Risco cardiometabólico em adolescentes residentes do município de São Paulo: prevalência e fatores associados em 2008 e 2015
Cardiometabolic risk in adolescents living in the city of São Paulo: prevalence and associated factors in 2008 and 2015

Publication year: 2024
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Mestre. Leader: Fisberg, Regina Mara

Introdução:

Características fisiológicas, padrões de estilo de vida e comportamentos desenvolvidos no período da adolescência podem influenciar na formação de fatores de risco que culminem em doenças cardiometabólicas, exercendo tanto um impacto imediato quanto prolongado na saúde de adolescentes.

Objetivo:

Investigar o risco cardiometabólico e fatores associados em adolescentes residentes da cidade de São Paulo em 2008 e 2015.

Métodos:

Foram utilizados dados do estudo transversal de base populacional ISA-Capital dos anos 2008 e 2015, referentes à amostra probabilística de residentes adolescentes do município de São Paulo entre 12 e 19 anos de idade, de ambos os sexos, totalizando 448 indivíduos. Dados socioeconômicos, antropométricos, de estilo de vida e bioquímicos foram coletados em visitas domiciliares e via inquérito telefônico.

Os fatores de risco cardiometabólico avaliados foram:

pressão arterial elevada, obesidade, circunferência da cintura aumentada, dislipidemia, colesterol total elevado, lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) elevada, lipoproteína de alta densidade (HDL-c) baixa, triacilglicerol (TGL) elevado e número total de fatores de risco cardiometabólico. Frequências das variáveis categóricas foram descritas e comparadas por teste Qui-quadrado e médias ou medianas das variáveis contínuas foram comparadas por Teste t ou Teste de Wilcoxon Rank-sum, com apresentação dos respectivos intervalos de confiança de 95%. Foram utilizados modelos simples e modelos múltiplos de regressão logística para avaliar as associações das variáveis investigadas com os fatores de risco cardiometabólico. As análises foram realizadas no software STATA, versão 14.0, considerando o delineamento complexo do estudo (modo survey) e adotando nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados:

O fator de risco cardiometabólico mais prevalente na população estudada foi dislipidemia (67,6%; IC95% 63,1-71,8), sendo que o HDL-c baixo isoladamente apresentou prevalência de 52,4% (IC95% 47,7-57,0). Pressão arterial elevada foi observada em 16,1% (IC95% 12,9-19,7) dos adolescentes e obesidade em 11,7% (IC95% 9,0-15,1). Sete por cento (IC95% 5,0-9,9) apresentaram três ou mais fatores de risco concomitantemente. Não foram observadas diferenças nas prevalências dos fatores de risco segundo sexo. No ano de 2015, adolescentes apresentaram maior chance de pressão arterial elevada (OR=2,04; p=0,011) quando comparados aos do ISA 2008. Adolescentes mais velhos apresentaram menor chance (OR=0,83; p=0,024) de ter obesidade e mais chance de serem classificados com a circunferência da cintura acima das recomendações (OR=1,22; p=0,027) e de ter pressão arterial elevada (OR=1,17; p=0,017). Indivíduos que se autodeclararam como não brancos tiveram menos chance de preencher os critérios para dislipidemia (OR=0,59; p=0,018) e de apresentar triacilglicerol acima das recomendações (OR=0,58; p=0,012). Aqueles cujos chefes de família possuíam 10 anos ou mais de escolaridade apresentaram menos chance de ter dislipidemia (OR=0,54 p=0,004) e HDL-c baixo (OR=0,65; p=0,033). Os adolescentes que cumpriram as recomendações globais de atividade física apresentaram menos chance (OR= 0,48; p=0,045) de ter LDL-c elevado.

Conclusão:

Os resultados deste estudo destacam a elevada prevalência de fatores de risco cardiometabólico entre adolescentes de São Paulo, sendo dislipidemia o fator mais comum, além de aumento na chance de pressão arterial elevada entre os anos avaliados. Embora não tenham sido observadas mudanças significativas nas prevalências por sexo, fatores como ano do estudo, idade, raça/cor, nível educacional dos chefes de família e de atividade física demonstraram associações significativas com a presença de diferentes fatores de risco. Esses achados ressaltam a importância de estratégias preventivas direcionadas a esses grupos de adolescentes para mitigar o risco de desenvolvimento de doenças cardiometabólicas presentes e futuras.

Introduction:

Physiological characteristics, lifestyle patterns and behaviors developed during adolescence can influence the formation of risk factors that culminate in cardiometabolic diseases, exerting both an immediate and prolonged impact on the health of adolescents.

Objective:

To investigate cardiometabolic risk and associated factors in adolescents living in São Paulo in 2008 and 2015.

Methods:

We used data from the ISA-Capital population-based cross-sectional study from 2008 and 2015, referring to a probabilistic sample of adolescent residents of the city of São Paulo between 12 and 19 years of age, of both sexes, totaling 448 individuals. Socioeconomic, anthropometric, lifestyle, and biochemical data were collected during home visits and via telephone surveys.

The cardiometabolic risk factors assessed were:

high blood pressure, obesity, increased waist circumference, dyslipidemia, high total cholesterol, high LDL-c, low HDL-c, high triacylglycerol, and a total number of cardiometabolic risk factors. Categorical variables were described and compared using the Chi-square test and continuous variables using the t-test or Wilcoxon rank-sum test, with the respective 95% confidence intervals presented. Simple and multiple logistic regression models were used to assess the associations between the variables investigated and cardiometabolic risk factors. The significance level adopted in this study was 5% (p<0.05).

Results:

The most prevalent cardiometabolic risk factor in the study population was dyslipidemia (67.6%; 95%CI 63.1-71.8), with low HDL-c alone showing a prevalence of 52.4% (95%CI 47.7-57.0). High blood pressure was observed in 16.1% (95%CI 12.9-19.7) of the adolescents and obesity in 11.7% (95%CI 9.0-15.1). Seven percent (95%CI 5.0-9.9) concomitantly had three or more risk factors. No changes were observed in the prevalence of risk factors by gender. Adolescents in 2015 were more likely to have high blood pressure (OR=2.04; p=0.011) when compared to those in ISA 2008. Older adolescents were less likely (OR=0.83; p=0.024) to be obese and more likely (OR=1.22; p=0.027) to have a waist circumference above the recommendations and to have high blood pressure (OR=1.17; p=0.017). Individuals who declared themselves as non-white were less likely to meet the criteria for dyslipidemia (OR=0.59; p=0.018) and to have triacylglycerol above the recommendations (OR=0.58; p=0.012). Those whose heads of household had 10 years or more of schooling were less likely to have dyslipidemia (OR=0.54 p=0.004) and low HDL-c (OR=0.65; p=0.033). Adolescents who met the global recommendations for physical activity were less likely (OR= 0.48; p=0.045) to have high LDL-c.

Conclusion:

The results of this study highlight the high prevalence of cardiometabolic risk factors among adolescents in São Paulo, with dyslipidemia being the most common factor in addition to increasing the chance of high blood pressure between the years evaluated. Although no significant changes in prevalence were observed by sex, factors such as year of study, age, race/color, educational level of heads of household, and physical activity showed significant associations with the presence of different risk factors. These findings highlight the importance of preventive strategies aimed at these groups of adolescents to mitigate the risk of developing present and future cardiometabolic diseases.

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