Atualmente vários estudos avaliam a possível influência entre a presença de doenças maternas e os macronutrientes do leite humano. Porém, pouco se sabe sobre quais fatores do hipotireoidismo materno podem influenciar na composição do leite humano. O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar a associação entre hipotireoidismo materno e ganho de peso gestacional na composição nutricional do leite humano e no crescimento de seus recém-nascidos. Para que fosse atingido tal objetivo, o estudo foi dividido em dois momentos. Na primeira etapa, foi realizada uma revisão sistemática a fim de avaliar a associação de doenças da tireoide na gravidez e na lactação à composição nutricional do leite humano. Foi utilizado, como referência base para busca dos dados, a PubMed, a Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), além da Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/Lilacs.

Foram utilizadas as palavras chave:

‗human milk‘ AND ‗thyroid‘ AND ‗composition‘. Esta investigação ocorreu entre janeiro e março de 2019, não havendo delimitação por período de publicação, e resultando no encontro de 118 artigos, sendo, selecionados quatro que compõem a revisão. Foram utilizados como critérios para inclusão desses quatro artigos na revisão o fato de (a) serem artigos originais que abordassem, como resultado, a composição nutricional do leite humano em mães com problemas de tireoide e (b) as publicações serem redigidas em espanhol, inglês ou português. Embora não tenham sido elencados como critérios para inclusão na revisão, foi observado também o ano de publicação, o local (cidade/ país) analisado no estudo, o tamanho da amostra, a idade média das mulheres, o tipo de desenho, o período de avaliação do leite e seu método de análise, além de fatores de confusão controlados na análise e os principais resultados observados. Com o intuito de proceder a uma checagem mais acurada dos dados revisionais, foi trabalhado com o fluxograma ‗PRISMA‘, valendo-se de sua checklist sistemática em 27 itens. Na segunda etapa da pesquisa, foi produzido um estudo de coorte pareada, realizado entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022 com 49 lactantes e seus recém-nascidos selecionados em três hospitais com bancos de leite humano do estado do Rio de Janeiro. As lactantes participantes foram pareadas por idade, estado nutricional pré-gestacional e idade gestacional.

Os dados foram coletados em dois momentos:

(I) até 14 dias pós-parto e (II) entre 15 e 45 dias pós-parto. Foi aplicado um questionário, direcionado às mães, contendo perguntas abertas e fechadas (sociodemográficas, ocupacionais, antropométricos - peso, estatura e índice de massa corporal – além do tipo de parto.) e uma outra série de perguntas com foco nos recém nascidos, inquirindo sobre idade gestacional, data e hora do nascimento, sexo, peso, comprimento, perímetro cefálico e amamentação. Foi empregado a correlação de Spearman para verificar a existência de correlação entre o valor do Hormônio estimulador da tireoide, a dose de levotiroxina utilizada e a composição nutricional dos macronutrientes do leite das nutrizes com hipotireoidismo. Foi utilizado também o ‗teste t de Student‘ para avaliar as diferenças significativas entre a composição nutricional de macronutrientes do colostro/transição e leite maduro entre mulheres com e sem hipotireoidismo e o seu estado nutricional pré-gestacional. Para verificar as associações estatisticamente significativas no crescimento dos recém-nascidos, valeu-se do ‗teste do qui-quadrado‘ e da ‗análise de variância‘ (ANOVA).

Este estudo resultou na confecção de quatro artigos:

uma revisão sistemática; um estudo piloto, e duas publicações decorrentes dos materiais obtidos através da coleta de dados desta pesquisa. No primeiro artigo, foi demonstrado que dois estudos encontraram diferenças significativas na composição nutricional do leite de mães com hipotireoidismo ou sobrepeso em comparação com o leite daquelas sem hipotireoidismo. Tais estudos mostraram alterações na composição nutricional do leite humano, principalmente VII concentração de gordura do leite humano. No segundo artigo, o estudo registrou que apresentaram hipotireoidismo gestacional (9,3%), 23,9% das participantes com excesso de peso. A maioria (67,4%) foi de leite maduro doado. A média do valor energético e da acidez do leite humano pasteurizado doado foi de 61,69kcal/100ml (±11,68) e 4,53 (±1,05) respectivamente. No terceiro artigo, foi visto que, das participantes do estudo, 22,4% apresentaram sobrepeso pré-gestacional e 57,1% ganharam peso excessivo durante a gestação. As nutrizes com hipotireoidismo tiveram uma diminuição de carboidrato tanto no leite colostro/transição, quanto no leite maduro (p-valor=0,005 e 0,050), respectivamente. O leite colostro/transição das nutrizes com hipotireoidismo e eutróficas apresentou um aumento de gordura, quando avaliadas em relação ao estado nutricional pré-gestacional (p-valor= 0,046). E, por fim, no quarto artigo, foi vislumbrado que, com relação ao crescimento dos recém-nascidos, foi observado que o perímetro cefálico e o Z score perímetro cefálico/idade apresentaram diferença estatisticamente significativa no segundo período avaliado (p-valor= 0,004 e 0,044), respectivamente. Assim, foi constatado na pesquisa que o hipotireoidismo e o estado nutricional pré-gestacional modificam a composição nutricional do leite humano, assim como, os ganhos de peso gestacional insuficientes e excessivos modificam o crescimento do recém-nascido. Verificar precocemente esses fatores pode contribuir para uma melhor oferta de leite humano e nutrição dos recém-nascidos, bem como na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade.