Estresse no trabalho, resiliência e adoecimento de profissionais que atuaram em serviços de urgência e emergência no contexto da pandemia de COVID-19
Stress at work, resilience and illness of professionals who worked in urgent and emergency services in the context of the COVID-19 pandemic

Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto to obtain the academic title of Doutor. Leader: Cardoso, Lucilene

Introdução:

As mudanças no ambiente de trabalho durante a pandemia de COVID-19, impactaram a atuação dos profissionais de saúde do Atendimento Pré-Hospitalar. As situações adversas impostas, exigiram dos profissionais qualificada formação e desenvolvimento de habilidades técnico-científicas, interpessoais e socioemocionais. Por tais características, estudos sobre o fenômeno do estresse e da resiliência têm sido desenvolvidos com essa população, considerando que para o enfrentamento do cenário pandêmico, a atuação desses profissionais foi crucial, de extrema relevância e desafiadora.

Objetivo:

Avaliar a relação entre o estresse no trabalho e a resiliência como fator preditor ao adoecimento dos profissionais que atuaram nos serviços de urgência e emergência, no contexto da pandemia de COVID-19.

Método:

Estudo epidemiológico, descritivo e transversal, com abordagem quantitativa, realizado em Unidades de Pronto Atendimento, Centros Regionais de Saúde e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de um município de grande porte no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.

A amostra foi composta por 293 profissionais:

técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. A coleta ocorreu nos meses de maio/junho e setembro/outubro de 2021. Utilizou-se: Questionário sociodemográfico, de condições de trabalho e saúde; Escala de Estresse no Trabalho; Escala de Resiliência; Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey; Cuestionario para La Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo; Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão e Mini Internacional Neuropsychiatric Interview. Foram respeitados os aspectos éticos legais e as análises estatísticas foram feitas pela estatística descritiva, pelos testes Qui-Quadrado de Cochran-Armitage, Teste Linear-por-Linear e Jonckheere-Terpstra. A regressão linear múltipla foi realizada para ajustar as associações entre as variáveis desfecho e as variáveis independentes.

Resultados:

Mais da metade dos profissionais encontravam-se em moderado/alto nível de exposição ao estresse no trabalho, trabalhavam em alta exigência e com nível moderado/alto de resiliência. O estresse demonstrou ser fator preditor para elevada Exaustão Emocional e para maior risco de adoecimento. Foi relacionado ainda a não fazer uso de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, baixo apoio social no trabalho e baixo risco de ideação suicida. Além disso, se mostrou mais alto nos profissionais que trabalhavam em Unidades de Pronto Atendimento, com apenas um vínculo empregatício, elevada carga horária semanal, que tiveram alguém próximo infectado por COVID-19, com baixa ilusão pelo trabalho, alta culpa e despersonalização e com sintomas de ansiedade e depressão. A resiliência foi preditora de ausência de sintomas de ansiedade e alta realização pessoal. Se relacionou à prática de religiosidade, prática de atividade física, ausência de problemas de saúde e de uso de medicamento contínuo. Maiores níveis de resiliência foram associados a ausente percepção de alteração na saúde mental após o início da pandemia, ao alto apoio social no trabalho, a menores níveis de exaustão emocional/desgaste psíquico e despersonalização e ausência de depressão e ideação suicida.

Conclusão:

Entre si o estresse no trabalho e a resiliência não apresentaram, nesta amostragem, correlação estatisticamente significativa. O trabalho em alta exigência e alta exposição ao estresse no trabalho e maior risco de adoecimento, especialmente psíquico, contextualizou a atuação desses profissionais. Porém, a resiliência demonstrou-se importante fator protetor neste contexto. Os resultados obtidos são relevantes e evidenciam que ambos os fenômenos agiram como fatores preditores relacionados ao adoecimento dos profissionais de saúde que atuaram nos serviços de atendimento pré-hospitalar, durante a pandemia de COVID-19. Sugere-se estudos futuros para melhor compreensão e planejamento social no enfrentamento de situações semelhantes e melhor cuidado à saúde dos profissionais que atuam nestes serviços.

Introduction:

Changes in the work environment during the COVID-19 pandemic impacted the performance of healthcare professionals in Pre-Hospital Care. The adverse situations imposed required qualified professionals to train and develop technical-scientific, interpersonal and socio-emotional skills. Due to these characteristics, studies on the phenomenon of stress and resilience have been developed with this population, considering that to face the pandemic scenario, the performance of these professionals was crucial, extremely relevant and challenging.

Objective:

To evaluate the relationship between stress at work and resilience as a predictor of illness among professionals who worked in urgent and emergency services, in the context of the COVID-19 pandemic.

Method:

Epidemiological, descriptive and cross-sectional study, with a quantitative approach, carried out in Emergency Care Units, Regional Health Centers and Mobile Emergency Care Service in a large municipality in the state of Mato Grosso do Sul, Brazil.

The sample consisted of 293 professionals:

nursing technicians, nurses and doctors. Collection took place in the months of May/June and September/October 2021.

The following were used:

Sociodemographic, working conditions and health questionnaire; Work Stress Scale; Resilience Scale; Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey; Cuestionary for the Evaluation of Quemarse syndrome due to work; Hospital Anxiety and Depression Scale and Mini International Neuropsychiatric Interview. Legal ethical aspects were respected and statistical analyzes were carried out using descriptive statistics, the Cochran-Armitage Chi-Square test, the Linear-by-Linear Test and the Jonckheere-Terpstra test. Multiple linear regression was performed to adjust the associations between the outcome variables and the independent variables.

Results:

More than half of the professionals had a moderate/high level of exposure to stress at work, worked under high demands and had a moderate/high level of resilience. Stress has been shown to be a predictive factor for high Emotional Exhaustion and a greater risk of illness. It was also related to not using Integrative and Complementary Health Practices, low social support at work and low risk of suicidal ideation. Furthermore, it was higher among professionals who worked in Emergency Care Units, with only one employment relationship, a high weekly workload, who had someone close to them infected by COVID-19, with low enthusiasm for work, high guilt and depersonalization and with symptoms of anxiety and depression. Resilience was a predictor of the absence of anxiety symptoms and high personal accomplishment. It was related to the practice of religiosity, physical activity, absence of health problems and continuous use of medication. Higher levels of resilience were associated with no perception of change in mental health after the start of the pandemic, high social support at work, lower levels of emotional exhaustion/psychic exhaustion and depersonalization and absence of depression and suicidal ideation.

Conclusion:

Work stress and resilience did not present a statistically significant correlation in this sample. Highly demanding work and high exposure to stress at work and greater risk of illness, especially mental illness, contextualized the work of these professionals. However, resilience proved to be an important protective factor in this context. The results obtained are relevant and show that both phenomena acted as predictive factors related to the illness of health professionals who worked in pre-hospital care services during the COVID-19 pandemic. Future studies are suggested for better understanding and social planning to face similar situations and better health care for professionals who work in these services.

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