Epidemiologia da desnutriçäo: teoria e prática
Publication year: 1989
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de Säo Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Departamento de Nutriçäo to obtain the academic title of Doutor. Leader:
O objetivo geral deste trabalho é contribuir para o desenvolvimento tanto da Epidemiologia, campo de investigaçäo do processo saúde-doença na sociedade, como do conhecimento epidemiológico sobre a desnutriçäo protéico-energético (DPE) em crianças brasileiras. Procurou-se aplicar a interpretaçäo materialista-histórica na construçäo de um modelo teórico explicativo da ocorrência endêmica da DPE. Esta análise teórica orientou a elaboraçäo de um diagnóstico conjuntural e também a escolha de características individuais e familiares que melhor expressasse o vínculo das condiçöes biológicas com as sociais. Os dados empíricos referem-se às crianças menores de dois anos de uma amostra de 12 por cento da populaçäo civil näo institucionalizada da cidade de Botucatu-SP. Foram colhidos no período compreendido entre abril de 83 a março de 84, por um inquérito antropométrico-social executado mediante entrevistas domicialiares. O estado nutricional foi avaliado pelo perfil do crescimento (distribuiçöes centilares do comprimento/idade e do peso/comprimento em relaçäo ao padräo NCHS/USA), e pela prevalência da DPE (deficiência de peso, segundo Gómez, em relaçäo ao padräo Santo André IV). Utilizaram-se as informaçöes sobre a idade da criança, os rendimentos familiares, a escolaridade da mäe e o peso ao nascer para analisar o estado nutricional. O estado nutricional encontrado mostrou-se compatível com as condiçöes de desenvolvimento locais e regionais, expressando um padräo médio de consumo alimentar e de outros bens básicos melhor do que o observado em outras regiöes brasileiras. Encontrou-se risco de DPE a partir dos seis meses de idade semelhante ao encontrado para o segundo ano de vida. Explicou-se tal achado pelo maior grau de exposiçäo das crianças daquela faixa etária a conjuntura mais adversa do período em foco. Rendimentos familiares inferiores a 1,28 salários-mínimos "per-capita", escolaridade materna inferior ao primário (menos que 4 anos) e peso ao nascer inferior a 2.500g mostraram-se associados a maiores riscos de DPE. Rendimentos familiares de 1,5 ou mais salários-mínimos "per-capita" e escolaridade superior (12 ou mais anos) mostraram-se isentos de DPE moderada, grau II. Peso e comprimento mostraram-se correlacionados diretamente com o peso ao nascer, mais fortemente para menores de 1 ano e para rendimentos familiares de 1 salário-mínimo "per capita" ou mais. Recomendou-se o esclarecimento das relaçöes do tipo de parto com peso ao nascer e aleitamento materno...