Desigualdades no diagnóstico e mortalidade por câncer de mama e colo do útero no Brasil
Inequalities in diagnosis and mortality from breast and cervical cancer in Brazil

Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal do Rio grande do Norte to obtain the academic title of Doutor. Leader: Souza, Dyego Leandro Bezerra de

A discussão sobre as desigualdades no diagnóstico e morte por câncer de mama e colo do útero possibilita a compreensão destas doenças em nível individual e populacional. O objetivo da tese é analisar o estadiamento e a mortalidade por câncer de mama e colo do útero e sua relação com o contexto socioeconômico e de oferta de serviços de saúde no Brasil. Foram desenvolvidos cinco estudos observacionais. Os dados sobre mortalidade foram coletados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Os dados individuais de diagnóstico do câncer foram obtidos do Integrador dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC). As variáveis socioeconômicas contextuais foram coletadas no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, e os dados sobre a oferta de serviços de saúde no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), no Sistema de Informações Ambulatoriais de Saúde (SIA-SUS) e na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A análise da mortalidade foi realizada por meio da Regressão de Poisson. Para análise do estadiamento foi realizado o modelo de Regressão de Poisson Multinível. Na análise espacial foram utilizados os modelos com efeitos espaciais globais.

Os principais resultados foram:

(1) A taxa média de mortalidade por câncer do colo do útero foi de 5,95 (DP 3,97) e a taxa média de mortalidade por câncer de mama foi de 10,65 (DP 3,12) óbitos por 100.000 mulheres. A alta taxa de mortalidade por câncer de mama apresentou associação com maior densidade de médicos generalistas e maior oferta de serviços de saúde em oncologia. A alta taxa de mortalidade por câncer do colo uterino apresentou associação com maiores índices de desigualdade social local e menores níveis de desenvolvimento humano das regiões avaliadas. (2) A proporção de estadiamento avançado do câncer de mama foi de 40,0%. O estadiamento avançado apresentou associação com fatores individuais e contextuais relacionados ao acesso público aos serviços de saúde e à baixa densidade de mamógrafos. (3) Em 32,4% dos casos de câncer de colo uterino os dados sobre estadiamento estavam ausentes, associado significativamente a fatores individuais e contextuais de oferta de serviços de saúde. A proporção de estadiamento avançado foi de 48,4%, com associação a fatores individuais e contextuais de acesso público aos serviços de saúde e à baixa proporção de exames citopatológicos. (4) O estadiamento avançado do câncer de mama apresentou correlação espacial positiva com o Índice de Gini e negativa com a densidade de ginecologistas. As taxas de mortalidade apresentaram correlação espacial positiva com o IDH e com a densidade de médicos ginecologistas. (5) O estadiamento avançado do câncer de colo uterino apresentou correlação espacial positiva com o Índice de Gini e negativa com a proporção de beneficiários de planos privados de saúde. A mortalidade apresentou correlação espacial positiva com o Índice de Gini e negativa com a densidade de médicos ginecologistas. Os estudos sinalizam as iniquidades em saúde no diagnóstico e na mortalidade por câncer de mama e colo do útero no Brasil. Destaca-se a importância da estruturação da rede de atenção e da equidade no acesso aos serviços e tecnologias de saúde no território brasileiro (AU).
The discussion on inequalities in the diagnosis and death due to breast and cervical cancer enables the understanding of the understanding of these diseases at the individual and population levels. The objective of this thesis was to analyze the staging and mortality from breast and cervical cancer and its connection with socioeconomic context and the distribution of health services in Brazil. Five observational studies were developed. The mortality data were collected from the Mortality Information System (SIM). Individual data related to the diagnosis of cancer were obtained from the Integrator of Hospital Cancer Registries (RHC). The contextual socioeconomic variables were collected in the Atlas of Human Development in Brazil and the data on offer of health services from the National Registry of Health Institutions (NRHI), the Outpatient Health Information System (SIA-SUS) and the Agency National Supplementary Health (ANS). The mortality analysis was performed using the Poisson regression. For the analysis of advanced staging, the Multilevel Poisson Regression model was chosen. In the spatial analysis, the models with global spatial effects were used.

The main results were:

(1) The average age-standardized mortality rates for cervical and breast cancers were, respectively, 5.95 (SD 3.97) and 10.65 (SD 3.12) per 100,000 women. The high mortality rate from breast cancer was associated with a higher density of general practitioners and a greater offer of health services in oncology. The high mortality rate due to cervical cancer was associated with higher rates of local social inequality and lower levels of human development in the regions evaluated. (2) The proportion of late breast cancer diagnosis in Brazil was of 40.0%. Advanced staging was associated with individual and contextual factors related to public access to health services and the low density of mammography equipment. (3) In 32.4% of cervical cancer cases, staging was absent, significantly associated with individual and contextual factors in the provision of health services. The proportion of advanced staging was 48.4%, with association with individual and contextual factors of public access to health services and the low proportion of cytopathological exams. (4) Advanced staging of breast cancer presented positive spatial correlation with the Gini Index and a negative one with the density of gynecologists. Mortality rates presented a positive spatial correlation with the HDI and the density of gynecologists. (5) Advanced staging of cervical cancer presented a positive spatial correlation with the Gini Index and a negative correlation with the proportion of beneficiaries of private health plans. Mortality rates presented a positive spatial correlation with the Gini Index and a negative one with the density of gynecologists. Studies indicate health inequities in the diagnosis and mortality from breast and cervical cancer in Brazil. The importance of structuring equality in the access to health services and technologies in the Brazilian territory is highlighted (AU).

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