Estuda a epidemia de cólera no distrito de Villa El Salvador, em Lima, cuja comunidade tem uma rica trajetória de organizaçäo e participaçäo comunitária em saúde. As açoes de controle da epidemia foram desenvolvidas em conjunto entre a organizaçäo comunitária (CUAVES), o Ministério da Saúde, a Prefeitura, ONGs, a Igreja e outras organizaçoes locais. Foi utilizada uma abordagem qualitativa e os conceitos centrais de "epidemias como eventos sociais", hegemonia, legitimaçäo, conformismo e resistência. Foi aplicada uma entrevista semi-estruturada a 9 lideranças comunitárias da CUAVES que participaram das açoes de controle e a 5 representantes do Estado e ONGs. Elementos historiográficos e epidemiológicos foram reconstruídos consultando documentaçäo institucional e jornais. Analisa o discurso e as práticas sociais das lideranças entrevistadas e da sua organizaçäo, situando-as no contexto de deterioraçäo geral das condiçoes de vida, violência política e extrema escassez de água. Identifica um conjunto de representaçoes sociais a respeito da origem e curso da epidemia, do papel das diferentes instituiçoes e organizaçoes que atuaram no distrito e no futuro comportamento da endemia. Analisa as contraditórias relaçoes entre as práticas sociais e os discursos assim como o sofrimento que causava o contraste entre a vida sob carências extremas e as exigências colocadas pela estratégia oficial. Discute indícios do processo de hegemonia que foram captados através da análise do discurso e práticas de controle da doença, bem como as evidências de uma mudança no discurso e práticas sobre saúde que esta comunidade desenvolveu desde seu surgimento em 1971 e a relaçäo entre essa mudança e a transformaçäo neoliberal do país.