A Covid-19 e suas repercussões nos profissionais de saúde: um estudo exploratório

Camacho, Karla Gonçalves

O Brasil tem sido severamente afetado pela pandemia da COVID-19. Nesse contexto, profissionais de saúde permanecem expostos a fatores estressores por um longo período de pandemia, deixando-os no limite físico e emocional. Estes profissionais são submetidos à sobrecarga e longas jornadas de trabalho, dilemas morais, perdas financeiras, uma exposição constante e prolongada a riscos biológicos no enfrentamento da COVID-19 e medo de transmissão familiar da doença. Neste cenário pensou-se em desenvolver esta pesquisa trazendo como objetivo: Avaliar a repercussão da pandemia da COVID-19 nos profissionais de saúde.

Método:

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, quanti e qualitativo. Os participantes foram profissionais de saúde, que trabalharam no Estado do Rio de Janeiro durante a pandemia da COVID-19. O recrutamento ocorreu de 20/07 a 30/09/2020, através de um inquérito eletrônico, antecedido por um Consentimento Livre e Esclarecido online. Os dados foram tratados pelo software IRaMuTeQ, e executadas análises textuais. O estudo apoia-se teoricamente nos conceitos desenvolvidos pelo sociólogo Pierre Bourdieu.

Resultados:

Foram inseridos no estudo 554 participantes. Os dados provenientes do formulário do estudo foram organizados e tratados a partir de estatística simples descritiva, para caracterizar os sujeitos e processados pelo IRaMuTeQ. A Classificação Hierárquica Descendente (CHD) foi finalizada em 4 classes: Classe 1 – O medo dos profissionais de adoecer e contaminar familiares; Classe 2 – Questões laborais; Classe 3 – Sentimento de impotência e a necessidade de políticas públicas e ações governamentais e Classe 4 – Cansaço e exaustão na pandemia.

Conclusão:

O estudo revelou o medo exacerbado dos trabalhadores da saúde de serem infectados pelo SRA-CoV-2 e de transmitirem a infecção às suas famílias, além de perdas financeiras e sentimento de impotência e abandono. Estes sentimentos foram agravados pela falta de direção política ou de implementação de medidas eficazes para minimizar e controlar a propagação da doença. Alguns destes profissionais de saúde manifestaram sinais de doença física e emocional, evidenciando uma segunda pandemia silenciosa, de sentimentos negativos, estresse prolongado, sobrecarga de trabalho e fadiga. A persistência da pandemia gerou como conseqüência sobrecarga física e mental dos profissionais de saúde. Ao observarmos os pontos centrais das quatro classes geradas pela CHD, identificamos que convergem em uma violência simbólica direcionada da instância federal (dominadora) aos profissionais da saúde (dominados) que estavam na ponta da assistência na pandemia da COVID-19. As diferentes categorias da área da saúde independente do capital acumulado e do campo de atuação aproximavam-se pelo seu habitus incorporado e identificavam uma necessidade de mudança resolutiva do cenário da pandemia, mas que estava inacessível a eles por derem os dominados. É válido avaliar os relatos destes profissionais, ouvir suas percepções, detectar sinais de alerta, de violência simbólica e promover uma possível intervenção precoce de apoio emocional durante e após a pandemia, configurando uma medida de cuidado em saúde para esta classe profissional. É necessário cuidar da saúde dos trabalhadores que prestam assistência direta aos pacientes, principalmente dentro do contexto de pandemias, zelando por sua proteção, direitos e sua saúde mental.

Brazil has been severely affected by the pandemic of COVID-19. In this context, health professionals remain exposed to stressful factors for a long pandemic period, leaving them at their physical and emotional limits. These professionals are submitted to overload and long working hours, moral dilemmas, financial losses, a constant and prolonged exposure to biological risks when facing COVID-19 and fear of family transmission of the disease. In this scenario, this research was developed with the following objective: To evaluate the repercussions of the pandemic of COVID-19 on healthcare professionals.

Method:

This is an exploratory, descriptive, quantitative and qualitative study. The participants were healthcare professionals, who worked in the state of Rio de Janeiro during the COVID-19 pandemic. Recruitment occurred from 07/2020 to 09/30/2020, through an electronic survey, preceded by an online Informed Consent. Data were processed by IRaMuTeQ software, and textual analyses were performed. The study is theoretically based on the concepts developed by sociologist Pierre Bourdieu.

Results:

554 participants were enrolled in the study. Data from the study form were organized and processed from simple descriptive statistics to characterize the subjects and processed by IRaMuTeQ. The Descending Hierarchical Classification (CHD) was finalized in 4 classes: Class 1 - Professionals' fear of getting sick and contaminating family members; Class 2 - Work issues; Class 3 - Feeling of helplessness and the need for public policies and governmental actions; and Class 4 - Tiredness and exhaustion in the pandemic.

Conclusion:

The study revealed health care workers' exacerbated fear of being infected by SARS-CoV-2 and of transmitting the infection to their families, in addition to financial losses and feelings of helplessness and abandonment. These feelings were compounded by the lack of policy direction or implementation of effective measures to minimize and control the spread of the disease. Some of these health professionals manifested signs of physical and emotional illness, evidencing a second silent pandemic of negative feelings, prolonged stress, work overload, and fatigue. The persistence of the pandemic generated as a consequence the physical and mental overload of health professionals. When we observe the central points of the four classes generated by the CHD, we identify that they converge in a symbolic violence directed by the federal instance (dominant) to health professionals (dominated) who were at the point of assistance in the pandemic of COVID-19. The different categories of the health area, regardless of their accumulated capital and field of action, were approached by their incorporated habitus and identified a need for resolutive change in the pandemic scenario, but which was inaccessible to them because they were the dominated ones. It is valid to evaluate the reports of these professionals, listen to their perceptions, detect warning signs of symbolic violence, and promote a possible early intervention of emotional support during and after the pandemic, configuring a health care measure for this professional class. It is necessary to care for the health of workers who provide direct assistance to patients, especially within the context of pandemics, watching over their protection, rights, and their mental health.