Zika vírus e gravidez: achados fetais avaliados pelo ultrassom e doppler e sua associação com o desfecho perinatal
Zika virus and pregnancy: fetal findings assessed by ultrasound and doppler and their association with perinatal outcome

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Pós-Graduação em Pesquisa Aplicada à Saúde da Criança e da Mulher to obtain the academic title of Doutor. Leader: Carvalho, Paulo Roberto Nassar de

A infecção congênita pelo vírus Zika (ICZ) produz um amplo espectro de complicações perinatais, destacando-se as anomalias estruturais. A associação de achados ultrassonográficos pré-natais (USO) com outros desfechos perinatais adversos, não foi descrita até o momento. Identificamos também um grupo de gestantes cujos conceptos apresentam anomalias estruturais suspeitas de ICZ, porém sem diagnóstico etiológico. Desenvolvemos duas linhas de trabalho. O primeiro trabalho teve como objetivo determinar se os resultados dos exames de ultrassom (USO) e dopplervelocimetria (doppler) realizados durante o pré-natal estavam associados a desfechos neonatais anormais em gestações afetadas pelo ZIKV.

Desenho:

recorte de um estudo de coorte prospectiva realizado em um único centro de referência no Rio de Janeiro, entre 01 de setembro de 2015 a 31 de maio de 2016, envolvendo 92 gestantes, portadoras de fetos únicos, infectadas pelo vírus ZIKV, com diagnóstico confirmado por exame de transcriptidase reversa aplicada à reação em cadeia da polimerase (RT-PCR).

Medidas:

como desfecho primário, utilizamos o resultado neonatal adverso composto (RNAC) (morte perinatal, achados anormais no exame neonatal ou achados anormais na neuroimagem pós-natal). Os desfechos secundários incluíram a associação de achados específicos com desfechos neonatais.

Resultados:

Entre as 92 gestantes e seus conceptos, 55 (60%) apresentaram resultados normais e 37 (40%) resultados anormais nos exames USO. Dos 45 recém-nascidos (RN) com RNAC, 23 (51%) apresentaram resultados normais ao USO. Onze gestantes (12%) apresentaram resultados anormais no exame neonatal (odds ratio ajustado [aOR], 11,6; IC 95%, 1,8-72,8), na neuroimagem pós-natal (aOR, 6,7, IC 95%, 1,1-38,9) e RNAC (aOR, 27,2; IC 95%, 2,5-296,6). Resultados anormais no doppler da artéria cerebral média foram associados a anormalidades do exame neonatal (aOR, 12,8; 95% CI, 2,6-63,2), na neuroimagem pós-natal (aOR, 8,8; IC 95%, 1,7-45,9) e no RNAC (aOR, 20,5; 95% CI, 3,2-132,6). Houve 2 mortes perinatais. Achados anormais no USO pré-natal tiveram uma sensibilidade de 48,9% (IC95%, 33,7%-64,2%) e uma especificidade de 68,1% (IC95%, 52,9%-80,1%) quando associados com os RNAC. Para um resultado normal no USO pré-natal, a sensibilidade foi menor (22,2%; IC95%, 11,2%-37,1%), mas a especificidade foi maior (97,9%; IC95%, 88,7%-99,9%).

Conclusão:

Resultados anormais nos exames de USO e doppler em gestantes infectadas pelo ZIKV, foram associados a RNAC. Resultados normais no USO pré-natal não estiveram associadas a um desfecho neonatal normal. Frente aos resultados encontrados, recomendamos avaliação completa para todos os RNs expostos ao ZIKV. O segundo trabalho objetivou analisar o comprometimento fetal, utilizando a amniocentese, em gestantes portadoras de fetos com alterações estruturais suspeitas ao USO de ICZ, sem diagnóstico prévio da etiologia.

Desenho:

estudo de casos que incluiu 16 pacientes.

A exposição:

amniocentese para realização de RT-PCR para toxoplasmose, ZIKV e citomegalovírus; foi também oferecido cariótipo fetal.

Resultados:

o exame detectou 7/9 (78%) casos de ICZ; 2 RNs foram diagnosticados após o nascimento. O diagnóstico etiológico foi realizado em 63% dos casos (10/16).

Conclusão:

a amniocentese foi uma importante ferramenta para diagnosticar ICZ, TORCH e aneuploidias, permitindo o aconselhamento parental adequado, e a programação da assistência perinatal.
Congenital infection with the Zika virus (ICZ) produces a broad spectrum of perinatal abnormalities, including structural defects. The association of prenatal ultrasonographic findings (USO) with adverse perinatal outcomes has not been described so far. We also identified a group of pregnant women whose concepts have structural abnormalities suspected of having ICZ, but without an etiological diagnosis.

We have developed two lines of work:

The aim of the first study was to determine if the results of ultrasound and Doppler examinations performed during prenatal care were associated with abnormal neonatal outcomes in pregnancies affected by ZIKV.

Design:

a prospective cohort study conducted in a single referral center in Rio de Janeiro, between September 1, 2015 and May 31, 2016, involving 92 pregnant women with single fetuses infected with the ZIKV virus, diagnosed confirmed by reverse transcriptase examination applied to the polymerase chain reaction (RT-PCR).

Measurements:

As a primary endpoint, we used composite adverse neonatal outcome (RNAC) (perinatal death, abnormal findings on neonatal examination or abnormal findings in postnatal neuroimaging). Secondary outcomes included the association of specific findings with neonatal outcomes.

Results:

Among the 92 pregnant women and their concepts, 55 (60%) presented normal results and 37 (40%) had abnormal results in USO exams. Of the 45 newborns (NB) with RNAC, 23 (51%) presented normal results to the USO. Eleven pregnant women (12%) presented abnormal results in the neonatal exam (adjusted odds ratio [aOR], 11.6, 95% CI, 1.8-72.8), postnatal neuroimaging (aOR, 6.7, CI 95%, 1,1-38,9) and RNAC (aOR, 27.2, 95% CI, 2.5-296.6). Doppler abnormalities of the middle cerebral artery were associated with abnormalities of the neonatal examination (aOR, 12.8, 95% CI, 2.6-63.2), postnatal neuroimaging (aOR, 8.8, 95% CI, , 1.7-45.9) and RNAC (aOR, 20.5, 95% CI, 3.2-132.6). There were 2 perinatal deaths. Abnormal findings in prenatal USO had a sensitivity of 48.9% (95% CI, 33.7% - 64.2%) and a specificity of 68.1% (95% CI, 52.9% - 80.1%) when associated with RNACs. For a normal result in prenatal USO, the sensitivity was lower (22.2%, 95% CI, 11.2% -37.1%), but the specificity was higher (97.9%, 95% CI, 88, 7% -99.9%), in relation to RNAC.

Conclusion:

Abnormal results in USO and Doppler tests in pregnant women infected with ZIKV were associated with neonatal adverse outcomes. Normal results in prenatal USO were not associated with a normal neonatal outcome. In view of the results found, we recommend a complete evaluation for all NBs exposed to ZIKV. The second study aimed to analyze the fetal impairment, using amniocentesis, in pregnant women with fetuses with structural alterations suspected by USO, without previous diagnosis of the etiology.

Design:

case study involving 16 patients.

Exposure:

amniocentesis for the realization of RT-PCR for toxoplasmosis, ZIKV and cytomegalovirus; fetal karyotype was also offered.

Results:

the examination detected 7/9 (78%) cases of ICZ; 2 RNs were diagnosed after birth. The etiological diagnosis was performed in 63% of the cases (10/16).

Conclusion:

amniocentesis was an important tool to diagnose ICZ, TORCH and aneuploidies, allowing adequate parental counseling, and programming perinatal care.

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