O aumento da incidência de câncer de mama em mulheres jovens, com menos de 45 anos, aliado à cronicidade da doença tem despertado a necessidade de melhor compreender as repercussões do tratamento com o intuito de construir um cuidado em saúde que atenda as especificidades das mulheres jovens com câncer de mama. A menopausa precoce está entre os aspectos com importante impacto à vida das mulheres jovens. Desta forma, o presente estudo teve por objetivo compreender o processo de luto decorrente da menopausa precoce induzida pelo tratamento do câncer de mama em mulheres com menos de 45 anos. Para atingir o objetivo proposto realizamos um estudo qualitativo, a partir do método clínico-qualitativo e da análise de conteúdo. Empregamos a entrevista aberta e o Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E) como principais instrumentos de coleta de dados, que foram complementados com questionário de dados sociodemográficos e dados clínicos. Os dados foram analisados a partir da compreensão do luto como uma Transição Psicossocial e de teorias psicodinâmicas que permitiram aprofundar a compreensão dos aspectos subjetivos do processo de luto decorrente da menopausa precoce induzida pelo tratamento.

A análise dos dados permitiu identificar cinco categorias:

Corpo devastado e o ataque ao suporte identitário: "Eu mesma não me reconheço"; Necessidade de se familiarizar com o novo corpo: "É normal sentir isso?"; De corpo inteiro: "Meu corpo inteiro, eu notei que ele mudou"; O sofrimento associado à possibilidade da infertilidade: "É o meu Tendão de Aquiles"; e "Como fogo e gelo": Vicissitudes do desejo sexual criando desencontros na relação com o parceiro íntimo. Foi possível identificar diversas perdas simbólicas decorrentes da experiência da menopausa precoce que foram significativas para as mulheres jovens em tratamento. O conjunto de mudanças corporais fragiliza a base identitária do ser mulher jovem e antecipa algumas vivências ligadas ao envelhecimento. Observou-se que alguns lutos puderam ser ressignificados, enquanto outros apresentaram características de luto complicado, por não terem sido integrados a uma nova identidade. Os aspectos psicodinâmicos identificados no contexto do tratamento do câncer de mama e da consequente menopausa precoce, evidenciaram uma regressão das necessidades básicas, como necessidade de proteção e cuidado, bem como, sentimentos de culpa, ambivalência, medo da perda, medo da morte e desproteção. Tendências construtivas como a busca pela autonomia, pelo desenvolvimento pessoal e o desejo de recuperar a saúde também foram observados. Esperamos que o conhecimento produzido contribua para a melhor compreensão dos lutos simbólicos decorrentes da experiência da menopausa precoce induzida pelo tratamento do câncer de mama, para que o cuidado integral à mulher jovem com câncer de mama considere as repercussões da menopausa à saúde e vida dessas mulheres auxiliando na elaboração de tais lutos.