Construção e validação de um questionário de frequência alimentar para adultos brasileiros de acordo com a classificação Nova
Development and validation of a food frequency questionnaire for Brazilian adults according to the Nova system classification

Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Mestre. Leader: Louzada, Maria Laura da Costa

Introdução:

A ciência tem mostrado cada vez mais os efeitos deletérios da alimentação inadequada sobre a saúde humana e planetária. Nesse cenário, o estudo da alimentação, considerando o processamento, ganha destaque, e surge a classificação Nova, que categoriza alimentos segundo grau, extensão e propósito de processamento. Essa classificação tem sido utilizada em diversos estudos epidemiológicos. Entretanto, tais estudos têm uma limitação em comum: o uso de instrumentos de avaliação do consumo alimentar inespecíficos para o processamento de alimentos, o que pode levar a vieses na mensuração do consumo alimentar e seus efeitos na saúde global.

Objetivo:

Desenvolver e validar um questionário de frequência alimentar (QFA-Nova) que avalia o consumo habitual de alimentos segundo a classificação Nova para adultos brasileiros.

Métodos:

O QFA-Nova é um questionário autoaplicável e quantitativo. A lista de alimentos incluiu os alimentos mais consumidos (em diferentes graus de processamento) pela população brasileira adulta, de acordo com dados de dois recordatórios de 24 horas da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018 (POF 17-18). Um pré-teste foi realizado com amostra de 20 adultos para avaliar a compreensão do instrumento. Para a validação, foram utilizados os dados do estudo NutriNet Brasil, que investiga a relação entre padrões alimentares e morbimortalidade por doenças crônicas não-transmissíveis em adultos brasileiros. Foram convidados, através da plataforma do estudo, 1.200 participantes. Os participantes responderam a dois recordatórios de 24 horas desenvolvidos e validados, previamente, para avaliar o processamento de alimentos (R24h-Nova) no ano anterior e responderam o QFA-Nova duas vezes com intervalo de quatro a seis semanas.

Foram comparadas as estimativas de consumo dos seguintes grupos da classificação Nova:

alimentos in natura ou minimamente processados (G1), ingredientes culinários processados (G2), alimentos processados (G3) e alimentos ultraprocessados (G4). Para reprodutibilidade, foram comparadas as estimativas das duas aplicações do QFA-Nova. Para validade de critério, foram comparadas as estimativas da primeira aplicação do QFA-Nova e da média de dois R24h-Nova. Foi estimado o coeficiente de correlação intraclasse para as duas análises. Para validação de critério, foi estimado também a concordância da classificação em quintis de consumo dos grupos da classificação Nova por meio do coeficiente kappa.

Resultados:

Foram incluídos 243 participantes na análise de reprodutibilidade e 377 participantes na análise de validação de critério. A análise de reprodutibilidade mostrou excelente capacidade de reprodução de resultados semelhantes ao longo do tempo com coeficiente de correlação intraclasse de 0,91 para todos os grupos. Na validação de critério, houve concordância moderada entre os instrumentos com coeficiente de correlação intraclasse que variou entre 0,61 para alimentos processados e ultraprocessados e 0,65 para alimentos in natura e minimamente processados. A classificação em quintis apresentou concordância substancial através do coeficiente kappa ajustado para prevalência e viés (PABAKs= 0,74; 0,72; 0,70 e 0,73, respetivamente, para G1, G2, G3 e G4 da Nova).

Conclusões:

O QFA-Nova é um instrumento válido para avaliar o consumo alimentar segundo o processamento de alimentos. O instrumento apresentou também boa capacidade de discriminar indivíduos segundo magnitude de consumo de todos os grupos da classificação Nova. Espera-se que o QFA-Nova seja utilizado em estudos epidemiológicos que investiguem o impacto do processamento de alimentos na saúde pública.

Introduction:

Science has increasingly shown the deleterious effects of inadequate nutrition on human and planetary health. In this scenario, the study of nutrition considering food processing has gained prominence, leading to the development of the Nova classification, which categorizes foods based on the degree, extent, and purpose of processing. This classification has been widely used in epidemiological studies. However, these studies share a common limitation: the use of non-specific dietary assessment tools for food processing, which may lead to biases in measuring dietary intake and its effects on global health.

Objective:

To develop and validate a food frequency questionnaire (FFQ-Nova) that assesses the habitual food intake according to the Nova classification in Brazilian adults.

Methods:

The FFQ-Nova is a self-administered, quantitative questionnaire. The food list included the most consumed foods (at different degrees of processing) by the Brazilian adult population, based on data from two 24-hour dietary recalls from the Household Budget Survey 2017-2018 (POF 17-18). We conducted a pre-test with a sample of 20 adults to assess the understanding of the instrument. We used data from the NutriNet Brazil study, which investigates the relationship between dietary patterns and morbidity/mortality from non-communicable chronic diseases in Brazilian adults for validation. 1,200 participants were invited through the study platform. Participants completed two 24-hour recalls previously developed and validated to assess food processing (R24h-Nova) in the previous year and completed the FFQ-Nova twice, four to six weeks apart.

We compared the consumption estimates of the following groups of the Nova classification:

unprocessed or minimally processed foods (G1), processed culinary ingredients (G2), processed foods (G3), and ultra-processed foods (G4). For reproducibility, we compared the estimates from the two applications of the FFQ-Nova. For criterion validity, we compared the estimates from the first administration of the FFQ-Nova with the mean of two R24h-Nova. We estimated the intraclass correlation coefficients for both analyses. For criterion validation, we also estimated the agreement of the classification into quintiles of consumption of the Nova groups using the kappa coefficient.

Results:

We included 243 participants in the reproducibility analysis and 377 participants in the criterion validity analysis. The reproducibility analysis demonstrated excellent reproducibility over time, with an intraclass correlation coefficient of 0.91 for all Nova groups. In the criterion validity analysis, there was moderate agreement between the instruments, with intraclass correlation coefficients ranging from 0.61 for processed and ultra-processed foods to 0.65 for unprocessed and minimally processed foods. The classification into quintiles showed substantial agreement, as indicated by the prevalence- and bias-adjusted kappa coefficients (PABAKs= 0.74; 0.72; 0.70 and 0.73 respectively for Nova's G1, G2, G3 and G4).

Conclusion:

The FFQ-Nova is a valid instrument for assessing dietary intake according to food processing. The instrument also showed good ability to discriminate individuals according to the magnitude of consumption in all Nova groups. We expected that the FFQ-Nova will be used in epidemiological studies to investigate the effects of food processing on public health.

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