“A mãe tem que ficar, mas o pai vai sair”: papéis paternos e maternos na unidade neonatal de uma instituição pública
"The mother has to stay, but the father will leave": paternal and maternal roles in the neonatal unit of a public institution

Publication year: 2020
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher to obtain the academic title of Mestre. Leader: Jannotti, Cláudia Bonan

A concepção de que os cuidados e a criação dos filhos são responsabilidades femininas ainda tem muita força em nossa cultura. Essa ideia é baseada em uma ordem normativa de gênero que concebe a mulher como “naturalmente” afetiva e maternal, com vocação para o cuidado, enquanto o homem é colocado como figura ligada à provisão financeira e representação da família no espaço público. Serviços e profissionais de saúde também reforçam essas normas e responsabilizam principalmente as mulheres pelos cuidados com os filhos. No âmbito dos cuidados neonatais, não é diferente: seja no contexto de um nascimento saudável ou de uma internação em unidade de tratamento neonatal, as mães são chamadas a desempenhar o papel de cuidadoras zelosas, enquanto os pais são secundarizados ou mesmo excluídos. O objetivo desta dissertação de mestrado é compreender as dinâmicas através das quais lugares paternos e maternos se estabelecem na unidade neonatal de uma instituição pública de assistência, ensino e pesquisa, bem como entender de que maneira se (re)produzem ou não estereótipos e papeis de gênero e a clássica divisão sexual do trabalho neste ambiente. Para isso, realizou-se uma etnografia aplicada ao campo da saúde, que incluiu observação participante e entrevistas abertas.

Os resultados foram analisados e divididos nas seguintes temáticas:

(re)conhecendo a unidade neonatal: um espaço construído no feminino; o homem provedor e a mulher cuidadora: a reiteração da divisão sexual do trabalho na UTI Neonatal; masculinidade e feminilidade se constroem também no “bio”: as representações do corpo sexuado e de suas vocações; o gênero em disputa na unidade neonatal. Na pesquisa, conclui-se que as concepções e práticas do serviço e dos profissionais de saúde se calcam, muitas vezes de forma involuntária, nas ideias normativas de que homens e mulheres são “naturalmente” dados a exercer tarefas distintas na criação dos filhos, sendo as mulheres cuidadoras e os homens, provedores. Intensos debates sobre paternidade ativa têm sido travados no Brasil nos últimos anos, e novas leis e políticas a respeito do tema têm sido implementadas. Contudo, as mudanças ainda são tímidas e insuficientes, apenas tangenciando as bases mais fortes que estruturam a divisão sexual do trabalho, os papéis de homens e mulheres, e as identidades e simbolismos do feminino e do masculino.
The conception that child rearing and caretaking are female responsibilities is still very strong in our culture. This idea is based on gender norms according to which women are naturally affective and maternal, naturally prone to caretaking, while men are expected to provide financial support and family representation in the public sphere. Health services and professionals also reinforce these norms and assume that women are the primary caregivers for children.

The context of neonatal care is no different in this sense:

be it within the circumstances of healthy childbirth or of an intensive care unit, mothers are presumed to play the role of zealous caretakers, while fathers are either of secondary importance or simply excluded. This master’s thesis aims to address the establishment of the dynamics of motherhood and fatherhood within the neonatal unit of a public institution of assistance, teaching, and research, as well as to understand the way in which the classical division of labor and gender roles and stereotypes are (re)produced in such place. Thus, an ethnography was carried out in the field of healthcare, which included participating observation and open interviews.

The results were analyzed and divided in the following categories:

understanding the neonatal unit: a space constructed around the feminine; the male provider and the female caregiver: the reiteration of the sexual division of labor in the NICU; masculinity and femininity are also a “bio” construction: the representations of gender-oriented bodies and their calling; the gender power struggles in the neonatal unit. This research leads to the conclusion that the conceptions and practices of healthcare professionals are based, many times involuntarily, on the normative ideas that men and women are “naturally” predisposed to fulfill different tasks in child rearing, with women taking the position of caregivers and men that of providers. Intense debates about active paternity have been taking place in Brazil in the last few years, and new laws and policies have been implemented. However, changes are still slow and insufficient, merely touching upon the stronger basis that supports the sexual division of labor, the role of men and women, and the identities and symbolisms of the male and the female.

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