Pesquisa realizada entre 1990-93, na cidade do Rio de Janeiro, em áreas de prostituiçäo de travestis. Analisa os modelos de explicaçäo sobre AIDS utilizados por estes atores sociais, sua influência em determinadas formas de conhecimento e o impacto destas no processo epidêmico. Os resgate das representaçoes coletivas sobre AIDS, sob enfoque qualitativo, através da construçäo de uma situaçäo etnográfica, permite a reconstruçäo do discurso dos sujeitos dentro de instâncias médicas e sociais. Propicia um contexto de análise de caráter interpretativo (hermenêutico) sobre o modo de vida dos travestis e contexto de formaçäo de entendimento, comportamento e açäo acerca do fenômeno AIDS.

Os resultados foram:

a) para os travestis a AIDS estaria ligada a sinais visíveis sobre o corpo e sintomas aparentes, aproximando-se dos modelos científicos de reconhecimento das DSTs; b) as estratégias de prevençäo decorrentes dessa identificaçäo formal obscurecem a percepçäo dos infectados e dos portadores do HIV; c) a transmissäo, segundo os travestis, dependeria tanto de um corpo enfraquecido quanto a ruptura das defesas ou barreiras externas e internas do corpo; d) a noçäo de vírus é transposta para a de agente invasor, pela ausência de uma visäo dimensional microscópica. Mostra que travestis estavam expostos à infecçäo por HIV dado seu inadequado conhecimento sobre AIDS e sua inserçäo na atividade de prostituiçäo. Eles fazem parte de um complexo círuculo de circulaçäo social do vírus da imunodeficiência humana e da disseminaçäo da AIDS na sociedade. Em síntese a AIDS é, para os travestis, um universo compreendido a partir recursos conceituais comuns à populaçäo em geral, porém circunscrito (ou com maior ênfase) ao discurso médico, ético e normativo que percorre a prostituiçäo.