Violência e Saúde Mental: desafios contemporâneos
Violence and Mental Health: contemporary challenges

Publication year: 2023

Este texto explora as problemáticas emergentes no contexto brasileiro do século XXI relacionadas às intersecções entre violências e saúde mental. Se há pelo menos três séculos a humanidade experimentou o transcurso da era viral e bacteriológica, o que acomete com grande intensidade na contemporaneidade são os sofrimentos psicológicos, doenças mentais, distúrbios emocionais e os variados tipos de agressões que atingem cotidianamente pessoas de diferentes lugares, idades, classes, etnias, raça, cor da pele, orientação sexual e gênero (Whitaker, 2017). Problemas que além de afetarem as vítimas diretas, adentram no tecido social, entrelaçam processos de produção de subjetividades, estabelecem rearranjos organizacionais do convívio nas cidades e introduzem outras formas de viver em sociedade. A violência atrelada ao conjunto de determinantes sociais pode constituir e desenvolver sofrimentos, adoecimentos e transtornos mentais, impactando de forma insidiosa a saúde e a vida das vítimas e das pessoas que convivem no contexto violento. Ainda, aquelas que apresentam algum tipo de problema mental são mais vulneráveis à violência interpessoal, além de potencialmente sofrerem com a violência estrutural, conforme a classificação de Minayo (2006). Portanto, trata-se de uma intersecção que se retroalimenta: a violência afeta a saúde mental e os adoecimentos mentais vulnerabilizam à violência. Ositinerários percorridos pelas vítimas na busca por proteção contra violências e cuidado em saúde mental são marcados por fragilidades, negligências e dificuldades de acesso - tanto no que tange às redes institucionais, como serviços de saúde, quanto sociais, como familiares e amigos. Trata-se, portanto, de problemas de difícil resolução e que são permeados por rotas críticas e ineficientes, principalmente quando envolvem grupos sociais vulnerabilizados - como mulheres, negras e pobre em uma sociedade marcada por um regime racista, patriarcal e capitalista. A produção científica sobre essas duas questões no campo da Saúde Coletiva, embora tenha aumentado nos últimos anos, ainda carece de evidências que deem conta de compreender ambos os fenômenos na sua totalidade, principalmente quando interseccionados, tendo em vista a rápida transformação social na contemporaneidade. Assim, este texto visa contribuir com o debate a partir da apresentação de um mapa conceitual e epidemiológico, além dos desafios que emergem na sociedade.

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