Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais to obtain the academic title of Mestre. Leader: Moreira, Alexandra Dias
Introdução:
A assistência ao parto tem passado por transformações ao longo dos anos, e a incorporação de diversas tecnologias à prática obstétrica contribuiu para que a mulher deixasse de ser protagonista do processo parturitivo em muitas das circunstâncias. Dados populacionais demonstram que menos de 5% das gestantes brasileiras tiveram experiência de parto sem intervenções e que há uma baixa prevalência de práticas obstétricas recomendadas durante a assistência ao trabalho de parto e uma alta prevalência de práticas obstétricas não recomendadas. Existem estudos que relacionam a presença de comorbidades, como a diabetes mellitus gestacional (DMG), a um elevado número de práticas obstétricas não recomendadas. Dessa forma, estudar a associação entre DMG e as práticas obstétricas em diferentes grupos etários e contextos socioeconômicos torna-se importante, na medida em que há poucos estudos sobre DMG no Brasil e aqueles sobre intervenções obstétricas são limitados, considerando que avaliam poucas intervenções ou não as associam a doenças crônicas, em especial à DMG. Objetivo:
Estimar a associação entre diagnóstico de DMG e práticas obstétricas, com base nas características sociodemográficas das gestantes, em maternidades de Belo Horizonte, Minas Gerais. Métodos:
Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido com dados da pesquisa “Nascer em Belo Horizonte: Inquérito sobre parto e Nascimento”, envolvendo 1.088 mulheres. Foram realizados dois tipos de análise:
PCA (Análise de Componentes Principais) e Cluster. Para avaliar a coexistência entre presença de DMG, plano de saúde e idade materna acima dos 35 anos (exposição) e a presença de intervenções obstétricas (desfechos), criou-se um score em tercis do padrão encontrado e utilizouse o teste qui-quadrado. Para a segregação de grupos correlacionados, utilizou-se a análise de clusters, para gerar grupos que unissem informações sobre a presença ou não da DMG em diferentes médias de idade. A diferença de médias de idade entre os grupos foi avaliada por meio do teste t. As associações entre o diagnóstico de DMG (exposição) e cada prática obstétrica (desfechos) foram com base nos testes quiquadrado de Pearson ou Exato de Fisher, por clusters de idade materna, considerando a significância de 5%. Resultados:
A análise de PCA mostrou que o padrão foi composto pelas variáveis posse de plano de saúde, idade materna avançada e presença de DMG, e esse padrão foi associado às seguintes práticas obstétricas durante o trabalho de parto: posição deitada, enema, ausência de deambulação, utilização de acesso intravenoso, não oferecimento de dieta e via de nascimento cesariana. Foram encontradas maiores proporções dessas práticas no terceiro tercil do padrão obtido pela análise de componentes principais (p < 0,05). Os resultados apontaram associações estatisticamente significativas entre ter DMG e as seguintes práticas obstétricas, no cluster de mulheres mais jovens: maior proporção de analgesia durante o parto (50%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (26,13%) e uso de fórceps ou vácuo extrator (23,08%) em comparação com mulheres sem DMG (4,85%). No cluster de mulheres mais velhas que apresentaram DMG houve associação estatisticamente significativa para oferecimento de dieta (16,67%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (13,61%) e maior uso de antibiótico durante o trabalho de parto (24,14%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (9,05%). No cluster de mulheres mais jovens, aquelas com diabetes, em comparação com mulheres sem DMG, deambularam mais durante o trabalho de parto (93,33%), fizeram mais uso de CTG (cardiotocografia) (12,50%), amamentaram menos na primeira hora de vida do recém-nascido (40,00%), tiveram menor contato pele a pele com o bebê (52,00%), fizeram maior uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor (96,00%), apresentaram maior uso de medicamento intravaginal para indução do parto (37,50%) e apresentaram mais episódios de infecção urinária (68,00%). Conclusão:
Demonstrou-se que a presença do diagnóstico de DMG pode ser apontada como potencial fator de risco para o uso de práticas obstétricas não recomendadas e que essa relação também é potencializada ao se considerar idade elevada, bem como posse de plano de saúde.