Planejamento reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento numa região do nordeste brasileiro: análise da realidade e proposta de matriz de avaliação
Reproductive planning, prenatal, delivery and birth in a northeastern region of Brazil: analysis of the reality and proposal of an evaluation matrix
Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto to obtain the academic title of Doutor. Leader: Leite, Adriana Moraes
No Brasil, a saúde materno-infantil apresentou avanços em ações, programas e políticas públicas a partir da década de 80. Entretanto, indicadores ainda permitem inferir uma assistência com baixa utilização de boas práticas, além de registros de desigualdades. Frente a isso, objetivou-se 1º) Analisar as prevalências de adequações e inadequações do planejamento reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento em uma Região do Nordeste brasileiro e as variáveis associadas às inadequações; e 2º) Elaborar uma proposta de Matriz de Avaliação de Processo relacionada à adequação do planejamento reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento, com aplicação destinada a municípios e/ou estados brasileiros. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e inferencial, usando dados coletados entre março e julho de 2018 em uma maternidade de risco habitual de Lagarto (SE) - referência para seis municípios da Região Centro-Sul do Estado. Foram obtidos dados primários e secundários de 655 puérperas e seus recém-nascidos, sendo o estudo aprovado pelo CEP da UFS (2.553.774) e da EERP-USP (5.111.309). Os resultados mostraram prevalências significativas de inadequações do planejamento reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento, e suas respectivas associações, tendo predomínio de mulheres com maior vulnerabilidade socioeconômica. No planejamento reprodutivo, evidenciou-se gravidez não planejada (57,56%); gravidez na adolescência (19,08%); não recebimento de orientações sobre métodos contraceptivos (40,31%) e/ou planejamento familiar (76,34%) e desconhecimento da mulher sobre ligadura tubária (61,98%), vasectomia (60,76%), DIU (48,84%) e métodos hormonais injetáveis (27,02%). No pré-natal, identificou-se início tardio (19,54%); poucas consultas (18,78%); sem pré-natal do(a) parceiro(a) (51,43%); ausência de orientações sobre atividades para facilitar o parto (50,69%), sinais de risco/alerta na gravidez (50,54%), como inicia o trabalho de parto (39,97%), aleitamento materno exclusivo (28,33%) e complementar (47,63%) e baixa realização de exames no primeiro trimestre e, ainda mais grave, no terceiro trimestre gestacional. Na parturição, houve peregrinação no anteparto (25,95%); gestantes de alto risco com parto em maternidade de risco habitual (16,49%); ausência de acompanhante em todos os momentos (25,96%); parturientes de risco habitual em dieta zero (66,98%), sem deambulação (39,62%) e/ou utilização de método(s) não farmacológico(s) para alívio da dor (57,92%) durante o trabalho de parto; ausência de registro de utilização de partograma (99,06%); elevada prevalência de manobra de Kristeller (47,38%), posição horizontalizada (82,64%), episiotomia (43,25%), laceração (23,14%) e posicionamento não escolhido pela mulher (53,44%) no parto vaginal; decisão final pelo tipo de parto não compartilhada com a parturiente (29,77%); operação cesariana em quase metade das participantes (44,27%) e insatisfação materna com a sua participação nas tomadas de decisão (47,18%) e com a clareza das explicações por parte dos profissionais (34,81%). No nascimento, não foram ofertadas orientações às puérperas sobre os procedimentos a serem e/ou realizados no(a) filho(a) logo após o parto (55,11%) e sobre a higiene do recém-nascido (35,27%); além da não implementação de contato pele a pele (28,09%) e de amamentação (54,66%) ainda na primeira hora de vida. Portanto, confirmou-se a hipótese alternativa do estudo, sinalizando a necessidade de reorganizações de processo à luz das boas práticas assistenciais e da humanização, além de melhor viabilizar a equidade; e também foi disponibilizada a matriz de processo supracitada.
In Brazil, maternal and child health has shown advances in actions, programs, and public policies since the 1980s. However, indicators still allow inferring an assistance with low use of good practices, in addition to records of inequalities. In view of this, the objectives were 1) To analyze the prevalence of adequacy and inadequacy of reproductive planning, prenatal care, delivery, and birth in a Northeastern Region of Brazil and the variables associated with the inadequacies; and 2) To develop a proposal for a Process Evaluation Matrix related to the adequacy of reproductive planning, prenatal care, delivery, and birth, with application to Brazilian municipalities and/or states. This is a cross-sectional, descriptive, and inferential study, using data collected between March and July 2018 in a usual risk maternity hospital in Lagarto (SE) - a reference for six municipalities in the South-Central Region of the state. Primary and secondary data were obtained from 655 puerperal and their newborns, and the study was approved by the CEP of UFS (2,553,774) and EERP-USP (5,111,309). The results showed significant prevalence of inadequacies in reproductive planning, prenatal care, labor and birth, and their respective associations, with a predominance of women with greater socioeconomic vulnerability. In reproductive planning, unplanned pregnancy (57.56%), teenage pregnancy (19.08%), no contraceptive guidance (40.31%) and/or family planning (76.34%), and women's lack of knowledge about tubal ligation (61.98%), vasectomy (60.76%), IUDs (48.84%), and injectable hormonal methods (27.02%) were evidenced. In prenatal care, we identified late initiation (19.54%); few consultations (18.78%); no prenatal care from the partner (51.43%); no guidance on activities to facilitate childbirth (50.69%), risk/warning signs in pregnancy (50.54%), how labor starts (39.97%), exclusive breastfeeding (28.33%) and complementary breastfeeding (47.63%), and low performance of exams in the first trimester and, even more serious, in the third trimester. In parturition, there was pilgrimage in the antepartum (25.95%); high-risk pregnant women delivered in a usual-risk maternity hospital (16.49%); absence of a companion at all times (25.96%); usual-risk parturient on zero diet (66.98%), without walking (39.62%) and/or using non-pharmacological method(s) for pain relief (57.92%) during labor; absence of record of use of partogram (99.06%); high prevalence of Kristeller maneuver (47.38%), horizontal position (82.64%), episiotomy (43.25%), laceration (23.14%) and positioning not chosen by the woman (53.44%) in vaginal delivery; final decision for the type of delivery not shared with the parturient (29.77%); Cesarean operation in almost half of the participants (44.27%) and the mother's dissatisfaction with her participation in decision making (47.18%) and with the clarity of explanations by professionals (34.81%). At birth, no guidance was offered to puerperal women about the procedures to be and/or performed on the child soon after birth (55.11%) and about the hygiene of the newborn (35.27%); in addition to not implementing skin-to-skin contact (28.09%) and breastfeeding (54.66%) within the first hour of life. Therefore, the alternative hypothesis of the study was confirmed, signaling the need for process reorganizations in light of good care practices and humanization, in addition to better enabling equity; and the aforementioned process matrix was also made available.