In/visibilia: deslubramentos e silenciamentos dos corpos intersexo
In/visibilia: desubraments and silencing of intersex bodies
Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher to obtain the academic title of Doutor. Leader: Gaudenzi, Paula
Nas últimas décadas, a intersexualidade vem constituindo-se enquanto categoria, marcada por uma nova perspectiva sobre uma conformação corporal que, em si mesma, não é uma novidade. Desse modo, emerge como uma problemática contemporânea, perpassada por questões científicas, políticas e éticas. A hodierna problematização da intersexualidade envolve dinâmicas de visibilidade e invisibilidade, identificáveis na visibilização médica da diferença sexual corporalmente localizada e em sua invisibilização social, enfatizada pelo ativismo intersexo. Partindo do pressuposto que o paradigma do “sexo verdadeiro” biologicamente fundado e visto no corpo é produto da era moderna, o objetivo deste trabalho é compreender como a ambiguidade sexual foi produzida em diferentes contextos históricos como efeito de um conjunto de saberes e práticas que orbitavam em torno da visibilidade corporal da diferença sexual. Para tanto, elaborou-se uma genealogia da visibilidade médica da ambiguidade sexual, inspirada pela obra de Michel Foucault. É um trabalho de cunho teórico, cujas fontes principais são documentos históricos de variadas naturezas, encontrados em bibliotecas virtuais e físicas, em sebos e na internet. Discute-se como a diferença e a ambiguidade sexual eram tornadas visíveis nos corpos em períodos pré-modernos e como passaram a ser vistas com a emergência da biologia e medicina moderna. Conclui-se que a coexistência de dois sexos-gêneros em um mesmo corpo humano deixou de ser uma possibilidade médica e social durante o século XIX. Tal impossibilidade emergiu enquanto efeito produtivo de formações discursivas que interseccionavam a medicina, biologia e zoologia e práticas médicas de normalização dos corpos considerados ambíguos.
As a category, intersexuality has been marked in the last decades by new perspectives on a bodily conformation that, in itself, is not new. Thus, it emerges as a contemporary problematic, permeated by scientific, political, and ethical issues. The current problem of intersexuality involves dynamics of visibility and invisibility, identifiable in the medical visibility of bodily sexual difference and in its social invisibility, emphasized by intersex activism. Based on the assumption that biologically founded “true sex” paradigm is a modern era product, this work aims to understand how sexual ambiguity has been produced in different historical contexts as effect of a set of knowledges and practices that orbited around the bodily visibility of sexual difference. To this end, a genealogy of the medical visibility of sexual ambiguity was built, inspired by Michel Foucault’s oeuvre. It is a theoretical work, and main sources are varied historical documents, found in virtual and physical libraries and on the internet. It discusses how sexual difference and ambiguity were made visible in pre-modern times and the shifts brought by biology and modern medicine. Findings indicate that the coexistence of two sex-genders in the same human body was no longer a medical and social possibility by 19th century. This impossibility arose as a productive effect of discursive formations that intersected with medicine, biology and zoology and normalizing medical practices performed in the so-called ambiguous bodies.