O estudo é parte do Projeto de pesquisa “Equitação para jovens: contribuições para o desenvolvimento biopsicossocial”, realizado na ANDE-BRASIL. Crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica podem apresentar prejuízos no desenvolvimento cognitivo pela falta ou por reduzido capital financeiro, cultural e social devido ao contexto em que estão inseridos. Entender como estão as habilidades cognitivas neste público representa um avanço científico uma vez que ainda temos uma lacuna no arcabouço teórico sobre a temática e, ainda, proporciona impactos sociais e educacionais na medida em que traz implicações escolares.

Objetivo:

Analisar o desempenho em tarefas neuropsicológicas de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica com e sem queixa de mau desempenho acadêmico (MDA) durante a pandemia da COVID-19.

Método:

trata-se de um estudo observacional analítico transversal, com amostra de conveniência. A pesquisa foi realizada com 100 indivíduos, com idade entre 7 e 17 anos. O período da coleta ocorreu entre julho de 2020 e janeiro de 2021. Foi realizada avaliação neuropsicológica, por meio dos instrumentos NEUPSILIN ou NEUPSILIN-Inf, a depender das idades dos participantes. Os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva e de associação. Na análise univariada foram realizados os testes Qui-quadrado de Pearson ou Teste Exato de Fisher e Mann-Whitney, e na análise multivariada foi realizado o Modelo de Regressão de Poisson. Os valores com significância estatística considerados apresentaram valores de p ≤ 0,05.

Resultados:

Foram analisados os dados de 84 indivíduos e foram contabilizadas 16 perdas. A média de idade da amostra total foi de 10,89 (±2,6), com distribuição similar entre os sexos. Destes, 42,9% apresentaram queixa de MDA, com a maioria das queixas na população infantil. Na comparação dos grupos com bom (BDA) e mau desempenho acadêmico (MDA) e as habilidades cognitivas analisadas observou-se diferença estatística nas variáveis: Evocação imediata, Habilidades aritméticas total, Processamento de inferências, Linguagem oral total, Escrita copiada, Rima, Leitura de sílabas, de palavras e de pseudopalavras, Escrita de palavras e de pseudopalavras e Fluência verbal ortográfica. Na análise multivariada observou-se diferença estatística nas variáveis: Habilidades aritméticas total e Linguagem oral total. Os indivíduos que apresentaram prejuízo no subteste de Habilidades aritméticas têm 31,9% a mais de chance de apresentar queixa de MDA. E os indivíduos que apresentaram prejuízo no subteste de Linguagem oral têm 30,20% a mais de chance de apresentar queixa de MDA. Não houve diferença estatística entre a queixa de MDA e a idade.

Considerações finais:

Os participantes com queixa de MDA apresentaram maior prejuízo nos subtestes de Habilidades aritméticas e de Linguagem oral e escrita. Dessa forma, as correlações entre habilidades cognitivas e o impacto acadêmico na população estudada e suas implicações clínicas e educacionais foram discutidas neste estudo. Os resultados trazem contribuições para o direcionamento de intervenções clínicas, elaboração de projetos pedagógicos, sociais e de políticas públicas, com o intuito de minimizar os impactos negativos do contexto de vulnerabilidade socioeconômica e do isolamento social devido à pandemia da COVID-19.