A trama das mulheres invisíveis: análise da abordagem de feminicídio íntimo no jornalismo popular
The plot of invisible women: an analysis of the approach to intimate femicide in popular journalism

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher to obtain the academic title of Mestre. Leader: Ivia, Maksud

O “feminicídio íntimo” (CARDEDO, 2002) é um problema histórico que no Brasil é causa da maioria das mortes violentas de mulheres, sendo Goiás o terceiro estado no ranking desses assassinatos. Mesmo com a comprovação de que este é um problema grave, de Saúde Pública, e resultante de um ciclo de outras violências, ainda assim é invisibilizado e naturalizado por diversas instâncias sociais, entre elas a mídia. Noticiando esse tipo de crime estão os jornais populares, como o “Daqui”, um tabloide goiano com tiragem diária de 189 mil exemplares, sendo a maioria dos leitores (51%) mulheres, entre 20 a 39 anos, provenientes, sobretudo, da classe C, coincidindo com a estimativa do público que sofre feminicídio no país. O objetivo desta pesquisa foi analisar as notícias sobre assassinatos e tentativas de assassinatos a mulheres, cujos autores ou acusados eram parceiros, ou ex-parceiros íntimos das vítimas, caracterizando, assim, o perfil das vítimas e agressores, que possibilitou a análise do discurso social da produção dessas notícias jornalísticas a respeito desse tipo de crime. Entre março de 2015 (mês que a Lei do Feminicídio entrou em vigor) a junho de 2016, foram encontradas 121 veiculações se enquadram como feminicídios íntimos e tentativas de feminicídio. Para analisar como estes fatos eram relatados pelo veículo de comunicação, realizou-se a análise do discurso crítica (FAIRCLOUGH, 2003) e análise do discurso das mídias (CHARAUDEAU, 2015), alicerçadas por estudos multidisciplinares baseados especialmente na saúde coletiva, sociologia, comunicação e, teorias feministas.

Resumo:

A partir das análises foi constatado que o jornal não categoriza o feminicídio íntimo como tal, mas o representa como crime passional. Foi possível traçar um perfil das vítimas, autores, o que falam as fontes jornalísticas. A análise contribui para a compreensão de como as fontes e a mídia auxiliam na perpetração da “dominação masculina” (BOURDIEU, 2002), através de um discurso que legitima – ou naturaliza - o feminicídio íntimo, não o reconhecendo como um crime de gênero, bem como fortalecendo estereótipos dos atores sociais envolvidos. Através da pesquisa concluímos que ainda existem lacunas substanciais na cobertura do feminicídio íntimo na mídia e ressaltamos a necessidade de maior debate sobre o tema em diversas esferas sociais.
The "intimate feminicide" (CARDEDO, 2002) is a historical problem that in Brazil is the cause of most of the violent deaths of women, with Goiás being the third state in the ranking of these murders. Even with the proof that this is a serious problem of Public Health, and resulting from a cycle of other violence, it is still invisible and naturalized by various social instances, including the media. Reporting this type of crime are popular newspapers, such as "Daqui", a tabloid from Goiás with a daily circulation of 189,000 copies, with the majority of readers (51%) being women, aged between 20 and 39 years, coming mainly from class C, coinciding with the estimate of the public that suffers feminicide in the country. The objective of this research was to analyze the news about murders and attempted assassinations of women whose perpetrators or accused were partners or former intimate partners of the victims, thus characterizing the profile of the victims and aggressors, which made possible the analysis of social discourse of the production of these news stories about this type of crime. Between March 2015 (month that the Law of Feminicide went into effect) and June 2016, 121 placements were found to be classified as intimate femicides and attempts at femicide. The analysis of critical discourse (FAIRCLOUGH, 2003) and analysis of media discourse (CHARAUDEAU, 2015), based on multidisciplinary studies based on collective health, sociology, communication and feminist theories. From the analysis it was verified that the newspaper does not categorize the intimate feminicide as such, but represents it as a crime of passion. It was possible to draw a profile of the victims, authors, which speak journalistic sources. The analysis contributes to the understanding of how sources and the media help in the perpetration of "male domination" (BOURDIEU, 2002), through a discourse that legitimizes or naturalizes intimate feminicide, not recognizing it as a gender crime, as well as strengthening stereotypes of the social actors involved. Through the research we conclude that there are still substantial gaps in the coverage of intimate feminicide in the media, and we emphasize the need for greater debate on the subject in various social spheres.

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