Já viste como chora uma cerejeira?: Passos para uma antropologia da esquizofrenia
Have you ever seen how a cherry tree cries?: Steps towards an anthropology of schizophrenia

Publication year: 2020

“Da combinação nem sempre homogênea de etnografia e teoria surge precisamente este livro, que está estruturado em quatro capítulos: “A enfermidade”, “A cidade”, “O confinamento” e “A linguagem”. (p.16)(…) Os dados etnográficos utilizados para a elaboração deste livro provém do meu trabalho de campo em diferentes instituições psiquiátricas de Barcelona ao longo de três anos (1990-1993).” (p.18) “A loucura nos coloca no espelho da nossa própria ignorância. Talvez seja por isso que às vezes respondemos ante ela com certezas hipertrofiadas. Alguns veem na loucura cérebros mórbidos. Outros, uma estrutura do sujeito derivada da forclusão do nome do pai. Alguns veem problemas cognitivos; outros dinâmicas familiares e vínculos duplos. Na minha perspectiva, tudo isso é tão válido quanto errado. Válido se serve como uma hipótese que abre caminhos e tem consciência de sua natureza provisória. Errado quando a teoria prende o sujeito e sua vida e os subsome em um diagnóstico, em um julgamento e a partir daí não vemos mais nada, apenas nossas próprias teorias e certezas, apenas nós mesmos. Não há surpresa ou aprendizado nessa perspectiva e, como disse Aristóteles, sem surpresa não há conhecimento.” (p.12-13) “(…) a atualidade desse belíssimo trabalho etnográfico esteja justamente em nos convocar a essa dimensão do ser-seja. No ser, naquilo que a pessoa é, e que nos convoca a um olhar atento à singularidade da experiência para além de nossas abordagens especialistas, e no seja que não a reduz sequer a esta leitura ou tradução da singularidade, pois nos remete sempre a apontar para uma possibilidade futura que por ventura seja construída. É, assim, exercitar em ato a liberdade e radicalmente dissolver as mortificações para produzir memoriais da vida.” (p.11)

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