Linhas do tempo: acompanhamento terapêutico na rede pública
Timelines: therapeutic monitoring in the public network

Publication year: 2022

Este livro dá testemunho da trajetória de mais de vinte anos do Programa de Acompanhamento Terapêutico na Rede Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e traz a público a interlocução com experiências similares de outras universidades do país. São andanças pelos caminhos a que o acompanhamento terapêutico (AT) foi nos levando, em trajetos que não foram traçados de antemão, mas acompanham o desenrolar da política de saúde mental e suas redes de atenção psicossocial em contexto brasileiro. Nossa trajetória e a de nossos parceiros reiteram o AT como expressão de uma política pública que propõe um cuidado integral à saúde e um cuidado em liberdade, na forma mais radical com que a clínica se faz, como empuxo à cidade. O AT constitui, por isso, um dispositivo potente de formação, que nos lança nessa experiência radical de encontro com o outro e com a cidade. E ele é também um método, um meio de pesquisa através do qual colocamos em análise: a clínica, levada ao seu limite; a reforma psiquiátrica, em seus efeitos sobre os serviços e as comunidades de cada território; a intersetorialidade, em sua (des)articulação em redes territoriais de cuidado. Aprendemos o quanto pode ser tênue, às vezes, a distância entre uma prática em rede que se deixa guiar em seus passos pelo andar do sujeito a quem acompanha e outra que simplesmente recobre o sujeito numa trama feita com fios de controle e vigilância. O AT, portanto, nessa experiência, é, não só um articulador, mas também um analisador das redes, assumindo o ponto de vista dos nossos acompanhados e acompanhadas para olhar essa rede e movimentar-se nela. As histórias que aqui se contam mostram um caminho que se fez, desde sempre, no contrafluxo das lógicas manicomializantes, da hegemonia biomédica, dos higienismos que persistem no mundo. Se as forças com que o AT se enfrenta hoje se multiplicam e desafiam ainda mais o nosso andar, o que nos anima a seguir caminhando é a força motora de uma utopia – a de que a diferença pode ter lugar na comunidade, pode habitar uma cidade. Convidamos quem nos lê a juntar-se a nós nessas andanças.

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