A mulher no contexto rural e sua saúde sexual e saúde reprodutiva: um estudo de representações sociais
Women in rural contexts and their sexual and reproductive health: a study of social representations

Publication year: 2021
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna Nery to obtain the academic title of Doutor. Leader: Queiroz, Ana Beatriz Azevedo

Mulheres no contexto rural apresentam especificidades que trazem implicações para sua saúde sexual e saúde reprodutiva. Objetivou-se: descrever os conteúdos e sentidos das mulheres rurais acerca do ser mulher nesse contexto; analisar as especificidades das práticas sexuais e reprodutivas frente à representação de ser mulher no contexto rural; discutir as implicações que estas representações trazem para a atenção à saúde sexual e saúde reprodutiva da mulher no contexto rural. Pesquisa qualitativa, descritiva, utilizando a Teoria das Representações sociais na abordagem processual. Participaram 31 mulheres que vivem em áreas rurais no município de Santa Rita de Ibitipoca no estado de Minas Gerais, Brasil. As técnicas de produção de informação foram técnica projetiva; entrevista semidirigida e captação do perfil sociodemográfico e sobre a saúde sexual e reprodutiva. Aplicou-se a estatística simples e percentual na análise dos dados deste perfil. As entrevistas foram processadas pelo programa ALCESTE versão 2012. O estudo foi aprovado por um Comitê de Ética de Pesquisa.

Resultados do perfil sociodemográfico e sobre a saúde sexual e reprodutiva:

68% adultas, 100% católicas, 61% casadas, 42% com ensino fundamental incompleto, 60% não estão inseridas no mercado de trabalho; 39% sexarca após os 20 anos de idade, 77% possuem uma vida sexual ativa; 52% relatam sentir desejo e prazer nas relações sexuais; 68% são multíparas; e 55% não fazem uso de métodos contraceptivos. Quanto ao ALCESTE, o programa selecionou 806 U.C.E. perfazendo um aproveitamento de 75%, sendo essas agrupadas em oito classes lexicais, e essas classes foram divididas em três grandes blocos temáticos: Bloco 1 (classes 5,7 e 2) - A cotidianidade da mulher rural: do ambiente doméstico à corporificação do cuidado; Bloco 2 (classes 4 e 6) - A cotidianidade de mulheres no contexto rural frente às questões de saúde sexual e saúde reprodutiva; Bloco 3 (classes 3,8 e 1) - A família como território de vulnerabilidade para mulher rural. O primeiro bloco temático traz a rotina da mulher rural no ambiente doméstico, onde, muitas vezes, estão restritas, detectando-se uma tripla jornada de trabalho. A partir desse cenário, desenvolvem diversas maneiras de cuidado, e, de forma a tornar esse cuidado palpável, trazem a sua corporificação através do cuidado corporal no âmbito biológico, feminino e estético. No bloco 2, as mulheres rurais trazem a dimensão prática frente à saúde sexual e reprodutiva quando retratam o planejamento reprodutivo, os cuidados gineco-obstétricos e a dimensão imagética da maternidade como divindade e como um destino inexorável da mulher rural. E o bloco 3 evidencia subjetividades do relacionamento familiar, em especial do casal, sendo permeado pela violência, por uma prática sexual normatizada e pela divisão dos cuidados com o filho, em que a mãe cuida e o pai é o educador punitivo. Ainda traz a dimensão imagética da família ideal que parece ser responsável por exercer a dominação da mulher rural.

Emergiram três grandes representações de ser mulher rural:

A mulher rural como doméstica, lavradora e cuidadora; A mulher rural e a corporificação do cuidado com a SSSR; A mulher rural e a violência doméstica mimetizada. Essas representações orientam o comportamento dessas mulheres, fazendo com que os cuidados com a saúde sexual e saúde reprodutiva sejam ancorados nos saberes populares, na desigualdade de gênero e na violência. Aos enfermeiros cabe considerar o construto social dessas mulheres para compreender suas subjetividades e, dessa forma, promover a saúde reprodutiva e saúde sexual dentro dos quesitos da liberdade e equidade.
Women in the rural context have specificities that have implications for their sexual and reproductive health.

The objective was:

to describe the contents and meanings of rural women about being a woman in this context; analyze the specificities of sexual and reproductive practices in the face of the representation of being a woman in the rural context; discuss the implications that these representations bring to attention to women's sexual health and reproductive health in the rural context. Qualitative, descriptive research, using the Theory of Social Representations in the procedural approach. 31 women living in rural areas in the municipality of Santa Rita de Ibitipoca in the state of Minas Gerais, Brazil participated. The information production techniques were projective technique; semi-directed interview and capture of the sociodemographic profile and on sexual and reproductive health. Simple and percentage statistics were applied to analyze the data in this profile. The interviews were processed by the ALCESTE version 2012 program. Study Approved by a Research Ethics Committee.

Results of sociodemographic profile and on sexual and reproductive health:

68% adults, 100% Catholic, 61% married, 42% with incomplete primary education, 60% are not in the labor market; 39% sexarche after 20 years of age, 77% have an active sex life; 52% reported feeling desire and pleasure in sexual intercourse; 68% are multiparous and 55% do not use contraceptive methods. As for ALCESTE, the program selected 806 U.C.E. making up an utilization of 75%, these being grouped into eight lexical classes, and these classes divided into three major thematic blocks: Block 1 (classes 5,7 and 2)- The daily life of rural women: from the domestic environment to the embodiment of care; Block 2 (classes 4 and 6)- The daily life of women in the rural context regarding issues of sexual health and reproductive health; Block 3 (classes 3,8 and 1)- The family as a territory of vulnerability for rural women. The first thematic block brings the routine of rural women in the domestic environment, where they are often restricted, detecting a triple workday and it is from this scenario that they develop different ways of care and in order to make this care tangible brings its embodiment through body care in the biological, feminine and aesthetic scope. In block 2, rural women bring the practical dimension towards sexual and reproductive health as they portray reproductive planning, gynecological-obstetric care and the imagery dimension of motherhood as a divinity and as an inexorable destiny of rural women. And block 3 shows the subjectivities of the family relationship, especially of the couple, being permeated by violence, by a standardized sexual practice and by the division of care with the child, where the mother takes care and the father is the punitive educator. It also brings the imagery dimension of the ideal family that seems to be responsible for exercising the domination of rural women.

Three major representations of being a rural woman emerged:

The rural woman as domestic, farmer and caregiver; rural women and the embodiment of care for the SSSR; Rural women and mimicked domestic violence. These representations guide the behavior of these women, ensuring that sexual and reproductive health care is anchored in popular knowledge, gender inequality and violence. It is up to nurses to consider the social construct of these women to understand their subjectivities and, in this way, promote reproductive health and sexual health within the requirements of freedom and equity.

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