Avaliação de herpesvírus em sangue e saliva de pacientes cirróticos
Evaluation of herpesvirus in blood and saliva of cirrhotic patients
Publication year: 2024
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Mestre. Leader: Ortega, Karem Lopez
Pacientes cirróticos em fila de transplante hepático possuem inúmeros prejuízos em vias fisiológicas, como a evidente deficiência imune. O dano ao sistema reticuloendotelial, o comprometimento das vias e células de defesa tornam o paciente hepatopata mais propenso ao desenvolvimento de infecções que influem em sua qualidade de vida e podem piorar o seu prognóstico. Ainda neste grupo, a existência de compostos tóxicos não excretados pelo fígado cirrótico pode favorecer quadros inflamatórios e a latência viral. A família dos Herpesvírus humanos (HHV) possui o atributo de desenvolver latência vitalícia nos indivíduos infectados e seus episódios de reativação podem ser precipitados por quadros de imunossupressão. O uso da saliva para identificação de HHV é viável e pode demonstrar os 8 subtipos virais em diferentes níveis. O objetivo deste estudo foi identificar a presença de HHV-1, HHV-2, VZV, EBV, CMV, HHV-6A, HHV-6B, HHV-7 e HHV-8 em amostras de plasma sanguíneo e saliva de pacientes com cirrose hepática em fila de espera pelo transplante e verificar se a presença desses vírus tem relação com dados da cirrose, como doença descompensada, complicações e etiologia, além de dados advindos de exames sanguíneos, como a população de leucócitos circulantes. Foi desenvolvido um estudo transversal observacional com dados demográficos e médicos de prontuários e amostras de sangue e saliva de 72 indivíduos cirróticos provindas do Biobanco da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, onde permaneceram congeladas em ultrafreezer até o momento da técnica da detecção da cadeia de polimerase. Foram utilizados dois protocolos distintos, o primeiro denominado HSV-Pan, que amplifica o DNA de HHV-1, HHV-2, EBV, CMV e HHV-8, e o segundo denominado VZV-Pan responsável pela amplificação de VZV, HHV-6 tipo A e B e HHV-7. Para as amostras positivas realizou-se subsequente digestão enzimática para identificação do subtipo de HHV. A amostra foi composta majoritariamente por indivíduos do sexo masculino (n=51, 70%), com média de idade 54 anos (DP=10). A mediana do índice MELD foi 15 (DP=6) e 59% foram classificados com cirrose descompensada. 47,2% (n=34) apresentavam leucopenia. Não foram identificados HHV em amostras sanguíneas. Em saliva, os principais HHV identificados foram HHV-7 (n=42, 62%) e EBV (n=30, 41%). Houve correlação estatística entre a presença de HSV-Pan e a identificação de alterações em série branca sanguínea (p=0,019), especificamente com a população total de leucócitos (p=0,025), mas não houve correlação com subpopulações como neutrófilos e linfócitos. Essa correlação aconteceu, provavelmente, às expensas do EBV presente na saliva, já que apenas 5 pacientes apresentaram positividade para outros vírus. De fato, a correlação entre o EBV com leucócitos totais e com linfócitos apresentou-se estatisticamente significante (p=0,038 e p=0,047, respectivamente). Não houve correlação entre a presença viral e outras variáveis independentes, como complicações da cirrose ou doença descompensada. Conclui-se que, na população estudada, a identificação de EBV na saliva está vinculada ao estado de imunidade circulante do paciente cirrótico. É possível que a deficiência imune apresentada pelos pacientes com cirrose possa ter um papel no shedding do EBV em saliva.