Considerando-se os estudos que constatam a desigualdade social na distribuiçäo do processo saúde-doença e procurando-se retomar esta análise a partir das novas contribuiçöes sobre a determinaçäo social da enfermidade, trazidas a Epidemiologia, desenvolveu-se um estudo acerca da prevalência da morbidade e do consumo de medicamentos em relaçäo a estrutura de classes de uma populaçäo urbana. Infromaçöes demográficas e sócio-econômicas, assim como as relativas a presença de doenças e ao consumo de remédios, foram obtidas de uma amostra da populaçäo de Ribeiräo Preto, como parte do projeto de "Morbidade e Consumo de serviços de Saúde por meio de Entrevistas Domiciliárias", desenvolvido no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiräo Preto da Universidade de Säo Paulo. Os dados obtidos permitiram discriminar as classes sociais e freçöes de classe no universo pesquisado; os critérios utilizados para tal discriminaçäo foram basicamente "posiçäo na ocupaçäo" e tipo de ocupaçäo"; secundariamente, o "umero de empregados" e o "rendimento mensal do chefe de família" foram tomados para segregar, entre os proprietários, aqueles que compoem a fraçäo da burguesia empresarial. Algumas características gerais dos processos de morbidade e de consumo de serviços de saúde, que afetam a populaçäo globalmente, foram analisados ao nível do conjunto da amostra investigada. Constatou-se, assim freqüência bastante elevada das práticas de automedicaçäo (apenas 30,8% dos medicamentos foram adquiridos mediante uma receita médica), sem que se possa justificá-la por carência de recursos médicos (a cidade constitui um centro regional de assistência médica). As práticas tradicionais de cuidado a saúde, como uso de remédios caseiros e a procura de benzedores, mostraram-se deslocados pelo consumo intenso de medicamentos industrializados, verificado na automedicaçäo...