Fatores associados ao tempo para realização do transplante renal pediátrico com doador falecido a partir da inscrição na lista de espera no estado do Rio de Janeiro
Factors associated with time to deceased donor pediatric kidney transplant for waitlisted children in Rio de Janeiro state
Publication year: 2023
Theses and dissertations in Portugués presented to the Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - Fundação Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Professor Livre Docente. Leader: Antônio Guilherme Fonseca Pacheco
O transplante renal é a terapia de substituição renal com melhor sobrevida e qualidade
de vida para crianças e adolescentes com falência de rins. O transplante de rins com doador
falecido é a modalidade de transplante mais comumente realizada no Brasil e em muitos países.
Este trabalho teve o objetivo de avaliar os fatores relacionados ao tempo até o primeiro
transplante renal com doador falecido em crianças e adolescentes até 18 anos de idade a partir
da inscrição na fila de espera para transplante renal. Foi realizado estudo retrospectivo com
dados de crianças e adolescentes inscritas no cadastro técnico único (CTU) do sistema nacional
de transplantes (SNT) referentes ao estado do Rio de Janeiro no período de 01/01/2012 a
30/06/2022. Foram realizadas análise de sobrevivência com eventos competitivos (transplante
renal com doador vivo, remoção da lista e óbito) e regressão semiparamétrica de Cox. O estudo
teve uma amostra de 296 crianças e adolescentes inscritos na lista de transplante renal, dos quais
75,6% transplantaram com doador falecido com tempo mediano de 112 dias. A maioria das
crianças e adolescentes inscrita tinha entre 7 e 18 anos de idade (90%), era do sexo masculino
(56%) e da raça/cor branca (45,6%), com PRA menor que 50% (96,6%), tipagem sanguínea A
ou O (845), já havia transfundido (65,5%) e iniciado diálise antes de serem listados (86,1%).
Um terço dos inscritos apresentava glomerulonefrite como doença de base. Na análise
univariada, estar vinculado a centro transplantador com baixo volume de transplantes (HR 0,26
/ IC 0,17-0,39), PRA ≥50% (HR 0,27 / IC 0,09-0,85) e idade entre 7 e 18 anos (HR 0,51 / IC
0,33-0,79) impactaram negativamente o tempo até o transplante renal com doador falecido. Ao
passo que estar inscrito na época da pandemia de COVID-19 (HR 74 / IC 10,4-525) aumentou
a probabilidade de transplantar com doador falecido. Já na análise múltipla, a oferta de rins (HR
1,01 / IC 1,003-1,03) e ter insuficiência renal crônica (HR 1,52 / IC 1,07-2,14) tiveram impacto
positivo na probabilidade de receber transplante renal com doador falecido, enquanto PRA
≥50% (HR 0,17 / IC 0,05-0,56) e estar vinculado a centro de baixo volume (HR 0,67 / IC 0,45-
0,99) tiveram efeito negativo. Não se mostrou diferença em relação ao acesso ao transplante
renal com doador falecido a partir da inscrição na fila de espera no que diz respeito a sexo,
raça/cor, status socioeconômico, distância de moradia até o centro transplantador, tipagem
sanguínea ou transfusão de sangue. Este estudo mostrou que o fator imunológico (PRA) e a
característica do centro transplantador mostraram ser as únicas variáveis que impactaram o tempo até o transplante renal pediátrico com doador falecido mesmo quando controladas pelo
efeito das outras variáveis.
Kidney transplantation offers better survival and quality of life than any other modality
of kidney replacement therapy for children and teenagers with kidney failure. Deceased donor
kidney transplant (DDKT) is the most frequent type of kidney transplant in Brazil and many
countries. This work aims to evaluate the factors related to time until first DDKT in waitlisted
children and teenagers up to 18 years old. In this retrospective study, data for kidney transplant
waitlisted patients under 19 years old in Rio de Janeiro state was collected from the national
transplant system of the Ministry of Health, from January 1
st
, 2012, to June 30th
, 2022. Survival
analysis was performed with time to first DDKT as the outcome. Cox proportional hazards
regression models with competing risks were also employed. Of the 296 waitlisted patients,
75,6% had DDKT with a median time of 112 days. Most of the waitlisted patients were between
7 and 18 years old (90%), male (56%) and white (45,6%). The majority had PRA of less than
50% (96,6%), blood type A or O (84%), had received blood transfusion (65,5%) and were on
kidney replacement therapy (86,1%) before entering the waitlist. Glomerulonephritis was the
cause of kidney disease in one third of the cases. In the univariate analysis, being listed by a
low volume transplanting center (HR 0,26 / CI 0,17-0,39), PRA ≥50% (HR 0,27 / CI 0,09-0,85)
and age between 7 and 18 years old (HR 0,51 / CI 0,33-0,79) had a negative impact on waitlist
time to DDKT. Meanwhile, being listed during the COVID-19 pandemic (HR 74 / CI 10,4-525)
increased the likelihood of undergoing a DDKT. Multivariable analysis confirmed the negative
impact of PRA ≥50% % (HR 0,17 / CI 0,05-0,56) and being listed by a low volume transplanting
center (HR 0,67 / CI 0,45-0,99) at the time of DDKT. On the hand, it was shown that the number
of deceased donor kidneys (HR 1,01 / CI 1,003-1,03) and chronic kidney disease as cause of
kidney failure (HR 1,52 / CI 1,07-2,14) increased the chance of DDKT. This work didn’t show
any difference in access to DDKT for waitlisted patients under 19 years old in terms of sex,
race/skin color, socioeconomic status, distance between residence and transplanting center,
blood type or blood transfusion. Finally, by accounting for clinical individual patient features
and external factors, this study concluded that immunological status (PRA) and low volume
transplanting centers were the only variables that impacted time to DDKT, even after
controlling for covariables.