Hepatite C crônica em serviço de referência no nordeste do Brasil: um estudo retrospectivo de dezoito anos de acompanhamento
Chronic hepatitis C in a reference service in northeastern Brazil: a retrospective study of eighteen years of follow-up

Publication year: 2015
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal do Rio Grande do Norte to obtain the academic title of Doutor. Leader: Costa, Iris do Céu Clara

A hepatite C crônica é a principal causa de doença hepática crônica avançada em estágio final, de carcinoma hepatocelular (CHC) e de morte relacionada à doença hepática. Evolui de forma progressiva no espaço de tempo de 20 a 30 anos. Taxas evolutivas variam na dependência de fatores do vírus, do hospedeiro e comportamental. Este estudo objetivou fazer uma avaliação do impacto da hepatite C, no serviço de referência em Hepatologia do Hospital Universitário Onofre Lopes - Núcleo de Estudos do Fígado - de maio de 1995 a dezembro de 2013. Foi realizada uma avaliação retrospectiva em 10.304 prontuários, com a finalidade de se construir uma coorte de pacientes com hepatite C, em que todos os indivíduos tivessem o seu diagnóstico confirmado pelo teste padrão ouro de biologia molecular. Os dados foram obtidos diretamente dos prontuários dos pacientes e registrados em planilha Excel, previamente construída, seguindo uma codificação elaborada com as variáveis de estudo, os quais se constituem em dados individuais e em fatores de prognóstico definidos pela literatura na progressão da hepatite C crônica. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL-UFRN com o número de parecer 448.243. Os resultados foram analisados estatisticamente, sendo o teste de Qui-Quadrado e o Exato de Fisher utilizados para verificar a associação entre as variáveis. Para a análise multivariada, usou-se o método de regressão Logística Binomial. Para ambos os testes, admitiu-se significância p<0,05 e IC de 95%. Os resultados mostraram que a prevalência de Hepatite C crônica no NEF foi estimada em 4,96%. A prevalência de cirrose por Hepatite C foi 13,7%. A prevalência de diabetes em pacientes com Hepatite C foi 8,78% e de diabetes em cirróticos com hepatite C 38,0%. A prevalência de CHC foi estimada em 5,45%. As taxas de descontinuidade do acompanhamento clínico foram estimadas em 67,5%. A mortalidade nos casos confirmados sem cirrose foi 4,34% e nos pacientes cirróticos 32,1%. Os fatores associados ao desenvolvimento de cirrose foram genótipo 1 (p = 0,0015) e bilirrubina > 1.3 mg% (p = 0,0017) . Os fatores associados à mortalidade foram idade acima de 35 anos, abandono do tratamento, diabetes, uso de insulina, AST > 60 UI, ALT > 60 UI, bilirrubina total alta, TAP alargado, INR alto, albumina baixa, suspensão do tratamento, cirrose e hepatocarcinoma. A ocorrência de diabetes mellitus elevou a mortalidade de pacientes com hepatite C em 7,2 vezes. Variáveis associadas ao diagnóstico de cirrose por US foram doador de sangue (odds ratio 0,24, p= 0,044) e atleta profissional (odds ratio 0,18, p = 0,35). É razoável considerar uma reavaliação nos modelos de screening para CHC propostos atualmente. A condição de cirrose e diabetes modifica a evolução clínica de pacientes com hepatite C crônica, tornando-a uma doença com maior mortalidade. Entretanto, ser doador de sangue ou atleta profissional é fator de proteção que reduz o risco de cirrose, independente do consumo de álcool. Políticas públicas para melhor acessso, acolhimento e resolutividade são necessárias para esta população (AU).
Chronic Hepatitis C is the leading cause of chronic liver disease in advanced final stage of hepatocellular carcinoma (HCC) and of death related to liver disease. Evolves progressively in time 20-30 years. Evolutionary rates vary depending on factors virus, host and behavior. This study evaluated the impact of hepatitis C on the lives of patients treated at a referral service in Hepatology of the University Hospital Onofre Lopes - Liver Study Group - from May 1995 to December 2013. A retrospective evaluation was performed on 10,304 records, in order to build a cohort of patients with hepatitis C, in which all individuals had their diagnosis confirmed by gold standard molecular biological test. Data were obtained directly from patient charts and recorded in an Excel spreadsheet, previously built, following an elaborate encoding with the study variables, which constitute individual data and prognostic factors defined in the literature in the progression of chronic hepatitis C. The Research Ethics Committee approved the project. The results were statistically analyzed with the Chi-square test and Fisher's exact used to verify the association between variable for the multivariate analysis, we used the Binomial Logistic regression method. For both tests, it was assumed significance p < 0.05 and 95%. The results showed that the prevalence of chronic hepatitis C in NEF was 4.96 %. The prevalence of cirrhosis due to hepatitis C was 13.7%. The prevalence of diabetes in patients with Hepatitis C was 8.78 % and diabetes in cirrhotic patients with hepatitis C 38.0 %. The prevalence of HCC was 5.45%. The clinical follow-up discontinuation rates were 67.5 %. The mortality in confirmed cases without cirrhosis was 4.10% and 32.1% in cirrhotic patients. The factors associated with the development of cirrhosis were genotype 1 (p = 0.0015) and bilirubin > 1.3 mg % (p = 0.0017). Factors associated with mortality were age over 35 years, abandon treatment, diabetes, insulin use, AST> 60 IU, ALT> 60 IU, high total bilirubin, extended TAP, INR high, low albumin, treatment withdrawal, cirrhosis and hepatocarcinoma. The occurrence of diabetes mellitus increased mortality of patients with hepatitis C in 6 times. Variables associated with the diagnosis of cirrhosis by us were blood donor (odds ratio 0.24, p = 0.044) and professional athlete (odds ratio 0.18, p = 0.35). It is reasonable to consider a revaluation in screening models for CHC currently proposed. The condition of cirrhosis and diabetes modifies the clinical course of patients with chronical hepatitis C, making it a disease more mortality. However, being a blood donor or professional athlete is a protective factor that reduces the risk of cirrhosis, independent of alcohol consumption. Public policies to better efficient access, hosting and resolution are needed for this population (AU).

More related