interações familiares são caracterizadas pelas práticas parentais, comportamentos e sentimentos. Objetivou-se analisar e compreender a relação entre a qualidade das interações familiares de adolescentes e o envolvimento em situações de bullying escolar, a partir da perspectiva dos estudantes. Participaram do estudo 2.354 (meninas = 50, 7%; idade média M = 14,5 anos, DP = 2,0 anos) estudantes do ensino fundamental e médio, de 11 escolas públicas de Uberaba/MG. A abordagem da triangulação metodológica foi adotada e se conjugou na coleta de dados o uso de duas escalas (bullying e interações familiares), além da técnica de entrevistas semiestruturadas.
Os procedimentos de análise dos dados incluíram:
análise estatística descritiva; análise de variância e regressão logística para avaliar o poder preditivo ou protetivo de variáveis familiares em relação ao bullying escolar. As entrevistas foram analisadas por meio da análise de conteúdo, em sua modalidade temática, no software Atlas.TI.Desse processo emergiram três categorias temáticas:
1) Inter-relações e influências familiares no que ocorre na escola; 2) Família como espaço para o desenvolvimento ético e moral; 3) Sinergias e enfrentamento de base familiar e escolar. O referencial teórico-metodológico adotado foi a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento de Urie Bronfenbrenner. O estudo identificou uma prevalência de 10,3% de estudantes agressores, 10,1% de vítimas e 5,4% de vítimas-agressoras na amostra. Na análise combinada dos dados, verificou-se que os estudantes não-envolvidos em situações de bullying possuíam melhores interações familiares, sugerindo um padrão inverso de interações familiares para estudantes identificados como agressores, vítimas e vítimas-agressoras. A análise de variância revelou essa constatação ao identificar diferenças significativas entre os grupos de estudantes (não-envolvidos, agressores, vítimas e vítimas-agressoras) no que se refere à qualidade das interações familiares. Efeitos do monitoramento e o estabelecimento de regras no contexto familiar foi um aspecto protetivo identificado, e se observou que envolvimento, comunicação e clima conjugal positivos e apego às figuras parentais são dimensões a serem exploradas para definir estratégias de proteção e enfrentamento do bullying. Aspectos negativos das interações familiares foram associadas a maior possibilidade de bullying ou vitimização entre os estudantes. Confirmou-se que a qualidade das interações familiares exerce influência no envolvimento dos adolescentes em situações de bullying escolar enquanto agressores, vítimas ou vítimas-agressoras. Os dados encontrados foram congruentes com estudos que revelaram serem as famílias de agressores e vítimas menos funcionais do que as famílias de estudantes sem envolvimento com bullying. A triangulação metodológica foi relevante para captar os sentidos e os significados atribuídos pelos adolescentes às diferentes interações familiares na construção de práticas de bullying e vitimização. As influências temporais e potenciais das experiências familiares incluíram desde situações que protegem àquelas que são potencialmente perigosas para que os estudantes pratiquem ou sofram bullying na escola. Implicações para a área da saúde foram exploradas a partir dos aspectos empíricos explorados no estudo
This study's research objects were school bullying and family interactions. Bullying is a type of violence considered to be a public health problem and family interactions are characterized by parental practices, behaviors and feelings. The objective was to analyze and understand the relationship between the quality of adolescents' family interactions and their involvement in school bullying from their own students' perspective. A total of 2,354 primary and middle school students (girls = 50.7%; average age = 14.5 years old, SD = 2.0 years) from 11 public schools from Uberaba, MG, Brazil participated in the study. Methodological triangulation was adopted and data were collected using two scales (bullying and family interactions), in addition to semi-structured interviews.