A hipertrigliceridemia tem sido associada com o incremento no risco cardiovascular (CV). O impacto do gênero sobre o perfil lipídico e a progressão da aterosclerose carece de maiores evidências científicas. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do gênero e do risco CV sobre os efeitos do ômega-3 e do ciprofibrato na função endotelial e rigidez arterial em pacientes hipertensos com hipertrigliceridemia. Trinta hipertensos não diabéticos com triglicerídeos (TG) entre 150ꟷ499mg/dl foram selecionados para um estudo prospectivo, cruzado e randomizado para tratamento com 1800mg/dia de ácidos graxos ômega-3 ou de 100mg/dia de ciprofibrato durante 3 meses com um período de washout de 2 meses. Os parâmetros avaliados foram a pressão arterial (PA), a estimativa do risco de doença arterial coronariana (DAC), o índice de hiperemia reativa (RHI), a dilatação mediada por fluxo (DMF) da artéria braquial, a velocidade de onda de pulso carótida-femoral (VOP-cf) e as pressões aórticas. A média de idade da amostra foi de 54 anos (40–65 anos). Os resultados principais mostraram que ambas as terapias foram efetivas na redução dos TG (queda de 39% na terapia com ciprofibrato e de 21% com ômega-3). No entanto, a queda dos TG foi maior entre os homens (-90mg/dl, p≤0,001) para ambas intervenções enquanto somente o tratamento com ciprofibrato diminuiu os TG nas mulheres (-100mg/dl, p≤0,001). A PA sistólica periférica (144 para 133mmHg vs 129 para 123mmHg), o colesterol total (214 pra 199mg/dl vs 230 para 193mg/dl), a razão TG/HDL (7,1 para 4,1 vs 7,0 para 4,2) e o risco de DAC (15 para 11% vs 6 para 4%) foram significativamente reduzidos após tratamento com ômega-3 em homens e após tratamento com ciprofibrato em mulheres, respectivamente. Houve ainda uma maior redução na VOP-cf (10,3 para 9,4m/s, p<0,05) e na pressão aórtica sistólica (131 para 123mmHg, p<0,05) somente em homens tratados com ômega-3 enquanto que mulheres tratadas com ciprofibrato apresentaram aumento no RHI (1,8 para 2,3unidades, p<0,05) e HDL-C (39 para 44mg/dl, p<0,05). Após estratificação dos indivíduos pelo risco CV, pacientes de alto risco (≥7,5%) tratados com ômega-3 apresentaram queda na VOP-cf (10,4 para 9,4m/s, p<0,05) e incremento na DMF (11,1 para 13,5%, p<0,05). Menores níveis da PA periférica (131±84 para 125±79mmHg, p<0,05), colesterol total (204 para 179mg/dl, p<0,05) e da pressão aórtica sistólica (124 para 118mmHg, p<0,05) foram observados ao final da intervenção com ciprofibrato em pacientes de baixo risco CV (<7,5%). Houve ainda neste grupo de pacientes um aumento significativo na DMF com a terapia com ômega-3 (10,1 para 13,5%) e com ciprofibrato (8,7 para 14,0%). Em conclusão, a queda dos TG em mulheres tratadas com ciprofibrato foi associada com a melhora da função endotelial enquanto que o ômega-3 resultou em efeitos benéficos na rigidez arterial nos homens, sugerindo a diferença de gêneros no tratamento da hipertrigliceridemia. Além disso, o tratamento ativo com ômega-3 se associou com a melhora da rigidez arterial e da função endotelial em pacientes hipertensos hipertrigliceridêmicos com alto risco CV, destacando o papel benéfico desta terapia sobre os marcadores precoces de aterosclerose nesta população