Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Doutor. Leader: Alvarenga, Marle dos Santos
Introdução:
A maioria dos estudos em alimentação e nutrição ainda focam no consumo alimentar e atestam baixa aderência às recomendações oficiais. Menos estudos investigam como julgamentos e percepções de saudabilidade influenciam a alimentação; e estes quando realizados, geralmente envolvem amostras homogêneas e não costumam comparar países, o que limita compreensões socioculturais. Objetivos:
Avaliar e comparar os julgamentos e percepções da saudabilidade de alimentos entre adultos leigos no Brasil (BR) e Alemanha (DE) (1) explorando os alimentos mais frequentemente listados como "saudáveis" e "não saudáveis" e as razões destes julgamentos; (2) avaliando se existem incongruências entre o julgamento de saudabilidade destes alimentos e a frequência de consumo dos mesmos, considerando características individuais dos participantes; e (3) examinando o efeito de quatro alegações (controle, foco em nutrientes, foco no processamento e indulgente) na percepção de saudabilidade de um alimento tipicamente considerado "não saudável", na capacidade percebida deste alimento afetar o peso, adequação deste alimento num dia alimentar saudável, sua estimativa calórica e desejo de comer. Métodos:
Estudo online transversal com abordagem qualitativa, quantitativa e experimental. Foram utilizadas perguntas abertas e fechadas avaliando julgamentos e percepções da saudabilidade de alimentos, avaliação da frequência de consumo alimentar e questionário sociodemográfico. Análises incluíram Índice de Saliência de Smith, princípios de Análise de Conteúdo, cálculo de escores de incongruência entre julgamento de saudabilidade e frequência de consumo e Modelos Lineares Gerais (GLM) controlados por variáveis sociodemográficas e/ou nível de fome. Resultados:
Sobre o objetivo 1, os participantes [BR n=205, DE n=150, média 40,3 (DP =13,3) anos] listaram principalmente alimentos in natura ou minimamente processados como saudáveis, enquanto alimentos do tipo fast food, doces e processados como não saudáveis. Alguns itens de cunho cultural também foram acentuados (ex.: arroz, feijão no BR vs. batata e pão na DE). Em ambos países, as principais razões dos julgamentos foram conteúdo nutricional dos alimentos, reforçando a dicotomia de "bom/saudável", "ruim/não saudável" e centraram-se nos benefícios ou malefícios ao corpo (ex.: prevenção ou causa de doenças, controle de peso). Quanto ao objetivo 2 [BR n=282, DE n=248, média 43,2 (D=14,3) anos], houve evidência de incongruência entre o julgamento de saudabilidade e a frequência de consumo alimentar, especialmente no BR (p = 0,01, d = 0,23). As principais características associadas às incongruências (ps < 0,048, η2ps > 0,01) foram gênero (ds > 0,27), idade (βs > 0,14) e preocupação com saúde (βs > 0,12). E sobre o objetivo 3 [BR n=291, DE n=343, média 42,8 (DP=14,6) anos], as alegações com foco em nutrientes e processamento tornaram as percepções do alimento como mais saudável em comparação às alegações controle e indulgente nos dois países (ps < 0,001, ω2s > 0,04), e não houve efeito das alegações sob o desejo de comer (p = 0,258, ω2 = 0,001). Os brasileiros, no entanto, foram mais afetados pelas alegações (ds > 0,55) e não houve indicação que a alegação com foco no processamento foi mais relevante para a amostra brasileira comparada a alegação com foco em nutrientes (ds > 0,10). Conclusão:
Houveram mais semelhanças que diferenças entre países de contexto socioculturais diferentes. Os resultados sugerem uma perspectiva reducionista sobre saudabilidade, com acentuado foco nos nutrientes. Os julgamentos de saudabilidade, no entanto, não se traduzem em relato de consumo, evidenciando assim incongruências. Ainda, as alegações alimentares influenciaram de forma diferente as percepções sobre o mesmo alimento, mesmo este sendo tipicamente considerado não saudável.
Introduction:
Most studies on food and nutrition still focus on food consumption and show low adherence to official recommendations. Fewer studies investigate how healthiness judgments and perceptions influence eating; and these, when carried out, usually involve homogeneous samples and do not usually compare countries, which limits sociocultural understandings. Objectives:
To evaluate and compare food healthiness judgments and perceptions among lay adults in Brazil (BR) and Germany (DE) by (1) exploring the foods most frequently listed as "healthy" and "unhealthy" and the reasons for these judgments; (2) assessing whether there are inconsistencies between the healthiness judgment of these foods and the frequency of their consumption, considering individual characteristics of the participants; and (3) examining the effect of four claims (control, nutrients focus, food processing focus, and indulgent) on perceived healthiness of a food typically considered "unhealthy", on the perceived capacity of this food to affect weight, appropriateness of this food in a healthy day, its calorie estimation and desire to eat. Methods:
Cross-sectional online study with a qualitative, quantitative and experimental approach. Open and closed ended questions were used to evaluate food health judgments and perceptions, assessment of frequency of food intake and sociodemographic questionnaire. Analyses included Smith's Salience Index, principles of Content Analysis, calculation of incongruence scores between judgments of healthiness and frequency of consumption, and General Linear Models (GLM) controlled for sociodemographic variables and/or level of hunger. Results:
Regarding objective 1, participants [BR n=205, DE n=150, mean 40.3 (SD =13.3) years] listed mainly natural or minimally processed foods as healthy, and fast food, sweet and processed foods as unhealthy. Some culturally driven items were also accentuated (e.g., rice, beans in BR vs. potato and bread in DE). In both countries, the main reasons for the judgments were the nutritional content of foods, reinforcing the dichotomy of "good/healthy", "bad/unhealthy" and focused on the benefits or harm to the body (e.g. prevention or cause of diseases, weight control). As for objective 2 [BR n=282, DE n=248, mean 43.2 (SD=14.3) years], there was evidence of incongruence between healthiness judgment and frequency of food consumption, especially in BR (p = 0.01, d = 0.23). The main characteristics associated with incongruence (ps < 0.048, η2ps > 0.01) were gender (ds > 0.27), age (βs > 0.14) and health concern (βs > 0.12). And on objective 3 [BR n=291, DE n=343, mean 42.8 (SD=14.6) years], the claims highlighting nutrients or processing aspects rendered the perceptions of the food healthier compared to control and indulgent claims in both countries (ps < 0.001, ω2s > 0.04), and there was no effect of the claims on desire to eat (p = 0.258, ω2 = 0.001). Brazilians, however, were more affected by the claims (ds > 0.55) and there was no indication that the food processing-focused claim was more relevant for the Brazilian sample compared to the nutrient-focused claim (ds > 0.10). Conclusion:
There were more similarities than differences between countries with different sociocultural backgrounds. The results suggest a reductionist perspective on food healthiness, with a strong focus on nutrients. Healthiness judgments, however, do not translate into consumption reports, thus showing incongruences. Furthermore, food claims influenced food related perceptions of the same food differently, even when the food is typically considered unhealthy.