Análise da morbimortalidade perinatal na infecção congênita pelo vírus Zika
Analysis of perinatal morbidity and mortality in congenital Zika virus infection

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher to obtain the academic title of Mestre. Leader: Moreira, Maria Elizabeth Lopes

A infecção materna pelo vírus Zika tende a causar mais efeitos prejudiciais ao feto e à criança do que à mãe, devido ao grande potencial de graves consequências para o feto, como abortos, perda fetal, baixo peso ao nascer e vários tipos de malformações congênitas. A epidemia de microcefalia instalada no Brasil em 2015 e 2016 motivou essa dissertação de mestrado cujo objetivo é estudar a frequência de ocorrência dos desfechos na prole resultante da infecção congênita pelo vírus Zika e correlacioná-los com o momento da infecção viral durante a gravidez. Este estudo teve como propósito contribuir não apenas com a ampliação de conhecimentos nessa área, ainda em investigação, mas também com subsídios para o sistema de saúde brasileiro atender a população acometida pela epidemia. O método utilizado foi descritivo, transversal, que partiu de estudo prospectivo de coorte da infecção pelo vírus Zika, já em andamento no Instituto Nacional de Saúde da Mulher e do Adolescente Fernandes Figueira / Fundação Oswaldo Cruz. Da prole das mães infectadas na gestação 66,3%(IC 95% 59,1-73,1) foi assintomática e 33,7% (IC 95% 26,9-40,9) apresentaram alterações no exame e/ou foram a óbito após o nascimento. Cerca de 22,5% (IC 95% 16,7-29,1) tiveram microcefalia/atrofia cerebral, restando 11,2% (IC 95% 7,0-16,6) que apresentaram manifestações menos agressivas da infecção, porém com características sugestivas do espectro da doença congênita pelo VZ. O total de microcefalia foi 18,7% (IC 95% 13,4-25,0), sendo 12.7% (IC 95% 8,4-18,4) severa. A proporção de casos de recém-nascidos pequenos para idade gestacional foi 21,9% (IC 95% 16,2-28,5), sendo que cerca da metade correspondeu a recém-nascidos abaixo do P3, 11,2% (IC 95% 7,0-16,6). O total de pré-termos foi 15,5% (IC 95% 10,6-21,5). Os 2 óbitos fetais e os 4 neomortos encontrados representam 1% (IC 95% 0,1-3,7) e 2%( IC 95% 0,5-5,3%), respectivamente. De maneira geral quanto mais precoce os sintomas na gestação maior o número de recém-nascidos com alterações sugestivas da infecção VZ. Dos recém-nascidos com manifestações da infecção congênita pelo VZ, a sintomatologia materna ocorreu em 20,8%, 6,5% e 2,7% respectivamente no 1º, 2º e 3º trimestres gestacionais. O estudo confirmou relações já apresentadas em outros trabalhos, de que quanto mais precoce a infecção na gestação, maior morbimortalidade dos acometidos. O destaque foi ter encontrado um maior percentual de nascidos pequenos para idade gestacional comparando com a população brasileira e com os demais estudos da população de recém-nascidos expostos ao VZ na gestação. O nascimento de pequenos para idade gestacional por uma restrição do crescimento durante o desenvolvimento intrauterino pode ser consequência desta infecção sobre o feto na gestação. Assim o encontro desse achado no exame de ultrassom fetal também pode servir como mais um recurso para diagnóstico precoce da infecção pelo VZ. As graves consequências a curto e longo prazo do nascer pequeno para a idade gestacional precisam ser consideradas como uma demanda resultante dessa epidemia para adequação do planejamento assistencial à saúde dessa população.
The maternal infection by Zika virus tends to cause more harmful effects to the fetus and the child than to the mother, due to the large potential for serious consequences for the fetus, such as miscarriages, fetal loss, premature birth, low birth weight and various types of congenital malformations. The epidemic of microcephaly installed in Brazil in 2015 and 2016 originated this master's thesis whose objective is to study the frequency of occurrence of the outcomes in the fetus resulting from the congenital infection by the Zika virus and to correlate them with the time point of the viral exposure during pregnancy. Therefore, this study aimed to contribute not only with the expansion of knowledge in this area, still little known, but also with subsidies for the Brazilian health care system to assist the population affected by the epidemic. The method used was a descriptive, cross-sectional study within in a prospective cohort study of Zika virus infection, already in progress at the Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira / Fundação Oswaldo Cruz. The majority of the offspring of the infected mothers in pregnancy were asymptomatic (66.3%, 95% CI 59.1-73.1) and 33.7% (95% CI, 26.9-40.9) presented alterations in the examination and / or died after birth. About 22.5% (95% CI, 16.7-29.1) had microcephaly / cerebral atrophy, remaining 11.2% (IC 95% 7.0-16.6), which presented less aggressive manifestations due to infection, but with characteristics suggestive of the spectrum of congenital disease by ZV. The total microcephaly was 18.7% (95% CI 13.4-25.0), 12.7% (CI 95% 8.4-18.4) classified as severe. The proportion of cases of newborns small for gestational age was 21.9% (95% CI 16.2-28.5), and around half of them were newborns below P3, 11.2% (CI 95% 7.0-16.6). The total of preterm births was 15.5% (95% CI 10.6-21.5). The 2 fetal deaths and the 4 newborns found represent 1% (95% CI 0.1-3.7) and 2% (95% CI 0.5-5.3%), respectively. In general, the earlier the symptoms in gestation, the greater the number of newborns with changes suggestive of ZV infection. Of the newborns with manifestations of congenital infection, maternal symptoms occurred in 20.8%, 6.5% and 2.7% respectively in the 1st, 2nd and 3rd gestational trimesters. The study confirmed the relationships already reported by other studies, that the earlier the infection in pregnancy, the greater the morbidity and mortality of those affected. The highlight was to have found a higher percentage of small births for gestational age than the other studies of the population of newborns exposed to ZV during pregnancy. The growth restriction during the intrauterine development may occur as a consequence of this infection on the fetus. Thus the finding of intrauterine growth restriction in fetal Ultrasound may also serve as another resource for the diagnosis of ZV infection during pregnancy. The serious short and long-term consequences of being born small for gestational age need to be considered in the adequacy of health care planning for this new population resulting from the epidemic of ZV.

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