Adaptação cultural e validação do instrumento Acute Coronary Syndrome Response Index para uso no Brasil
Cultural adaptation and validation of the Acute Coronary Syndrome Response Index for use in Brazil

Publication year: 2024
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto to obtain the academic title of Doutor. Leader: Dantas, Rosana Aparecida Spadoti

As doenças cardiovasculares, com destaque para a síndrome coronariana aguda (SCA), representam a principal causa de mortalidade mundial. Essa síndrome é a manifestação clínica mais comum da doença arterial coronariana (DAC). O intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a reperfusão do miocárdio é crucial para a sobrevivência dos pacientes. Contudo, a falta de conhecimento e a demora para reconhecer os sintomas isquêmicos são os principais fatores que influenciam no atraso do atendimento pré-hospitalar. Programas educativos e instrumentos de avaliação são importantes estratégias para educar a população e reduzir eventos recorrentes da SCA. Nossa revisão de literatura demonstrou que, no Brasil, não dispomos de um instrumento validado para avaliar o conhecimento dos indivíduos sobre esta síndrome. O Acute Coronary Syndrome (ACS) Response Index avalia a resposta do indivíduo à SCA, por meio de seu conhecimento, atitudes e crenças. Dessa forma, o objetivo deste estudo metodológico foi adaptar culturalmente e verificar as propriedades de medida da versão adaptada para o Brasil do ACS Response Index, em pacientes com 18 anos ou mais, de ambos os sexos e diagnosticados com DAC.

O processo de adaptação cultural transcorreu de acordo com as seguintes etapas:

tradução inicial; obtenção do consenso das versões em português; comitê de especialistas; retrotradução; obtenção do consenso das versões em inglês; avaliação pelo autor da versão original; análise semântica; e pré-teste.

As seguintes propriedades de medida foram avaliadas:

consistência interna, validade de face e de conteúdo, validade de construto entre grupos conhecidos, validade de constructo convergente, validade estrutural e presença de efeitos teto e chão. O nível de significância adotado foi de 0,05. Participaram do estudo 244 indivíduos com DAC. As pontuações médias para as subescalas de conhecimento, atitudes e crenças foram, respectivamente: 12,75 (DP=2,6), 13,48 (DP=3,39) e 22,40 (DP=3,16). A consistência interna da subescala de conhecimento foi avaliada pelo KR-20, cujo valor foi de 0,399. Os resultados dos alfas de Cronbach para as subescalas de atitudes e de crenças foram 0,735 e 0,577, respectivamente. A estrutura original do instrumento foi testada mediante análise fatorial confirmatória, para a qual obteve-se índices de ajuste satisfatórios para as subescalas de conhecimento (SRMR=0,065; RMSEA=0,058; CFI=0,792; TLI=0,761), atitudes (SRMR=0,027; RMSEA=0,053; CFI=0,988; TLI=0,970) e crenças (SRMR=0,047; RMSEA=0,048; CFI=0,971; TLI=0,952). As hipóteses prévias sobre a validade de constructo por grupos conhecidos foram testadas para comparar os valores das três subescalas segundo a faixa etária, presença de orientação prévia sobre sua doença cardíaca e nível escolaridade.

Apenas as seguintes hipóteses foram confirmadas:

na subescala de conhecimento, os indivíduos com até 59 anos apresentaram melhores níveis de conhecimento quando comparados aos indivíduos com 60 anos ou mais (p=0,003); na subescala de crenças, maiores valores foram obtidos no grupo que relatou orientação prévia sobre sua doença (p=0,008) e naqueles com maior escolaridade (p=0,022). A avaliação da validade de constructo convergente mostrou correlação fraca e positiva entre as subescalas de conhecimento e crenças (r=0,217; p<0,05), e de conhecimento e atitudes (r=0,128; p<0,05). Não encontramos correlação entre os valores das demais subescalas. Constatamos a presença do efeito teto em todos os itens das subescalas de atitudes e de crenças. Os resultados mostraram que o ACS Response Index-BR manteve as equivalências, validade de face e de conteúdo, validade de constructo entre grupos conhecidos nas subescalas de conhecimentos e crenças, ajuste adequado ao modelo estrutural original e confiabilidade satisfatória para a subescala de atitudes. Entretanto, dadas as particularidades da amostra, sugerimos a realização de estudos adicionais com a versão adaptada em diferentes instituições de saúde, assim como, em amostras com características sociodemográficas distintas.
Cardiovascular diseases, especially Acute Coronary Syndrome (ACS), represent the main cause of mortality worldwide. This syndrome is the most common clinical presentation of coronary artery disease (CAD). The time interval between the onset of symptoms and myocardial reperfusion is crucial for patient survival. However, lack of knowledge and delay in recognizing ischemic symptoms are the main factors that influence delays in pre-hospital care. Educational programs and assessment tools are important strategies to educate the population and reduce recurrent ACS events. Our literature review demonstrated that, in Brazil, we do not have a validated instrument to assess individuals' knowledge about this syndrome. The ACS Response Index assesses an individual's response to ACS, through their knowledge, attitudes and beliefs. Therefore, the objective of this methodological study was to culturally adapt and verify the measurement properties of the version adapted for Brazil of the ACS Response Index, in patients aged 18 or over, of both genders and diagnosed with CAD.

The cultural adaptation process occurred according to the following stages:

initial translation; obtaining consensus on the Portuguese versions; expert committee; back translation; obtaining consensus on English versions; evaluation by the author of the original version; semantic analysis; and pre-test.

The following measurement properties were evaluated:

internal consistency, face and content validity, construct validity by known groups, convergent construct validity, structural validity and ceiling and floor effects presence. The significance level adopted was 0.05. This study included 244 individuals with CAD. The mean scores for the knowledge, attitudes and beliefs subscales were, respectively: 12.75 (SD=2.6), 13.48 (SD=3.39) and 22.40 (SD=3.16). The internal consistency of the knowledge subscale was assessed using the KR-20, the value of which was 0.399. Cronbach's alpha results for the attitudes and beliefs subscales were 0.735 and 0.577, respectively. The original instrument's structure was tested using confirmatory factor analysis, for which satisfactory fit indices were obtained for the knowledge (SRMR=0.065; RMSEA=0.058; CFI=0.792; TLI=0.761), attitudes (SRMR=0.027; RMSEA =0.053; CFI=0.988; TLI=0.970) and beliefs subscales (SRMR=0.047; RMSEA=0.048; CFI=0.971; TLI=0.952). Previous hypotheses about construct validity by known groups were tested to compare the values of the three subscales according to age range, presence of previous guidance about heart disease and education level.

Only the following hypotheses were confirmed:

in the knowledge subscale, individuals aged 59 years or younger presented better levels of knowledge when compared to individuals aged 60 years or older (p=0.003); in the beliefs subscale, higher values were obtained in the group that reported previous guidance about their disease (p=0.008) and in those with higher education level (p=0.022). The evaluation of the convergent construct validity showed a weak and positive correlation between the knowledge and beliefs subscales (r=0.217; p<0.05), and knowledge and attitudes subscales (r=0,128; p<0,05). We did not find any correlation between the values of the other subscales. We found the presence of the ceiling effect in all items of the attitudes and beliefs subscales. The results showed that the ACS Response Index-BR maintained equivalences, face and content validity, construct validity by known groups in the knowledge and beliefs subscales, adequate fit to the original structural model, and satisfactory reliability for the attitudes subscale. However, given the particularities of the sample, we recommend conducting additional studies with the adapted version in different healthcare institutions, as well as in samples with different sociodemographic characteristics.

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