Diante da crescente prevalência do sobrepeso e da obesidade na população brasileira, o governo federal vem desenvolvendo um conjunto de políticas públicas e os serviços públicos de saúde assumem atribuições estratégicas nesse processo. Nesse sentido, o Ministério da Saúde instituiu a Linha de Cuidado do Sobrepeso e da Obesidade (LCSO), no âmbito da Rede de Atenção em Saúde (RAS) do Sistema Único de Saúde (SUS), visando o cuidado integral em saúde do indivíduo com sobrepeso e obesidade. Considerando a importância de conhecer os avanços e desafios desse processo no âmbito local, desde 2014 vem sendo realizada uma pesquisa sobre as ações de prevenção e controle da obesidade nos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro (ERJ). O presente estudo aprofundou essa pesquisa no contexto municipal entre 2019 e 2021 e teve como objetivo analisar as concepções de profissionais e usuários assistidos por instituições públicas do município de Niterói sobre os fatores relacionados com o processo saúde doença e com o processo terapêutico na ótica da atenção integral à saúde da pessoa com obesidade.

Os métodos de construção e análises dos dados incluiriam:

entrevistas semiestruturadas com usuários e profissionais de saúde, análise documental e revisão bibliográfica. Identificou-se nas falas dos profissionais uma tensão entre o reconhecimento da complexidade e dos múltiplos condicionantes da obesidade como uma questão coletiva e populacional e os desafios do processo terapêutico voltado para indivíduos específicos. Alguns profissionais, simultaneamente, reconhecem essa complexidade, mas parecem responsabilizar apenas o usuário pela não observância ao tratamento e por não conseguirem modificar o seu “estilo de vida”. Questões referentes ao vínculo entre profissionais e usuários estiveram associadas, nas falas dos profissionais, a enunciados sobre “quem é” o usuário, “porque procura o atendimento nutricional” e o quanto valoriza (na visão dos profissionais) esse atendimento. Questões relacionadas com a saúde mental dos usuários foram sinalizadas pelos profissionais como um dos maiores desafios do processo terapêutico. Os parâmetros de sucesso e os objetivos terapêuticos apresentados pelos profissionais e usuários envolvem critérios de bem-estar e questões de saúde, para além da perda de peso em si. Nesse sentido são bem mais amplos e flexíveis do que os destacados pela literatura, que em geral é focada em percentuais de perda de peso. (AU)