Avaliação longitudinal do índice de massa corporal antes e após restauração de lesões cavitadas de cárie em pré-escolares
Longitudinal assessment of the body mass index before and after restoration of cavitated cavity lesions in preschool children
Publication year: 2022
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Odontologia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Paiva, Saul Martins de
O Índice de Massa Corporal (IMC) indicando desnutrição ou sobrepeso/obesidade pode ter fatores de risco comuns com a cárie dentária. A cárie dentária pode representar um dos múltiplos fatores que podem culminar em desnutrição ou sobrepeso/obesidade. Crianças obesas tendem a consumir alimentos ricos em carboidratos fermentáveis com maior frequência. Crianças com cárie dentária severa ou dor de dente podem evitar se alimentar e tendem a engolir o alimento sem uma trituração adequada, levando a alterações de peso. Nesse sentido, é possível que o tratamento restaurador de lesões de cárie, melhorando a função mastigatória, promova mudança no IMC. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do tratamento restaurador de lesões cariosas cavitadas em dentes posteriores na mudança de IMC de pré-escolares. Um estudo longitudinal com crianças de 3 a 4 anos, acompanhadas por um período entre três e seis meses, selecionadas em pré-escolas e creches públicas e privadas, foi conduzido na cidade de Diamantina, MG, Brasil. A população de estudo foi composta por 132 crianças distribuídas em dois grupos. Um grupo foi composto por crianças com cárie dentária cavitada não tratada, sem envolvimento pulpar, em dentes posteriores (Grupo Intervenção - GI) e o outro grupo foi composto por crianças sem cárie dentária (Grupo Controle - GC). Para composição do GC as crianças foram pareadas por idade, sexo e escola com as crianças do GI. Todos os instrumentos de avaliação foram aplicados em dois momentos para ambos os grupos. Para o grupo que recebeu a intervenção, as avaliações foram realizadas antes do tratamento (M1) e após um intervalo mínimo de 3 meses e máximo de 6 meses posteriores à conclusão do tratamento (M2). As avaliações das crianças do GC foram realizadas no mesmo dia que das crianças do GI. Antes do exame clínico e das consultas para realização do tratamento odontológico restaurador, pais/responsáveis preencheram um formulário sociodemográfico. As crianças passaram por exame clínico bucal e avaliação antropométrica para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). A cárie dentária foi avaliada através do International Caries Detection and Assessment System (ICDAS II). Aquelas crianças que, no exame clínico inicial, apresentaram lesões óbvias de cárie (códigos 3, 4, 5 e 6 do ICDAS) em dentes posteriores foram incluídas no GI. A presença de má-oclusão foi definida de acordo com os critérios propostos por Foster e Hamilton (1969). O tratamento restaurador foi realizado usando os princípios de remoção seletiva de cárie. Cimento de ionômero de vidro modificado por resina foi o material de escolha para as restaurações, seguindo as recomendações do fabricante. Foi realizada análise descritiva dos dados e regressão logística uni e multivariada. O desfecho foi dicotomizado em manutenção do IMC, entre o M1 e o M2, e mudança do IMC para o IMC normal, ou seja, crianças que tinham o IMC baixo ou alto na primeira avaliação e normal na segunda avaliação. A análise multivariada mostrou que a chance de mudança para o IMC normal foi maior em crianças de 4 anos (RC= 17,6; IC95% 2,2-24,8) e que pertenciam ao grupo que recebeu tratamento restaurador (RC=5,1; IC95% 1,6-16,2). Um maior número de dentes restaurados esteve associado com a mudança para o IMC normal na análise não ajustada, mas perdeu a associação após o ajuste. Nenhuma variável socioeconômica foi associada à mudança para o IMC normal. Concluiu-se que o tratamento restaurador dos dentes posteriores exerceu um efeito positivo na mudança de IMC de crianças pré-escolares.
Body Mass Index (BMI) non ideal may have risk factors in common with dental caries, but it can also be considered an outcome of this disorder. Obese children tend to consume foods with fermentable carbohydrates more often. On the other hand, children with dental caries may avoid eating or tend to swallow food without adequate mastication, leading to weight loss and weight gain, respectively. Thus, it is possible that the restorative treatment of dental caries, improving masticatory function, promotes some change in BMI. The aim of this study was to assess whether restorative treatment influences changing the BMI of preschool children with cavitated dental caries in posterior teeth. A longitudinal study with children aged 3 to 4 years, accompanied by a period of between three and six months, was carried out in the city of Diamantina, Minas Gerais. The sample was composed by 132 children distributed into two groups. One group was composed by children with untreated cavitated dental caries, without pulp involvement, in posterior teeth (intervention group) and the other group was composed by children without dental caries (control group). For the composition of the control group, children from the group that received the intervention were paired with children of the same age, sex and school who did not have cavitated dental caries. All assessment instruments were applied in two moments for both groups. For the group that received the intervention, evaluations were performed before treatment (M1) and after a minimum interval of 3 months and a maximum of 6 months after its completion (M2). For the control group, the assessments were performed on the same day as the pair in the intervention group. Before the clinical examination and restorative dental treatment, parents/guardians, the parents/caregivers filled out a form addressing socioeconomic characteristics. The children underwent clinical oral examination and anthropometric assessment to calculate the Body Mass Index (BMI). Dental caries was assessed using the International Caries Detection and Assessment System (ICDAS II). Those children with obvious caries lesions (ICDAS codes 3, 4, 5 and 6) in their posterior teeth were included in the intervention group. The presence of malocclusion was defined according to the criteria proposed by Foster and Hamilton (1969). The calculation of BMI was performed using the formula that divides weight (kg) by height (m) squared (BMI = weight/height2). Restorative treatment was carried out using the principles of selective caries removal. Resin-modified glass ionomer cement (it was the material of choice, following the manufacturer's recommendations. Descriptive analysis and uni- and multivariate logistic regression were performed. The outcome was dichotomized into maintenance of BMI, between baseline and follow-up, and change from BMI to normal BMI, that is, children who had low or high BMI in the first assessment and normal in the second assessment. Children aged 4 years (OR= 17.6; 95%CI= 2.2-24.8; p=0.006) and who belonged to the group that received restorative treatment (OR=5.0; 95%CI 1.6-16.2; p=0.004) had a greater chance of change to normal BMI. The number of restored teeth was associated with a change to normal BMI in the unadjusted analysis but lost the association after adjustment. Restorative treatment had a positive effect on change of BMI of preschool children.