A gestão do sofrimento psíquico infantojuvenil: Uma pesquisa com a Rede de Atenção Psicossocial do município do Rio de Janeiro
The management of child and adolescent psychological suffering: A study with the Psychosocial Care Network of the municipality of Rio de Janeiro
Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro to obtain the academic title of Doutor. Leader: Lima, Rossano Cabral
Nesta tese investigamos a noção de sofrimento psíquico, cotejando esse conceito com os de sofrimento social e transtorno mental, na rede de atenção psicossocial infantojuvenil do município do Rio de Janeiro. Consideramos como ponto de partida a construção do sentimento de infância e sua penetração no Brasil por meio do discurso higienista, resultando na tardia inserção da criança na agenda da atenção psicossocial brasileira. Em seguida, apontamos a polifonia discursiva contida na noção de sofrimento e abordamos o tema teoricamente a partir do método genealógico foucaultiano, identificando nessa polifonia os discursos: antropológico, biomédico e psicanalítico. A partir daí, exploramos os distintos níveis do governo da infância, tendo como guias os conceitos de biopoder, biopolítica, governamentalidade e medicalização. Para avançar na investigação, aplicamos metodologia qualitativa com a técnica de coleta de dados por meio de grupo focal, realizado a partir do relato de um caso traçador, eleito por cada equipe de quatro CAPSi da rede de atenção psicossocial infantojuvenil do município do Rio de Janeiro. Os achados da pesquisa nos mostram, por ora, que a noção de transtorno mental, representante do discurso biomédico, mantém-se presente nas práticas da saúde mental em paralelo às noções de sofrimento psíquico e sofrimento social. Há, no entanto, um certo mascaramento do sofrimento motivado pelo social em favor do sofrimento psíquico que, para ser reconhecido, precisa ser nomeado como transtorno. Esse achado nos parece se justificar pela própria condição psíquica da criança e mesmo do adolescente, ainda apresentados (falados) pelo outro. Em nossa interpretação, essa condição se radicaliza quando a história social da criança não lhe oferece marcas do infantil que favoreceriam que o sentimento de infância se fizesse representar nas histórias dessas crianças e adolescentes. (AU)
In this thesis, we investigate the notion of psychological suffering, comparing this concept with those of social suffering and mental disorder, in the child and adolescent psychosocial care network of the municipality of Rio de Janeiro. We consider as a starting point the construction of the feeling of childhood and its penetration in Brazil through the hygienist discourse, resulting in the late insertion of the child in the Brazilian psychosocial care agenda. Next, we point out the discursive polyphony contained in the notion of suffering and approach the subject theoretically from the Foucauldian genealogical method, identifying in this polyphony the discourses: anthropological, biomedical and psychoanalytic. From there, we explore the different levels of childhood government, guided by the concepts of biopower, biopolitics, governmentality and medicalization. To advance in the investigation, we applied a qualitative methodology with data collection technique through focus group, carried out from the report of a tracer case, elected by each team of four CAPSi from the child and adolescent psychosocial care network of the municipality of Rio de Janeiro. The research findings show us, for now, that the notion of mental disorder, representative of the biomedical discourse, remains present in mental health practices in parallel with the notions of psychic suffering and social suffering. However, there is a certain masking of suffering motivated by the social in favor of psychic suffering which, to be recognized, needs to be named as a disorder. This finding seems to be justified by the very psychic condition of the child and even of the adolescent, still presented (spoken) by the other. In our interpretation, this condition is radicalized when the child’s social history does not offer him marks of the infantile that would favor the feeling of childhood to be represented in the stories of these children and adolescents. (AU)